De meias

Já notaram que quando as pessoas chegam em casa, elas tiram os sapatos? A casa é o lugar em que se sentem seguras, confortáveis, onde podem demonstrar as suas vulnerabilidades. O setting terapêutico funciona da mesma forma, ou pelo menos, deveria funcionar. Quando meus pacientes, principalmente as crianças, chegam e tiram os sapatos, eu sei que estou trilhando o caminho certo. A psicologia precisa quebrar tabus, revelar seus mitos que dificultam nosso trabalho, criam barreiras entre os dois seres ali presentes.

Nesse aspecto, a DBT me ajudou a destruir essas barreiras. O princípio do não-julgamento é o que nos faz reduzir esse abismo. Quando o paciente tem medo do julgamento do terapeuta - a única pessoa que mantém uma relação de total sigilo com ele - deixa de se abrir totalmente, guardando para si informações que poderiam fazer toda diferença no bom andamento daquele tratamento.

Outro dia, entrei na sala do meu terapeuta e o encontrei de meias. Fiquei impactada, mas ao mesmo tempo, soube que era bem vinda ali, assim como as crianças que chegam ao meu consultório e são recebidas com toda compaixão que tenho para dar. Imediatamente, tirei meus sapatos e iniciamos a sessão.

Quando receber um paciente, portanto, não precisa tirar os sapatos, se não quiser. Basta recebê-lo com bondade amorosa e sem julgamentos. Permita-se entendê-lo pelo que realmente é, longe da perfeição, bem como nós, terapeutas, estamos tão longe quanto. E lembre-se, não somos donos do saber, mas podemos sempre correr atrás dele, sem mitos e sem tabus, para construirmos uma psicologia mais humanizada.