DEBATE EM ABERTO
Em uma instituição de ensino no RJ, ministro aulas de História do Pensamento Econômico, o que me permite um bom embasamento para o debate econômico.
De forma resumida o debate hoje na academia (no meio acadêmico) se divide entre os heterodoxos - nas suas várias linhagens, correntes, mais ligados às universidades públicas, como UFRJ, UNICAMP, UERJ, UFSC, etc - e os ortodoxos, também nas suas várias linhas teóricas, mais ligados à algumas universidades privadas, como FGV-EPGE no Rio de Janeiro, PUC-RJ, INSPER (SP), IBMEC (RJ), etc.
Nos primeiros, herdeiros de John Maynard Keynes (economista dos anos 40, pai da Macroeconomia), predomina um maior "ativismo" do setor público, mais intervenções do Estado na economia de mercado e uma série de digressões sobre como adotar políticas públicas na economia. Nesta corrente teórica, suas soluções são "mais originais", mais fora das regras "estabelecidas" na aplicação das políticas públicas. Tem-se nesta o esforço do Estado de intervir na economia, havendo certo ceticismo sobre as possíveis "soluções de mercado". Muito se comenta, inclusive, que boa parte das políticas públicas, empregadas entre o primeiro e o segundo mandato do governo Dilma, teve grande influência dos chamados heterodoxos, ligados neste caso, à Universidade de Campinas (UNICAMP) e influenciados pelos chamados "novos desenvolvimentistas". Para eles, seriam necessárias políticas públicas ativas, importantes para estimular a economia, que cresceria gerando depois receitas e um melhor desempenho fiscal. Algumas das suas soluções, no entanto, como as "pedaladas fiscais", uso de bancos públicos para financiar os gastos do governo federal, leniência com a inflação, política anti-cíclicas, como as desonerações nas empresas, acabaram não logrando êxito.
Pelo lado dos ortodoxos, temos algumas escolas de pensamento que se encontram, partindo mais da escola monetarista, na chamada Universidade de Chicago. São mais ligados às escolas neo-clássicas, mais afeitas a microeconomia, ao equilíbrio econômico e a formalização de modelos.
Enquanto os heterodoxos, são mais cientistas sociais, baseados em análises histórico-descritivas, uma interpretação sobre a dinâmica capitalista no tempo, os ortodoxos usam mais a estática comparativa e são mais afeitos ao formalismo dos modelos macrométricos, importantes, em algumas situações, para tornar a análise mais enxuta e consistente.
Não acredito que a primeira seja predominante, nem a segunda.
Acho, isso sim, importante extrair o que cada uma das correntes teóricas têm a mais para contribuir ao debate. Talvez, o melhor caminho seja uma "terceira via", um caminho na qual a experiência seja mais importante, numa leitura mais baseada em análises de cases de sucesso. Ou seja, países que conseguiram avançar mais, com mais racionalidade e pragmatismo na aplicação de políticas públicas.
A verdade é que na análise macroeconômica, alguns consensos, com o tempo, parecem já estar estabelecidos. Não dá para "reinventar a roda". As políticas, monetário e fiscal, devem operar em complementaridade. A primeira, importante por monitorar a demanda e os riscos inflacionários; a segunda, essencial para estimular a demanda, mas também enxergar na oferta, possibilidades de melhor escoar a produção, aumentando a produtividade e melhorando o ambiente de negócios.
O debate está em aberto. Aguardo contribuições e indagações.