A Decisão Impossível #8

A Decisão Impossível #8

Se você tivesse que escolher entre uma viagem no final de semana para um destino relaxante e divertido ou ficar em casa vendo televisão, assistindo aquela série batida que você já viu não sei quantas vezes, o que você escolheria? Não precisa ser nenhum gênio para adivinhar que você vai escolher a viagem. Afinal de contas, é uma decisão muito simples: algo muito bom em comparação com algo mais ou menos.

Este texto foi inspirado em algumas edições da newsletter de Victor Cheng. Victor Cheng é consultor estratégico e especialista em negócios, com aparições em diversos veículos de comunicação. Recomendo fortemente que você o siga para conteúdos muito interessantes.

Agora vamos para outro cenário. A mesma viagem relaxante e divertida ou ingressos para ver o show da sua banda favorita, que nunca vem ao Brasil e passará aqui uma única vez. Bom, agora são duas opções boas. Você pode ficar na dúvida, se perguntar o que quer fazer ou não, mas, eventualmente, qualquer decisão será uma boa decisão. Você ficará feliz, não importa a escolha que tome.

Esses dois cenários são exemplos de tomadas de decisão relativamente simples.

O problema chega quando temos que decidir entre duas opções muito ruins. Aí é que a porca torce o rabo.

Neste caso, as pessoas perdem a capacidade de raciocinar com clareza e, mesmo pessoas extremamente lógicas e analíticas, se perdem completamente. Isso acontece porque, neste cenário específico, nossas emoções entram em campo.

Recapitulando rapidamente os cenários que temos até agora:

  • Cenário 1: Entre uma boa opção e uma opção ruim, todos geralmente escolhem a boa opção.
  • Cenário 2: Entre duas boas opções, a maioria das pessoas pensará um pouco, mas não terá tantos problemas em escolher uma, já que ambas são ótimas.

Já no próximo cenário, é o onde as coisas ficam complicadas:

  • Cenário 3: Entre duas opções igualmente ruins, a maioria das pessoas não consegue se decidir. Elas simplesmente congelam.

Se pensarmos de maneira racional, o Cenário 2 e o Cenário 3 são equivalentes. Ao nos depararmos com duas opções de igual valor - boas ou ruins -, podemos discutir o quanto quisermos, mas, no fim, qualquer uma das escolhas será igual.

Apesar de não fazer sentido do ponto de vista lógico, precisamos lembrar que nós, humanos, não somos seres racionais 100% do tempo. Não importa o quão inteligente uma pessoa seja, quantos diplomas tenha, quanto dinheiro tenha no banco ou quão boas foram suas notas no vestibular.

Todos nós perdemos a capacidade de pensar logicamente quando estamos sob algum tipo de estresse emocional. E caso você, leitor, acredite que isto não acontece com você, sinto lhe informar, mas você está errado.

Todos enfrentamos algum tipo de problema emocional uma hora ou outra. A questão é se você está ciente ou não de como este estresse afeta você e sua tomada de decisão.

No Cenário 2, quando estamos decidindo entre duas opções igualmente boas, é certo que escolheremos qualquer uma delas. Se você ganhar na Mega Sena e tiver a opção de ganhar R$ 100 milhões em dinheiro vivo ou em barras de ouro, provavelmente você não se sairá mal escolhendo qualquer uma das duas opções. Apenas coloque o prêmio no bolso e comece seu ano sabático!

No entanto, no Cenário 3, onde temos que escolher entre duas opções igualmente ruins, temos que reconhecer que o que está em jogo é a comparação com o status quo, e é isso que está te afetando.

O que há de diferente no Cenário 3 é que, muitas vezes, temos a ilusão de que podemos simplesmente não optar por nenhuma das duas opções.

Pare, leia de novo a frase anterior e reflita….

Imagine o seguinte caso. Você contraiu uma infecção grave e tem a opção de amputar uma das pernas ou então fazer um tratamento experimental que irá curar a infecção, mas causará danos cerebrais moderados. Qual delas você escolhe? Perder uma perna ou perder a cabeça?

Neste exemplo, claramente não há boas opções. Então, o que a maioria das pessoas faz? Elas simplesmente adiam a decisão e se recusam escolher qualquer uma das opções. Ou seja, elas entram em negação.

Num exemplo menos mórbido, imagine que sua empresa está com sérios problemas financeiros e atingiu uma situação insustentável. Você precisa decidir se toma mais dinheiro emprestado, o que aumentará ainda mais suas dívidas, ou demitir boa parte dos funcionários. Nesse caso, se você esperar muito, acabará ficando sem dinheiro e precisará declarar falência.

Mesmo parecendo difícil, existe uma maneira de melhorar nossa capacidade de tomar decisões ao nos depararmos com o Cenário 3. E, por incrível que pareça, ela é mais simples do que você pensa.

Quando estamos diante de duas opções igualmente ruins, o que devemos fazer é, simplesmente, escolher a menos ruim. Simples assim.

Veja, eu disse simples, mas não disse fácil.

A maioria das pessoas, especialmente as bem-sucedidas, está acostumada a situações em que deve escolher a melhor opção. Entretanto, em situações em que as opções são ruins, não existe uma melhor opção.

Neste caso, as pessoas simplesmente ficam sem saber o que fazer e continuam num ciclo sem fim na procura pela melhor escolha. O problema é que ela não existe!

Então, se pusermos em prática a sugestão acima, ao nos depararmos com duas péssimas opções num contexto igualmente ruim, precisamos, primeiro, aceitar que não existem boas opções e simplesmente escolher a menos ruim.

E, geralmente, escolher a opção menos ruim rapidamente traz resultados melhores que não escolher entre nenhuma opção e deixar que a situação se deteriore, ou escolher a opção menos ruim tarde demais.

Nestes casos, a velocidade é sua aliada. Uma escolha terrível feita de maneira rápida e tratada bravamente tem mais chances de reverter uma situação ruim.

Por exemplo, se você tem uma doença terminal e pode escolher entre duas péssimas opções de tratamento, é melhor jogar uma moeda para cima e escolher uma opção agora do que esperar 2 anos por uma opção melhor. Ou então, se você está passando por uma crise financeira e tem duas opções possíveis, porém difíceis, para dar a volta por cima, é melhor tomar uma decisão e escolher uma das opções agora do que esperar 12 meses sem fazer nada.

Você pode ter lido todo esse texto e achar que é terrivelmente óbvio e que isso não se aplica a você. Se este for o caso, na próxima vez em que estiver numa situação de escolha entre duas péssimas opções, te convido a parar por um minuto e pensar nas 3 questões abaixo:

  1. Reconheça que está diante de uma situação pior do que estava ontem e todas as opções são péssimas. Ou seja, aquele status quo já não existe mais. Agora você precisa olhar para frente.
  2. Qual das péssimas opções parece ser a menos ruim? (note que a pergunta não é “qual das opções parece melhor”).
  3. O que posso fazer imediatamente após tomar uma decisão para começar a melhorar minha situação futura?

Acredito que estas questões te ajudarão a olhar suas escolhas de uma maneira diferente e te ajudarão a sair do lugar.


Você já passou por alguma situação em que teve que escolher entre duas coisas muito ruins? Me conte aqui como foi e o que sentiu.



Mais uma edição da newsletter "Além do Manual".

Gostou? Quer sugerir um tema para a próxima edição? Comente aqui embaixo ou me mande uma mensagem.

Um abraço e até a próxima!

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