Decisão, uma Atribuição da Liderança

As decisões são ações individuais construídas coletivamente? Ontem após uma conversa com a minha equipe, me peguei refletindo sobre isso.

Não me proponho a responder a pergunta, mas compartilhar com vocês meus pensamentos.

Tomar decisões é uma das prerrogativas mais importantes da liderança, bem como a responsabilidade sobre as suas consequências e derivações. No entanto, a construção das propostas e caminhos possíveis devem partir do trabalho coletivo, fruto de um debate que considere a pluralidade das ideias e perspectivas, tendo humildade de acolher e escutar ativamente as demais opiniões.

Ainda que o processo seja conduzido de forma exemplar e que considere todas as diferentes dimensões que nos possibilitam enxergar as melhores ações, a responsabilidade de definir o caminho a seguir sempre será da liderança.

Quando um líder se furta desta função, abdica do seu papel fundamental, delegar ao coletivo uma decisão é um equívoco comum e muitas vezes se dá como uma forma de fugir da responsabilidade que advém da escolha.

Percebo, até com certa frequência que uma má escolha é atribuída ao coletivo, criando uma falsa sensação de isenção das críticas de quem esperava outro caminho ou da responsabilidade pelas consequências, “afinal não fui eu quem decidiu foi o grupo”. Penso que esse desvio é uma ilusão efêmera que apenas demonstra nosso medo e incapacidade de liderar a nós mesmos, além de enfraquecer e desrespeitar a todos que nos ajudaram a construir os cenários possíveis.

Não tomar decisões nos coloca na posição incomoda de vítima das circunstâncias.

Outra armadilha é pensar que não podemos errar. Em nossa cultura o erro é visto como vergonha, mas se analisarmos os maiores líderes da história todos sem exceção tomaram decisões ruins em algum momento. E usaram esses erros como plataforma de evolução. Não podemos ignorar nossa humanidade, é preciso ter clareza que somos falíveis e aceitar que o erro faz parte do processo de amadurecimento.

Certa feita em uma entrevista de emprego pedi a um candidato que me contasse pelo menos duas decisões de sucesso que ele havia tomado em sua carreira, a resposta veio fácil e eloquente, cheia de detalhes, logo na sequencia pedi pelo menos outras duas decisões equivocadas e o que ele aprendeu com elas. Houve um hiato de silencio, seguido por uma resposta curta "nunca errei"... pois bem errou agora...

O exemplo deste candidato é real e se revela como um espelho para as nossas próprias fantasias de perfeição e infalibilidade que nos afastam das melhores escolhas, pois a lente do ego obscurece nossa visão. É preciso aceitar nossa humanidade, aceitar que sentiremos medo e insegurança e entender que esses sentimentos fazem parte de nós, de todos nós, e essa consciência nos fortalecerá e impulsionara a seguir adiante.

Ou seja, decidir exige consciência de si próprio, empatia, disciplina e treino.

Começando com pequenas coisas e evoluindo para questões maiores. Eu gosto de pensar na minha própria vida, e uso uma pergunta orientadora para me ajudar a entender a minha responsabilidade pelo meu caminho “o que na minha vida não foi minha escolha?” Posso assegurar, sem muita chance de errar que pelo menos 98% de tudo são fruto das nossas escolhas. Convido a você que chegou até aqui a refletir sobre isso.

Outra questão, que aprendi com um grande amigo e que desde então levo em consideração é se "daqui a 10 anos terei orgulho desta decisão?" deixo a resposta com cada um de vocês.

Penso que decidir é assumir a responsabilidade sobre nossas escolhas e suas consequências, sejam elas boas ou não. Requer caráter para manter a congruência com nossos valores, coragem para enfrentar as críticas de quem pensava diferente, exige conhecimento e dedicação para estudar e compreender o contexto onde a decisão será tomada, humildade para saber que nem sempre iremos acertar e principalmente a consciência de que esse é o seu papel enquanto líder.

Pior que uma má decisão é não decidir.