Definitivamente, eu não sou uma impostora
Poucos dias antes de ser decretada a quarentena, uma amiga -muito querida- da faculdade me mandou uma mensagem no Whatsapp. Ela queria contar que foi chamada para uma entrevista de trabalho, para a redação de uma agência de notícias, e perguntou se eu já havia trabalhado lá. Provavelmente lembrou de ter me ouvido falando sobre na faculdade. Primeiro afirmei que sim, havia trabalhado lá. Depois, demonstrei felicidade pelo convite que fizeram a ela. Era bem importante uma proposta naquele momento. Conversamos bastante, contei da minha -breve- experiência lá e como me sentia em casa. Falei das pessoas queridas e do fluxo. Ela me pediu dicas sobre o que fazer na entrevista, se tinha algo específico que eu achava que deveria ser falado. Eu a elogiei muito pela mulher capaz, inteligente e forte que ela é (porque ela é mesmo) e a expliquei que não precisava de nenhuma dica minha, pois ela iria se sair perfeitamente bem. Como resposta, ela disse que era muito bom ler isso, principalmente vindo de mim (?). Tentei não demonstrar, o famoso “fingir costume”. Mas, no fundo, eu estava com coração quentinho por ela ter me pedido isso, mostrando que também me admirava e minha opinião profissional era importante.
Ela saiu da entrevista admitida. Na verdade, nem queriam que ela saísse de lá e começasse a produzir no mesmo dia. Adoraram ela. Quando me contou fiquei tão feliz quanto ela. Sei que os tempos não estão fáceis e ali estava ela: com emprego novo, na área dela e num lugar muito bacana. Todo mundo saia ganhando.
Dias depois, ela me mandou outra mensagem dizendo que criou um LinkedIn e me pediu para avaliar. Disse algo sobre eu entender disso e que minha opinião valeria muito. Novamente, o coração aqueceu por eu ser uma “referência” profissional para ela. Imediatamente lembrei de uma mensagem que recebi também no LinkedIn há alguns meses. Era um menino que eu não conhecia, dizendo que ingressou agora na área de dados e queria fazer parte das minhas conexões, pois como eu era “uma analista de BI conhecida” ele queria acompanhar meu trabalho. Palavras dele, eu jamais falaria isso de mim, por motivos óbvios.
Numa noite dessas fiquei pensando nestes dois acontecimentos e lembrei de outra conversa que tive com o pessoal do trabalho sobre a tal “síndrome do impostor”. Foi nesse dia que descobri o que isso significava. Descobri também que tinha mais uma síndrome na minha lista. Ela sempre esteve lá, eu só não sabia do que chamá-la.
A síndrome do impostor é, basicamente, quando a gente acha que não é bom o suficiente, mesmo nos esforçando muito. É quando a gente acha que não merece o cargo que tem. É quando a gente se pergunta se de fato merecemos aquele salário e se questiona se não tem pessoas mais capazes para estarem no seu lugar. É quando, assim como eu, você não percebe o quanto trabalhou e de fato merece estar ali. Eu, particularmente, me divido entre me achar capaz e não me levar muito a sério. Achar que lutei muito por tudo que tenho e sou, e não acreditar na minha autossuficiência.
A mensagem da Maíra me fez perceber que existem pessoas que me admiram, como pessoa e profissional. A mensagem do menino do LinkedIn (que não lembro o nome) me mostrou que tem gente que nem conheço mas que conhece o meu trabalho. Mais do que isso, me conhece e me acompanha. Como não ficar feliz por isso? Como não reconhecer e ser grata por todo caminho que trilhei até aqui?
Hoje, decidi não deixar que ninguém me diga que eu não posso fazer algo ou não mereço o lugar onde estou. Nem eu mesma. Definitivamente, eu não sou uma impostora. Eu mereço estar aqui.
Jornalista | Conteúdo digital | Roteiro | Reportagem
4 aVocê é uma mulher incrível, que saiu da sua zona de conforto e veio se aventurar numa cidade onde não conhecia praticamente ninguém. Você merece estar no lugar que está e em muitos outros. Eu te amo e fico feliz demais por ver que se reconhece assim. Você vai ganhar o mundo e não é de hoje que eu falo isso. Se valorize. Estamos juntas. Obrigada por tudo ❤️