Deixar de empurrar a poupança com a barriga
Artigo de opinião de Filipa Rendo, jornalista e coordenadora editorial

Deixar de empurrar a poupança com a barriga

Os números cansam de tão repetitivos, previsíveis e desapontantes. Portugal continua a ostentar uma das taxas de poupança mais baixas da zona euro – 5,7% –, contra 14,8% da média europeia. As exceções têm acontecido, qual efémera, em períodos de crise. O último pico nasceu da pandemia, com a poupança a atingir 13,8%, mas em queda, desde então. As razões são várias, exaustivamente diagnosticadas e discutidas, mas ficando, quase sempre, a sensação de estarmos perante uma “pescadinha de rabo na boca”...

O último pico nasceu da pandemia, com a poupança a atingir 13,8%, mas em queda, desde então,

Um impasse que, não sendo nem de fácil nem de rápida resolução, urge ser desbloqueado. Cabe, inevitavelmente, ao Estado assumir-se como motor da solução. Por isso, no mês em que se discute a proposta do Orçamento do Estado para 2024, os especialistas da DECO PROTeste elencaram um conjunto de medidas fiscais que fomentariam a poupança dos consumidores.

No mês em que se discute a proposta do Orçamento do Estado, os especialistas da DECO PROTeste elencaram um conjunto de medidas fiscais que fomentariam a poupança dos consumidores.

Aumentar o rendimento disponível é incontornável e, para isso, também a diminuição da carga fiscal sobre os rendimentos mensais. A proposta do Orçamento parece responder-lhe com a descida das taxas de IRS nos primeiros cinco escalões de rendimento.

Mas não basta aliviar a carga fiscal das famílias. É essencial assegurar que dispõem de um fundo de emergência para imprevistos. Um produto de curto prazo com incentivos fiscais não só permitiria estimular a constituição dessa almofada financeira, como evitar que resgatassem aplicações destinadas à reforma, em caso de necessidade.

É essencial assegurar que as famílias dispõem de um fundo de emergência para imprevistos.

E olhando para o longo prazo, é necessário reabilitar os PPR. Findo o contexto de emergência atual, em que as famílias se socorrem do dinheiro amealhado nestes planos para lidarem com dificuldades financeiras, é crucial criar condições para que sejam repostos os saldos resgatados. Por exemplo, através de outros benefícios fiscais. Sob pena de se hipotecar o verdadeiro propósito destes produtos... Os PPR não podem deixar de ser vistos como uma aposta para o futuro, como um complemento para a reforma.

Findo o contexto de emergência atual, em que as famílias se socorrem do dinheiro amealhado em PPR para lidarem com dificuldades financeiras, é crucial criar condições para que sejam repostos os saldos resgatados.

Na expectativa de que sejam refletidas neste Orçamento, a DECO PROTeste fez chegar estas e outras propostas (que pode ler na edição de outubro da PROTESTE INVESTE) ao Ministério das Finanças e aos grupos parlamentares. Porque a poupança não pode continuar a ser empurrada com a barriga.

Na expectativa de que sejam refletidas neste Orçamento, a DECO PROTeste fez chegar estas e outras propostas ao Ministério das Finanças e aos grupos parlamentares.

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