Demanda global aflige setor de bens de capital


Desempenho positivo é puxado por exportações, mas perspectiva de queda da procura externa torna recuperação do mercado interno essencial para fabricantes de máquinas e equipamentos

Jornal DCI RICARDO CASARIN • SÃO PAULO Publicado em 26/09/18

A indústria de máquinas e equipamentos cresce graças às exportações, mas demonstra preocupação com a perspectiva de queda da demanda global, tornando urgente a recuperação do mercado interno.

“Anteriormente, a desvalorização do real compensou a queda do mercado interno, favorecendo as exportações. Porém, a tendência é que não tenhamos a demanda externa tão aquecida como em 2017 e 2018. O mercado mundial tende a cair e é fundamental que o País volte a crescer”, avalia o diretor de competitividade da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Mario Bernardini.

Em agosto, o mercado total teve alta de 11,9% na receita em relação a igual período do ano passado. De acordo com a entidade, contribuiu para o crescimento o forte aumento das exportações, que tiveram incremento de 68,5% em relação a julho e 41,6% sobre agosto de 2017. “As empresas que exportam estão se saindo bem, o mercado interno não cresce. O dólar está mais favorável e a indústria se torna mais competitiva”, explica presidente do conselho administrativo da Abimaq, João Carlos Marchesan.

Os segmentos que tiveram destaque nas vendas externas foram máquinas para petróleo e energia renovável, para bens de consumo e infraestrutura e indústria de base. “Devido a uma grande venda de equipamento para tratamento térmico para a Argentina, as exportações voltaram a ter desempenho positivo para América Latina e Mercosul no acumulado do ano”, conta o economista da Abimaq, Maurício Medeiros, que ressalta que a situação econômica do país vizinho segue preocupando.

O presidente executivo da Abimaq, José Velloso, destaca os resultados da campanha da entidade para facilitar a exportação para pequenas e médias empresas. “Temos o programa Esforço Exportador, que é um trabalho para abrir mercados e auxiliar empresas desse perfil. Há dez anos, apenas 200 empresas associadas à Abimaq exportavam, agora são quase 850, mais da metade.”

Velloso acredita que é necessário criar uma cultura de exportação no País. “Mesmo o agronegócio enfrenta gargalos de infraestrutura, logística e câmbio que dificultam os embarques. Imagina como é para os outros setores?”

Câmbio e eleições

Para Bernardini, embora a incerteza política causada pelas eleições influencie nas variações cambiais mais abruptas, a atual desvalorização do real ante o dólar tem mais influência externa. “A curva do real acompanha a de moedas de outros países emergentes, influenciada pela disputa comercial entre Estados Unidos e China. A questão política causa especulações na ponta, mas depois há reajuste. Hoje o patamar é de R$ 4, qualquer variação acima ou abaixo tende a ser corrigida.”

Marchesan também não acredita que o resultado das eleições possa trazer grandes alterações ao atual patamar cambial. “Passamos por um período de instabilidade, devido à situação fiscal e política do Brasil, mas também pelo mau humor no mercado, causado por essa disputa entre China e EUA. Mas não devemos ver turbulências maiores a partir de agora, seja qual for o candidato vencedor das eleições presidenciais.”

A entidade evitou fazer qualquer projeção de crescimento para 2019. “Até aqui, acumulamos 5,9% de crescimento em 2018, desempenho dentro da nossa projeção inicial de 5% a 10%”, declarou Velloso.


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