Democratização da Educação no Brasil
Possíveis caminhos para a equidade racial e o fim do racismo estrutural
Segundo pesquisa do IBGE de 2019, 71,7% dos jovens brasileiros que abandonaram a escola são negros.
Precisamos falar sobre o racismo estrutural. Esse, que fundamenta as bases históricas da configuração social do Brasil, fazendo os olhos enxergarem com naturalidade a população negra sempre ocupando posições irrelevantes e atuando profissionalmente em funções que não possuem tanto prestígio social.
O mesmo que faz grande parte do imaginário brasileiro pensar "mas sempre foi assim", ao inferir que o maior contingente da população em situação de rua ou extrema pobreza se constituem de negros, ou dizer "somos todos iguais", quando convive diariamente com o abismo social entre negros e brancos.
Coincidência ou não, há dois dias atrás escrevi um texto sobre a democratização do ensino em nosso país, e lendo as notícias em meu feed, deparo com essa reportagem da Folha de São Paulo (segue link no fim desta publicação) , trazendo um dado estarrecedor: segundo pesquisa do IBGE de 2019, 71,7% dos jovens brasileiros que abandonaram a escola são negros. Um número bem expressivo, e que consegue explicar o porquê de a proporção de brancos brasileiros constituírem massivamente altos cargos em empresas, quando o mesmo IBGE quantifica a população negra como maioria populacional no Brasil.
Oras, se somos maioria populacional, por que não somos o maior número de frequentadores dos espaços culturais como teatros, galerias de arte e museus? por quantos médicos negros você já foi atendido? por que cargos de subalternidade são tidos como o lugar naturalmente destinado à população negra?
Estas inquietações podem ser melhor compreendidas se considerarmos como análise a história do Brasil no Período Colonial. Seguindo exemplo de países europeus e alguns americanos, inicia-se por aqui massivamente o sequestro do povo negro do continente Africano, para fins de realização de trabalho escravo. Como já sabemos, estas pessoas tiveram suas histórias apagadas e toda a vida pregressa, como nome, identidade e família, eliminados. É também do nosso conhecimento o tipo de tratamento a que foram submetidos, o que não carece repetição.
O ponto que pretendo chegar é que, este período histórico trás consigo reflexos até os dias atuais, e infelizmente, segrega de modo cruel pessoas de pele escura, lhes concedendo menos oportunidades e chances para adquirir melhores condições de vida e desfrutar de seus direitos enquanto cidadãos. Considerando que o racismo avalia e julga as competências de uma pessoa pela leitura do fenótipo (tom de pele, textura do cabelo, espessura do nariz e boca).
Cabe à escola vencer um dos maiores desafios educacionais contemporâneos: tornar-se um espaço acolhedor e que valorize a diversidade.
Como refleti no texto que produzi, implantar uma escola democrática, comprometida com a formação do sujeito, e pautada na efetiva participação cidadã que resulte no engajamento social, se caracterizam por potentes instrumentos para oportunizar chances iguais de êxito para todas as pessoas. Ainda, é necessário destacar que cabe à escola vencer um grande desafio educacional: tornar-se um espaço acolhedor, lutando pela conquista de um local em que sejam aniquilados quaisquer mecanismos de seleção ou distinção para o acesso e permanência do seu público com sucesso.
Acredito que estas medidas, aliadas à atuação efetiva do Estado para promover a equidade racial no país, podem enfraquecer este mal que tanto persiste em assolar os brasileiros, o racismo estrutural.
Assistente Social .
4 aExatamente artigo Ju, parabéns!
Engenheiro de planejamento
4 aO texto nos remete a uma reflexão profunda sobre algo histórico, infelizmente, no nosso país. o estereótipo de quem carrega uma pele que não seja branca. A classe dominante não é a maioria e esmaga de todas as formas aqueles que querem crescer. Educação no nosso país virou descaso. O negro no nosso país sempre foi sinônimo de desconfiança e se for "letrado", sobe mais um nível e vira ameaça. Excelente artigo Juliana. Parabéns!
Psicopedagoga, Pedagoga, Professora de Atendimento Educacional Especializado, Treinamento e Desenvolvimento, Diversidade e Inclusão.
4 aExcelente artigo! A sociedade brasileira tem como base uma formação social organizada pelo modo de produção capitalista, que em parte caracteriza-se como um fator determinante para que a universalização escolar não tenha se constituído até os dias atuais. Outro ponto importante é que herdamos uma sociedade cuja as condições sociais sempre desfavoreceram as pessoas negras, desde a colonização e pouca coisa mudou até então. Não adianta somente o acesso a escola, a reflexão está em: " Qual a qualidade da educação que se oferece no sistema público brasileiro?". Temos muito a melhorar....