Dengue no Brasil: Como a engenharia civil pode colaborar no combate ao Aedes Aegypti?

Dengue no Brasil: Como a engenharia civil pode colaborar no combate ao Aedes Aegypti?

O ESTADÃO divulgou hoje a assutadora quantidade de 2 milhões de possíveis casos de dengue no Brasil. Tiago Lavado, da redação do LinkedIn Notícias traz o investimento do Ministério da Saúde na ordem de 1,5 bilhão de reais para o combate contra a doença. Como cidadão brasileiro e engenheiro civil, convido meus colegas a refletirem acerca do papel da engenharia na mitigação dos focos de dengue, zica e chikungunya. Trago duas tecnologias existentes na engenharia civil pouco aplicadas no país, que ajudariam a retirar pneus e garrafas plásticas do meio ambiente, transformando-os em asfalto-borracha e blocos de alvenaria plástica, retirando do meio-ambiente materiais descartados que estariam acumulando água, atraindo o mosquito vetor das arboviroses mencionadas.

 De acordo com dados do SEST-SENAT, anualmente são descartadas cerca de 450 mil toneladas de pneus em território nacional, o que equivaleria a 90 milhões de unidades em carros de passeio. Sendo esse material descartado de forma equivocada, como se sabe, gera-se problemas sociais de ordem sanitária uma vez que cada unidade daqueles pneus pode se tornar criadouro do agente transmissor da dengue, da zika e da chikungunya, o Aedes aegypti (SEST-SENAT, 2019). Essas arboviroses impactaram negativamente na economia brasileiras em 2016 o valor de R$ 2,3 bilhões do PIB nacional (Teich V, Arinelli R, Fahham L., 2018).

A utilização de Asfalto Modificado por Borracha (AMB), também conhecido atualmente por Asfalto Ecológico ou Asfalto-borracha, tem sua história iniciada como uma solução de reparos nas ruas da cidade norte-americana de Phoenix, no Arizona. Desenvolvida por Charles H. Macdonald na década de 60, posteriormente foi aplicada em outras cidades dos Estados Unidos, África do Sul, China, Portugal e Austrália, devido suas bem sucedidas aplicações. No Brasil, teve-se início quase simultaneamente à aprovação do artigo nº 2 da resolução 258/99 do CONAMA - Conselho Nacional de Meio Ambiente, que proíbe o descarte indevido de pneu inservível, assim como sua queima em céu aberto. Gerando a necessidade de criar fins aos pneus (GRECA ASFALTOS, 2011).

A utilização do asfalto-borracha pela empresa pioneira neste tipo de técnica, a GRECA Asfaltos , só em 2019 retirou mais de 1,17 milhões de pneus inservíveis da natureza e os transformou em asfalto. Em 19 anos aplicando a técnica em território nacional, a empresa utilizou mais de 12 milhões de pneus descartados. A empresa estima que para uma pista de 7 m de largura, são utilizados aproximadamente 1.000 pneus por cada quilômetro de asfalto executado, o que indicaria mais de 12,4 mil km de asfalto executados. No entanto, no ano de 2019 o SEST-SENAT afirmou que o número anual de pneus inservíveis descartados equivale a 445 mil toneladas ou 90 milhões de unidades. Então seria possível pavimentar 90 mil quilômetros com material reciclado, o suficiente para pavimentar por completo, todos os anos a malha rodoviária federal, que de acordo com o Ministério da Infraestrutura (2019), possui 75,8 mil km de extensão.

Em estudo publicado pela Greca Asfalto (2009), é analisada a vida útil do recapeamento asfáltico realizado com concreto asfáltico convencional (AC) e em concreto asfáltico com ligante modificado com borracha (AB), através de técnica de ensaios acelerados utilizando-se simuladores de tráfego linear. Após os 523.000 ciclos de carga com 10tf a parte experimental da pesquisa foi encerrada e o asfalto-borracha apresentava condições muito superiores aos do convencional com 98.000 ciclos com a mesma carga. Assim, para efeito de pesquisa, o AB possui uma eficiência como retardador da reflexão de trincas em média 5,55 vezes maior do que o AC. Quanto aos custos só de primeira aplicação, o estado teria uma economia de 24% na utilização do asfalto borracha, em comparativo o asfalto CBUQ, sem contar com a maior durabilidade já exposta.

Em 2016, a Word Wide Found Nature realizou um estudo no qual se aponta produção de plásticos alcançando a marca de 396 milhões de toneladas métricas. O valor equivale a 52 kg de plástico por cada pessoa no planeta (World Wide Found for Nature, 2019). Em nosso país, segundo a Agência Brasil (2023), a produção de plástico em 2022 esteve acima da média mundial, 13,7 milhões de toneladas, o que equivale a 64 kg por pessoa no ano.

A BloquePlás, através da criação de Fernando Gónima, de um bloco plástico composto principalmente de Polipropileno e Polietileno de baixa densidade, chamado sistema Brickarp. Nesta técnica construtiva, são produzidos blocos e vigas com plástico recuperado do meio-ambiente por meio do processo de extrusão. A matériaprima é fundida por aplicação de calor, em seguida é injetada em um molde rígido e com dimensões precisas, e assim dar forma ao produto final (BLOQUEPLÁS, 2017). Este Sistema entrega um produto com 200 Mega Pascal de resistência, enquanto o bloco de concreto estrutural proporciona 8 Mega Pascal e o bloco de cerâmico convencional 4,1 Mega Pascal, quanto a custos, ele entrega 50% de economia ao comparar os outros dois concorrentes, além de 0% de absorvição de água e sem uso dela na preparação dos blocos, conforme Sales, J. G., Chaves, M. A. B., & Souza, T. S. (2022).

De acordo com a empresa colombiana Conceptos Plasticos S.A.S. (2022), que também produz blocos de alvenaria de vedação com plástico recolhido, o plástico como material primário possui ótimos benefícios estruturais para a construção civil, como um alto poder isolante e minimização da transmissão de energia, calor e fogo. A média de tempo para a construção de uma casa térrea com esses blocos é de aproximadamente 4 dias, tendo uma equipe de 3 adultos. Para que tenhamos uma idéia, a empresa informa que um tijolo de 50 cm equivale à 3,3 kg de material plástico reciclado. Além disso, o bloco possui uma estrutura leve, compacta e flexível, dando ao engenheiro ou construtor a opção de trabalhar com blocos maiores ou menores deviso seu sistema modular que permite a expansão da forma. A empresa já reciclou mais de 3 mil toneladas.

As duas tecnologias apresentadas podem trazer não apenas os beneficios diretos à sustentabilidade ao retirar milhões de toneladas de pneu e plástico do meioambiente, mas também renda para os mais de 800 mil catadores no Brasil. Praticar em larga escala esses tipos de tecnologia, podem possibilitar o investimento de R$ 2,3 bilhões do PIB nacional em educação e pesquisa, ao invés de combate às arboviroses que impactaram negativamente na saúde e a economia brasileiras. Fazendo-se de grande importância e urgência o olhar dos investimentos públicos e privados, criando-se uma verdadeira engenharia sustentável, ap facilitar que métodos como o Brickarp e Asfalto-borracha nutram a construção civil no país em economia e sustentabilidade, ao dispor destinos úteis para materiais que hoje servem apenas como agentes poluidores e focos de doenças, em especial a dengue.

#sustentabilidade #dengue #combateadengue #metodobrickarp #asfaltoborracha #asfaltoecologico


Entre para ver ou adicionar um comentário

Outros artigos de Humberto Lopes Cândido Filho

Outras pessoas também visualizaram

Conferir tópicos