DEPENDÊNCIAS QUÍMICAS E COMPORTAMENTAIS - parte 2
2. QUESTÕES INICIAIS DA ADICÇÃO
Por que um indivíduo se torna adicto?
Seja em que idade for, mas percebe-se que a adolescência é onde se verifica a maior incidência de início ao uso, o indivíduo não tem uma motivação específica para fazer o primeiro uso de uma droga. A influência do grupo de convivência, a curiosidade, fatores culturais, exposição às drogas pela mídia, pelo convívio social e, não menos importante, pelos problemas emocionais, que podem levar o indivíduo ao primeiro experimento de uma droga.
Todas, sem exceção, provocarão, em maior ou menor intensidade, efeitos como euforia, taquicardia, sensação de coragem, força, poder, alívio de tensões e relaxamento, delírios e alucinações, fantasias e ilusões, adequação ao grupo, status e desinibição, esta precipuamente no relacionamento com o sexo oposto.
A dependência de drogas e os comportamentos compulsivos estão ligados à adaptação de certos mecanismos cerebrais. Os neurônios encarregados de reconhecer sensações agradáveis ao organismo atuam na área conhecida como centro ou sistema da recompensa. Os neurônios localizados nessa área, pela repetição do uso de uma substância psicoativa vão ativar circuitos que, numa outra área do cérebro, vão induzir alterações comportamentais levando à busca da substância. Quanto mais comprometido com a adicção, mais o indivíduo irá em busca da droga buscando repetição do prazer obtido anteriormente, o que nunca ocorrerá. Alguns indivíduos podem fazer experimento de drogas e uso por algum período e posteriormente deixam de fazer uso ou o mesmo é tão esporádico que não chega a causar comprometimento. Outros, no entanto, desenvolvem a dependência química pelo resto de suas vidas. E essa dependência química persiste, mesmo quando o prazer deixou de existir, como é o caso do dependente de cocaína que desenvolve delírios persecutórios toda vez que usa a droga.
Embora cada droga possa utilizar circuitos de neurônios diferentes e provoque prazeres específicos, todos provocam liberação de dopamina nas áreas relacionadas com a recompensa que o prazer traz. A repetição compulsiva do estímulo liberador de dopamina reduz a sensibilidade a ela, tornando o cérebro mais resistente à sua ação. Por esse motivo usuários de drogas com comprometimento severo deixam de produzir níveis de dopamina compensatórios ao circuito do prazer, pelo estímulo aos eventos fisiológicos normais e não sentem mais prazer em outras atividades; por exemplo: ir ao cinema, apreciar uma paisagem, ler um livro, estar com a família. Em verdade, o único estímulo suficientemente intenso para ativar neles a liberação suficiente de dopamina é o uso das drogas.
Por que o adicto procura tratamento?
Tratamento Involuntário - Primeiramente, é um mito dizer que a pessoa precisa querer ser tratada para que o tratamento tenha algum sucesso. Pessoas que são forçadas a se tratar se recuperam, sim. Isto pode ser mais difícil, porém pode funcionar tão bem quanto um tratamento voluntário. Evidentemente não basta internar a pessoa numa clínica, contra a vontade, sem que haja pelo menos um fato motivador. Adictos podem ser obrigados a entrar em programas de tratamento por patrões, familiares, autoridades policiais ou judiciárias. Se o adicto estiver num nível de cognição que possa compreender os benefícios de um tratamento ou compreender os prejuízos e riscos de não participar, certamente terão mais disposição para aderir a um tratamento, seja ambulatorial ou em regime interno, em ambiente controlado. Existem casos, porém, onde o comprometimento mental está muito severo, necessitando o indivíduo de uma prévia internação psiquiátrica para desintoxicação e tratamento de eventuais comorbidades.
Tratamento Voluntário – O indivíduo, para procurar um tratamento voluntário, deve reconhecer-se como doente. Isso implica num aprendizado prévio sobre os transtornos por uso de substâncias psicoativas e os transtornos comportamentais.
Existem situações nas quais cônjuges, filhos, familiares, amigos ou pessoas de seu convívio social procuram evidenciar ao indivíduo que fatos verdadeiros de sua história recente têm causado prejuízos morais, financeiros, sociais, de relacionamentos afetivos e mesmo eventos relativos à saúde física dele. Pode não haver bom acolhimento, porém, a mensagem foi dada, e é de total responsabilidade desse indivíduo a providência que irá tomar em relação a isso. Alguns não aceitam, rejeitam a possibilidade da doença, chegam por vezes a cortar relações com quem lhes aconselhou. Provavelmente chegará um momento em que um evento ruim ocorra; um choque de realidade, como perda de relacionamento conjugal ou afetivo com amigos, filhos; problemas financeiros causados pelo descontrole da vida; demandas judiciais cuja causa raiz esteja no uso de drogas.
Os que aceitam, podem fazê-lo pela via da boa vontade, da credulidade, e se prontificarão a aceitar auxílio e procurar tratamento. Outros mais, aceitarão simplesmente para não contrariar alguém que preza, ama, respeita ou teme. Estes irão também aceitar auxílio e procurar tratamento.
Aceitação do Tratamento – Ultrapassadas barreiras iniciais chega o momento de tomar uma atitude concreta. Ir a reuniões de grupos como o AA, o NA, a outros Grupos de Mútua Ajuda, procurar auxílio religioso, procurar aconselhamento médico, com clínico ou psiquiatra, procurar auxílio de psicólogos, psicanalistas ou terapeutas de diferentes linhas; procurar terapias holísticas, as mais variadas que existem
Todos são encaminhamentos, procuras, um sinal de alerta, uma busca de tratamento. A grande questão é a aceitação de um caminho; e também a persistência e perseverança nessa busca e na disposição de percorrer o caminho.
O adicto, durante todo o tempo que esteve em uso de substâncias psicoativas, desenvolveu, como já foi dito, um sistema de crenças e mecanismos intelectualmente sofisticados de defesa. Suas verdades e suas razões serão um baluarte para defender a qualquer custo o seu uso de drogas.
Resta, para continuidade deste trabalho, esperar que qualquer que seja o profissional que receber um adicto tenha para com ele atitudes de acolhimento, de compreensão, de real disposição de auxiliar no enfrentamento dessa doença tão complexa. Que tenha também a iniciativa e a humildade de constituir uma equipe, onde vá ser um componente de um todo, de pessoas unidas num único propósito: Tratar o adicto e promover a sua sobriedade.
3. O INICIO DO TRATAMENTO
Considerações Preliminares
O tratamento aqui descrito está em consonância com os objetivos deste trabalho, de descrever as diversas práticas terapêuticas, como as técnicas do Modelo Minnesota e outras hoje utilizadas em conjunto com os 12 Passos, e tendo estes últimos como o alicerce de um tratamento largamente utilizado em consultórios, ambulatórios, ambientes de internação e mesmo em programas corporativos de empresas destinados à prevenção do uso de drogas.
Parece óbvio que os tratamentos iniciados por iniciativa sincera do adicto têm muito mais chance de bons resultados que os compulsórios, promovidos por iniciativa da autoridade judicial, pela pressão familiar, pelas chantagens emocionais, pelas dificuldades financeiras advindas de comportamentos inadequados para a obtenção de drogas. No entanto, alguns tratamentos compulsórios têm obtido resultados satisfatórios, porque os indivíduos encontram no tratamento uma lógica à qual sua cognição não consegue resistir, por mais que seus mecanismos de defesa, racionais e comportamentais, e suas crenças apodrecidas, tentem induzi-lo ao consumo. Podemos atribuir pensar nesse fenômeno como uma centelha da razão no cérebro, aliada à fé e à esperança de liberdade do martírio que o uso de substâncias psicoativas causa aos adictos. Ao exercitarem a eventualmente escassa capacidade racional e cognitiva os adictos poderão perceber que existe sim uma chama acesa, uma luz que poderá iluminar seu caminho de volta à SANIDADE. Cabe a eles a escolha; o livre arbítrio é um instrumento poderoso; se bem usado certamente fará a opção pelo bem e nessa opção será experimentada uma percepção que nos meios dos Grupos de Ajuda Mútua é conhecida como “Despertar Espiritual”.
Afinal, a opção pelo bem foi um pressuposto da Criação!
Um aspecto irrefutável: a adicção é uma doença sem cura alopática, homeopática, floral, por acupuntura, radioterápica, quimioterápica. A ingestão de drogas, o bombardeio de radioisótopos não apagará o registro de prazer gravado no sistema de recompensa do sistema límbico do cérebro. O indivíduo desejará a droga assim como deseja o alimento, a água, o sexo. Mas com aprendizado, racionalização e auto controle comportamental, as chances são promissoras. Alie-se a isso a fé no espírito e as chances se potencializam. O dependente precisa de acolhimento, compreensão e ensinamento.
Consultora de RH
6 aExcelente esclarecimento! Obrigada.