Desafios da complexidade econômica
Existe um intenso debate sobre se o crescimento do Produto Interno Bruto brasileiro em 2024 será sustentável. A complexidade econômica é um conceito central nesse debate, pois mede o grau de sofisticação e diversificação da economia de um país, com base nos produtos que ele é capaz de produzir para atender tanto ao mercado interno quanto ao externo.
Dados do PIB do segundo trimestre deste ano indicam que o Brasil pode crescer até 3,3% em 2024, pelo terceiro ano consecutivo, acumulando um crescimento de mais de 10% desde o início da pandemia. Um aspecto que chama atenção é a taxa de investimento no Brasil, que está em aceleração, alcançando 16,8% do PIB, a maior em uma década.
Embora esse valor ainda esteja abaixo do ideal de 25%, o crescimento dos investimentos em máquinas, equipamentos e construção é um sinal positivo, demonstrando que a produção reagiu bem à redução da taxa Selic, que passou de uma média de 13,2% para 10,5%. Esse é um dos motivos para que o Banco Central mantenha essa taxa estável na próxima reunião do Copom, além de o IPCA, que em agosto apresentou uma taxa de 4,24% nos últimos 12 meses, estar abaixo do teto da meta de 4,5%.
A redução da taxa Selic tem favorecido a expansão do mercado de capitais, com o crédito crescendo 10% ao ano, sendo 11% para famílias e 8% para empresas. O setor produtivo tem emitido diversos produtos financeiros, como debêntures, CRI, CRA, FDIC e ações no mercado secundário, o que permite captar recursos no mercado financeiro para financiar a produção e a expansão das atividades econômicas.
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Como resultado desse cenário de expansão do PIB, o Brasil registrou a menor taxa de desemprego dos últimos 10 anos, atingindo 6,8% no trimestre encerrado em julho de 2024. O país deve criar cerca de 2 milhões de empregos formais apenas este ano, o que reflete um mercado de trabalho em sua melhor fase da última década.
Mas o tipo de empregos que estamos gerando é importante. São empregos complexos e sofisticados, mais produtivos, com maior qualificação, especialização e uso intensivo de tecnologia, ou são empregos simples e de baixa produtividade, como aqueles em setores de serviços básicos, que geram menos valor agregado, limitando a capacidade das empresas de oferecer remunerações competitivas e de permitir aos trabalhadores agregarem mais valor ao que produzem.
Apesar do Brasil ter alcançado resultados expressivos em termos de crescimento econômico e geração de empregos, sua sustentabilidade dependerá da capacidade de elevar a sua complexidade econômica. Somente através do aumento da produtividade, da qualificação da mão de obra e da diversificação dos setores produtivos será possível garantir um desenvolvimento consistente, inclusivo e de longo prazo.
Jeferson de Castro Vieira é economista, doutor pela UnB, professor de economia e do mestrado em desenvolvimento e planejamento territorial da PUC- GO