Desafios e perspectivas para a promoção da justiça social hoje
Parece que há uma unanimidade, tanto entre investidores e iniciativas sociais, sobre certos valores que queremos para a nossa sociedade: igualdade, justiça social e solidariedade. As discussões do 12º congresso GIFE, realizado em abril, continuam a ecoar em nossas mentes e corações: as desigualdades são o grande calcanhar de Aquiles da nossa sociedade e a filantropia, muitas vezes, as reproduz. Não é à toa que o estudo "Periferias e Filantropia: As barreiras de acesso aos recursos no Brasil", realizado pela Iniciativa PIPA , tenha sido citado e referenciado inúmeras vezes no encontro.
Do lado dos filantropos, há um grupo que reconhece os privilégios e direciona esforços para a resolução de desafios em nível sistêmico. No último mês, o Instituto Beja lançou o relatório "Filantropando", que discute os caminhos da filantropia no Brasil. E, mais uma vez, logo no subtítulo do estudo, a promoção da justiça social aparece em destaque como futuro do setor.
Por diferentes caminhos, a premissa com a qual partimos é única: a filantropia pode desempenhar um papel importante na redução das desigualdades e na promoção do desenvolvimento humano. Ambos os estudos aqui citados destacam a importância das organizações sociais para a promoção da justiça social no Brasil. Abaixo, listamos alguns pontos convergentes que nos ajudam a entender onde todos precisamos focar para alcançar este objetivo em comum:
1 - Fortalecimento de uma filantropia crítica e transformadora
É importante que o setor seja cada vez mais ocupado pela filantropia que busca promover uma transformação estrutural na sociedade e não somente atenuar os efeitos da desigualdade ou agir em situações emergenciais. Aquelas que atuam de maneira sistêmica representam apenas 5% de acordo com o levantamento do Instituto Beja. Por isso, é tão necessária a implementação de investimentos no ecossistema da filantropia, fortalecendo as organizações que atuam na causa, fomentando a atuação em rede e valorizando o papel estratégico das ações.
2 - Construção de relações de parceria e diálogo
Nenhuma relação de parceria se constrói sem diálogo e confiança. É preciso promover condições de igualdade para as trocas entre investidores e investidos, de forma a garantir que as iniciativas promovidas estejam alinhadas às necessidades e demandas das próprias comunidades. Sair de uma lógica que reproduz as relações de poder e compartilhar recursos e capacidade com quem realiza o impacto nos territórios. À medida que acessar organizações financiadoras também é um desafio para organizações, sobretudo periféricas, é fundamental também que a construção de pontes ocorra em torno de uma rede de filantropia pautada na confiança.
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3 - Participação da sociedade civil na construção de políticas públicas
A colaboração entre a sociedade civil e o governo é fundamental para construir políticas públicas efetivas e serviços de qualidade para a população. As organizações sociais e os órgãos governamentais devem manter um diálogo constante e colaborar para desenvolver parcerias que possam aprimorar as políticas públicas. Embora a filantropia não possa resolver todos os desafios sociais, ela tem o potencial e o recurso de ser uma plataforma para a inovação social, que pode ser complementada e implementada pelo estado.
4 - Reconhecimento da diversidade e das múltiplas formas de opressão
É essencial reconhecer a diversidade e as múltiplas dimensões da desigualdade, como gênero, raça, classe social, orientação sexual, entre outras, e trabalhar para a inclusão e a igualdade para todos. Isso pode ser alcançado por meio de investimentos sociais, doações ou outras formas de apoio, bem como pela promoção da empregabilidade para grupos minoritários. A justiça social passa pela valorização da diversidade e pelo combate às opressões.
5 - Promoção da cultura de doação e engajamento da sociedade
A cidadania ativa é o que move a sociedade, por isso é tão importante investir em ações filantrópicas e fortalecer as organizações sociais. No Brasil, a cultura de doação ainda é incipiente, e é necessário engajar mais indivíduos e empresas, criando um ambiente propício para o desenvolvimento da filantropia. É preciso ainda articular estratégias nacionais que envolvam governos, mídia e organizações da sociedade civil. O Dia de Doar é um exemplo de como isso pode ser feito.
No campo social, os desafios se entrelaçam, se complementam e se encontram, da mesma forma que os caminhos na direção das soluções também se cruzam. No Radar MBM, oferecemos conteúdo informativo para estimular sua reflexão e mantê-lo atualizado sobre o trabalho de organizações que estão impactando positivamente seus territórios e defendendo causas importantes em todo o Brasil. Assine para ficar por dentro.
Gestora de Projetos Sociais e Ambientais, Sustentabilidade
1 apesquisas fundamentais para se trabalhar no advocacy da filantropia no Brasil !