Desafios no estabelecimento de plantas de soja.
Os desafios da abertura de plantio de soja em 2024, reforçam a premissa: A qualidade das sementes é um fator crucial para o sucesso da agricultura. Cada planta conta.
Nessa safra, em diversas regiões produtivas, encontra-se dificuldades no estabelecimento de plantas. Consequentes falhas de plantio, retardamento e desuniformidade da emergência. Ao rodar alguns campos, é perceptível uma pluralidade de danos como engrossamento, fissuras e ausencia de alça no hipocótilo. Muitas sementes sem a protrusão da radícula e outras que, por mais que germinem, perecem ainda no solo sem alcançar a emergencia. Mas o que está acontecendo? Existe um culpado?
Seria erro do produtor, da semeadura ou do armazenamento? Seria uma falha nos produtos utilizados no tratamento on farm ou TSI? Difícil passar um diagnóstico sem todos os fatores que interferem na expressão do vigor estarem à mesa. Vamos aprofundar:
Ambiente de Maturação e Qualidade Fisiológica
A safra de 2023, a qual foi a produtora das sementes utilizadas neste ano, foi marcada por condições climáticas desafiadoras, incluindo condições hídricas e temperaturas variáveis.
Após a maturação, não há mais intervenções que possam aumentar a qualidade fisiológica das sementes. Portanto, é ainda em campo que o teto de qualidade é construído. A aquisição da qualidade fisiológica das sementes de soja ocorre de forma progressiva, em uma sequência que inclui germinação, tolerância à dessecação, vigor e longevidade. Essa aquisição, é fortemente influenciada com as condições ambientais. Condições que favorecem, aumentam e melhoram a qualidade. Todavia, parte do que foi construído pode ser perdido pela deterioração em pré colheita. Neste cenário, a dessecação entra em jogo para retirar as sementes de forma mais rápida do campo, visando proteger a qualidade instalada na semente. Porém.... como tudo depende, a dessecação antecipada também pode se tornar um risco à qualidade fisiológica.
A desuniformidade de maturação e a dessecação antecipada
A antecipação da dessecação pode contribuir para a desuniformidade de maturação, especialmente em plantas de hábito indeterminado, que apresentam alta variabilidade de estádios fenológicos em uma mesma planta. Essa desuniformidade pode resultar em lotes com baixa germinação, uma vez que pode apresentar sementes que ainda não adquiriram a tolerância necessária à dessecação. O momento de dessecação é recomendado no estádio R7.3, mas, é comum nos encontrarmos com a decisão de dessecar as sementes antecipadamente. Muitas vezes, esses lotes manejados dessa forma até podem apresentar alto vigor, porém, baixa longevidade.
Vigor vs Longevidade
O vigor é um atributo essencial para o sucesso na lavoura, mas pode ser enganoso. Embora sementes com alto vigor possam ser observadas em pré-colheita, essa característica pode não se manter durante o armazenamento, especialmente se a longevidade não foi adequadamente adquirida. A longevidade é o fator que permite que o vigor seja mantido ao longo do tempo. Portanto, se a dessecação for feita muito cedo, o vigor observado pode não se traduzir em qualidade na próxima safra.
Tratamento de sementes
Em campo com problemas de emergência, o foco é voltado para as plantas emergidas que carregam o tegumento aderido ao cotilédone, junto com o tratamento de sementes. E este tratamento, muitas vezes, injustamente pode levar a culpa pelo baixo desempenho fisiológico da semente. A baixa germinação e redução na velocidade de emergência, é causada por uma combinação de fatores, como, temperaturas extremas, déficit ou excesso hídrico, profundidade alta ou rasa, dano por embebição e baixo vigor.
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Essa demora levada pela plântula a alcançar o solo, expõe o próprio tegumento ao seu cotilédone por mais tempo, e isso de fato pode gerar aderência entre estas estruturas. Veja na foto um cotilédone de uma semente sem tratamento nenhum, de baixo vigor e com baixa velocidade de emergência, como o próprio tegumento se aderiu ao seu cotilédone. Mas devida a casualidade, injustamente, a presença do tratamento de sementes junto ao tegumento pode levar a culpa pela germinação e emergência deficiente.
Mas de fato, o tratamento de sementes mal posicionado, seja on farm ou industrial, pode oferecer um obstáculo para o desempenho da semente, especialmente a aquelas que já carregam baixo vigor. Sementes com vigor baixo não toleram alto volume de calda e muitas vezes uma pluralidade de ativos pode não ser benéfica. Sementes sem tratamento e de vigor baixo podem sucumbir as condições adversas do campo.
Sem sombra de dúvidas, pensando no cenário atual, sementes com a ausência do tratamento químico a situação pode ficar muito pior. A germinação mais lenta expõe por mais tempo as sementes as pragas e doenças do meio. Por isso, é imprescindível a proteção química contra estes estresses.
Em resumo, não há receita de bolo. Não há um culpado. Não há pra quem apontar o dedo. O que existe é uma combinação de fatores que em cada caso, há a expressão do vigor de uma forma distinta. Destaco aqui, algum deles: o ambiente de maturação, manejo de dessecação, condições de armazenamento, altos volumes de calda condições de semeadura e outros componentes que se relacionam com o vigor.
Desafios no estabelecimento de plantas de soja.
Qual mais fator você colocaria nessa lista para realizar um diagnóstico?
Qualidade | Inovação | Seeds Supply Chain & Operation | Estratégia | Comunicação
2 mParabéns, bons argumentos! Realmente uma interação de fatores! Como bem pontuado no título, estes desafios no estabelecimento de plantas de soja, mostram como as condições de semeadura, solo e clima trazem variáveis a mais do que apenas a alta qualidade de sementes. Talvez também vale rever como os testes de qualidade podem prever melhor o desempenho das sementes no campo.
Gestão de Laboratório, Pesquisa e Consultoria Técnica | Especialista em Agricultura (Tecnologia e produção de sementes)
2 mÓtima análise Carol! Essa safra 24/25 realmente vai "expor" os diversos desafios enfrentados no ambiente de produção da planta-mãe e em toda cadeia pós-colheita de soja.