DESAPEGAR É PRECISO

DESAPEGAR É PRECISO

Por Astrid Lenhart

Você já ouviu falar que o apego é o causador da dor humana? A maioria das pessoas não ouviu falar sobre isso e, quando ouve falar, costuma não acreditar. Por que isso acontece? Porque as pessoas acham que elas não tem apegos. Aí está um grande engano porque todos nós temos apegos, em um grau ou outro.

Os apegos não se limitam apenas aos aspectos materiais. Eles ultrapassam essa barreira e entram no aspecto emocional, que é onde estão os maiores apegos. As pessoas não percebem ou não veem como apego relações tóxicas, por exemplo. Mesmo um relacionamento não sendo nada bom, as pessoas costumam insistir em permanecer na relação, alegando que amam.

Isso não é possível. Amor e dor não se misturam. Se há sofrimento, você pode ter certeza de que não há amor envolvido, e sim, apego. A pessoa não admite ficar sem a outra. Mesmo que ela saiba que está sendo traída, ela vai dar um jeito de encontrar uma justificativa para o “perdão”, de modo a “salvar” a relação. Mesmo que ela sofra de maus tratos emocionais, ela vai dar um jeito de justificar sua decisão de permanecer na relação. Mesmo que a relação seja de dor, ainda assim ela não acredita que está apegada.

No caso de relacionamentos românticos, os apegos são de diversas ordens. Há até mesmo o apego de ter de estar com alguém. Muitas pessoas, principalmente mulheres, acreditam que elas precisam ter um companheiro para serem bem vistas e bem quistas. Para não ficarem sozinhas e, assim, desamparadas, submetem-se a relacionamentos que carecem de amor.

Há também o apego aos filhos. Amar é uma coisa. Querer viver a vida pelos filhos é uma coisa completamente diferente. Não é possível impedir que os filhos tenham seus aprendizados na vida e venham a sofrer em algum momento. Eles precisam ter os seus aprendizados porque, com eles, eles crescerão e se tornarão fortes, aptos para a vida. Querer viver a vida pelos filhos é o mesmo que manter a lagarta para sempre dentro do casulo. Chega o momento em que a lagarta está pronta para voar. Como seria se o voo fosse impedido?

Quando mencionei que há pessoas que não acreditam que tem apegos é porque muitas já me disseram isso. E apenas com um único exemplo foi possível mostrar a elas de que estavam enganadas a respeito. Uma das pessoas que disse, após receber um convite para um ritual do desapego que eu estava organizando, disse-me que até poderia participar, mas não tinha nenhum objeto para levar ao evento, uma vez que deveria “doer” só de pensar em se desapegar dele. Ela disse que nada doía, posto que não tinha apegos. O objeto seria usado para representar um apego que seria identificado durante o evento.

Como a pessoa gostava muito de peças de arte de alto valor, apontei o dedo em direção a um vaso, lindo, certamente muito caro, e disse “que tal levar esse vaso ao evento?” Ela deu um salto, ficou em posição de defesa e disse “Não, de jeito nenhum, esse vaso não.” E eu continuei: “Por que não? Você não acabou de dizer que não sentia dor em se desapegar de qualquer objeto de sua casa?” E ela: “Ah, porque esse vaso é muito caro e eu o ganhei de presente”. Eu respondi: “Ok, mas, como você pode ver, você tem apegos. Se você não tivesse apegos, você levaria qualquer uma de suas peças espalhadas pela casa para o evento.” Com isso, ela compreendeu como o apego funciona.

Os apegos, conforme já mencionei, existem em todas as áreas e todos os níveis. Esses apegos, mesmo aparentando o contrário, não são saudáveis. Veja o exemplo de apego em relacionamentos que eu trouxe. Para esse exemplo, resta perguntar: quem é o mais tóxico, a pessoa que tem atitudes tóxicas no relacionamento ou a pessoa que as aceita?

Os apegos tem uma causa-raiz, que são os medos. Medo de ficar sozinho. Medo da solidão. Medo de não ser aceito. Medo de ser julgado. Medo de não ser amado. Medo de não ser querido. Medo de ser rejeitado. Medo de não ser bom o suficiente. Esses e outros medos geram insegurança. Com insegurança, a pessoa vai se submetendo às mais diversas situações na vida, inclusive permanecer em um emprego em que ela seja subaproveitada, em que não se sinta reconhecida e valorizada.

A única forma de vencer os apegos é começar por identificar os medos. Há técnicas específicas para isso e, com dedicação, é possível transcendê-los. Essas técnicas envolvem reprogramação mental e emocional. E tudo começa pela conscientização.

Em função dos apegos gerados pelos medos, a grande maioria das pessoas não se sente feliz. A felicidade realmente é impossível para quem está amarrada a pessoas e situações pelos apegos.

O primeiro passo é a identificação dos apegos. É preciso verificar todas as áreas. Fica mais fácil começar por coisas mais palpáveis, como objetos de uso pessoal. Por exemplo, você, mulher, quantos pares de sapatos você tem na sua sapateira, que você não usa, mas “precisa” deles? Quantas peças de roupas você tem no seu guarda-roupa, que você não usa, mas “precisa” delas?

Depois você passa para o seu relacionamento, se o tiver, e se pergunte se você realmente ama a pessoa ou se está junto somente porque se acostumou a estar com essa pessoa e que não pode mais ficar sem ela. Seja muito sincero ao buscar a resposta. Depois se pergunte sobre o seu emprego. Você está feliz com o emprego ou você apenas está nele porque tem medo de buscar novos horizontes?

Lembre-se: sempre quando medos estiverem envolvidos, os apegos vem junto. Não há como separá-los.

O grande segredo para aprendermos a desapegar é gostar daquilo que temos, mas não se identificar excessivamente com essas coisas. A identificação excessiva é sinônimo de apego e apego é tóxico. Quando aprendemos a desapegar, nossa postura passa a ser a seguinte: se temos algo, está bem. Se não temos, está bem também.

Fácil? Certamente não. Mas vale a pena aprender para que possamos, em algum momento da vida, experienciar a felicidade, tão sonhada por muitos, mas vivida apenas por poucos. O desapego é o grande segredo da felicidade.

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