Desarrumar as malas

Ao arrumar as malas para essa viagem, com embarque imediato para o PSC-SSA-43, precisei fazer um exercício de esvaziamento, regado à pílulas de sensibilidade e altruísmo. Embarquei como um papel em branco, sedento por oportunizar o novo, navegar por ferramentas e conhecer histórias. Esperava algumas gotas d’água, mas vieram corredeiras que levariam consigo tudo o que fosse ontem.

 Logo nos primeiros minutos de viagem, conheci uma tripulação diversa, cheia de sonhos e histórias. Sob o olhar atento de um Brilhante comandante, que nos guiou em mar aberto, atravessando ondas violentas, sem deixar que qualquer tormenta nos tirasse o rumo. Com a sabedoria dos mais velhos, nos conduziu a usar os ventos a nosso favor e nos fez perceber que “navios não afundam por causa da água ao redor deles. Navios afundam por causa da água dentro deles.” 

 Em ambiente seguro é de fato possível esvaziar-se, bastou deixar a lágrima correr e permitir-se esvaziar. De si, das certezas e das crenças. Afinal, para ter leveza e fluidez é preciso deixar os atracadouros e navegar.

 Neste cruzeiro colhi sorrisos que não cabem rosto, conheci lugares incríveis que não se encaixavam nos limites dos meus óculos. Vivi uma experiência que não se narra em orações subordinadas diante da liberdade do silêncio. Naveguei livremente sob o soprar dos ventos, fiz mergulhos profundos em mares inabitados, sob a apneia de um idílico encontro. Varei a noite por um pedido ascendente a uma cadente estrela. Respirei fundo... tentei parar o tempo, mas o oitavo dia chegou trazendo a hora do regresso. Não sem antes garantir a última aventura para um inenarrável momento de lavar a alma e o coração.

 Desarrumar as malas foi o momento mais difícil da viagem, marcado por recordações, ressignificações e escolhas. Que fiquem guardadas as boas lembranças, os sorrisos, cheiros e sabores desses novos rumos. Ainda que desarrumar os pensamentos seja a tarefa mais árdua, desfazer as malas será sempre a hora de reorganizar os sonhos que nela vieram e a gente nem sonhava.