Descendo a Ladeira - 2018
Já me disse um amigo que o Brasil é o pais do futuro e sempre será. Assistimos atônitos o pais em crise e para piorar, nem o futebol se salvou. Machado de Assis descreveu o país no seu conto mais famoso – O Alienista. Aí descobriu-se que todos pertencem ao manicômio. Enfim é um pais de loucos e de loucuras. Como explicar a condenação de um ex-presidente e depois o ping-pong da solta/não solta. Como entender um presidente negociando favores com empresários na calada da noite no próprio palácio? Como entender as extravagancias dos políticos e burocratas num quadro de total escassez de recursos?
As instituições: executiva, legislativa e justiçaria estão em frangalhos. Vem daqui a pouco as eleições e o candidato mais popular é o nulo ou voto em branco. Quem pode, está votando com os pés e mudando de país. No inicio do ano, as previsões oficiais para a economia era um crescimento acima de 2%, nada espetacular, mas pelo menos acima do crescimento demográfico. Atualmente 1.5% e a previsão máxima e com a população expandindo em torno de 1.7%, cada pessoa esta ficando mais pobre individualmente.
Desde a eleição de 2014, propaga-se que as instituições estão funcionando. Dilma ganhou a eleição e foi empossada apesar dos protestos, choros e ciladas do Tucanato. Seu impedimento também supostamente ilustrava legalidade e procedimentos corretos com as votações na Câmara e no Senado. Entretanto, engana-se quem achava que teria uma melhoria qualitativa com o novo governo (saído do bojo do velho). O atual presidente se mostrou tão ou mais comprometido com as praticas nefastas e em vez de reforçar a justiça ou o legislativo, o governo acabou promovendo a continuidade da descida.
No inicio da Lava Jato, o judiciário apresentava-se como o núcleo solido guardião da lei. Tanto os promotores públicos quanto aos juízes e desembargadores orgulhavam-se da continuada profissionalização, competência e isenção na aplicação da lei. Mas vemos os “doutores” e togados cada vez mais politizados. Talvez o exemplo mais claro é o STJ que está divido em torcidas.
A administração atual procura apoio apontando o baixo índice de inflação, mas fecha os olhos para a inflação, que só está aparentemente sob controle pelos efeitos nefastos da falta de crescimento de demanda e de empregos. Há estimativas que o Real que já beira aos 4 reais por dólar vai acima de 5 em 2019. Assim o encadeamento negativo elevara fatalmente a inflação e a estagnação persistira.
Machado falava de alienação como estado psicológico, mas também há alienação de produção e patrimônio. No momento, o Brasil esta liquidando. A Petrobras esta se desfazendo de ativos importantes, a Boeing esta no processo de comprar a Embraer e a Braskem também esta no bloco de vendas. O Brasil numa posição de fraqueza, se rende ao capital internacional. Os nacionalistas de esquerda e direita choram, mas não tem ideias alternativas ou quando tem não batem com a realidade. Tem propostas de aumentar os impostos, cobrar as dividas (INSS), e nacionalizar setores produtivos, mas não enxergam bem as consequências. Esquecem que o estado e as empresas estatais e paraestatais refletem a sociedade desigual. A produção, consumo e distribuição dentro do estado aumenta em vez de atenuar a desigualdade. Os salários, gastos e despesas muitas vezes são desproporcionais a produção e retorno. Quem esta dentro da maquina quer defender a unhas e dentes os benefícios consagrados (muitas vezes em lei e até na Constituição) e todos, independente de suas orientações politicas, querem uma boquinha. Veja como exemplo a indústria de concursos públicos.
Num pais de mais de 200 milhões de habitantes e dimensões continentais, há sempre oportunidades e iniciativas. Entretanto, a descida da ladeira demonstrado pelo o desaparecimento de centros de excelência, a estagnação da educação, a insegurança pessoal, a falta de um sistema de saneamento básico e as precárias condições de saúde além do declínio econômico e politico evidenciam a crise. Enquanto o Brasil não encara de frente seu conflito histórico entre liberdade e igualdade não há perspectivas a não ser a continuidade de soluções parciais e incompletas. A desigualdade e tão gritante e tão enraizada que a sociedade acaba se acomodando na mesmice de sempre. Ao mesmo tempo, o Estado e a sociedade restringe a liberdade das forcas de mercado que poderiam acelerar a produção e o crescimento. Os partidos e os candidatos se recusam a encarar o problema, procurando ficar apenas em chavões que não agradam ninguém. O México com AMLO tem agora pelo menos um presidente eleito com maioria de 53 e apoio majoritário no legislativo com um programa de esquerda, embora com risco de cair no populismo fácil ao curto prazo. O Brasil por sua vez não tem candidatos com programas nítidos. Enquanto isso no final da ladeira tem o precipício, senão …
Se a população, a sociedade civil, as organizações coletivas, os indivíduos, empresários e trabalhadores se unissem, talvez possam encontrar um caminho. O Brasil é uma sociedade coletiva e as pessoas querem fazer parte de algo, para encontrar o sentido do que é ser brasileiro, que seja algo além de um complexo de inferioridade.
Diretor Financeiro / Controller
6 aOnde está seu proverbial otimismo Steve? Você sempre disse que apesar dos percalços e da lentidão, o Brasil estava num processo histórico de progresso e desenvolvimento. Agora parece que até você foi contaminado pelo pessimismo ambiente. Infelizmente não tenho muitos reparos ao seu texto: vejo poucos motivos para otimismo ou esperança. Uma pena...
Presidente, All Abroad, consultoria internacional. Seu ponto de apoio na America do Norte
6 aObrigado pela leitura e "likes"