Descendo a Montanha

Eu já subi a montanha, e não gostei.

Não posso dizer que subi o Everest. Mas digamos que tenha sido o Pico do Jaraguá. A experiência é praticamente a mesma. Grandes jantares, grandes viagens, muitos tapinhas nas costas. Autonomia de horário e de local de trabalho - não de graça, mas devido ao peso das responsabilidades. A vida de muitas pessoas em uma planilha Excel. O poder de decisão sobre um pai de família que terá que procurar emprego. Os números de um projeto. Controle de orçamento, controle de rentabilidade.

No fim das contas, tudo muito carregado de superficialidade.

Além disso é muito frio, você tem poucos amigos, e há muita gente de sucesso. E sucesso é complicado. Pessoas bem-sucedidas são chatas. Possuem o sorriso bem-sucedido de pessoas que são felizes com a vida que tem. Elas andam por cima, na crista da onda, perseguem os empregos do momento e sabem tudo sobre o que é indispensável saber, hoje. Pessoas bem-sucedidas andam com uma expressão ocupada em seus figurinos monocromáticos e sapatos e bolsas caríssimos feitos de couro legítimo de ratos nobres costurados por escravos na Indonésia.

Pessoas bem-sucedidas sabem mais. Sabem tudo. Não porque elas se dedicaram ao estudo de tudo, mas porque elas devoram a overdose de verborragia que vaza pelo esgoto das redes sociais diariamente, e andam com o dedo no gatilho do Dr. Google.

Amargura? Talvez sim. O fato é que resolvi descer. Estou descendo a montanha, e a cada dia que passa, me sinto mais feliz com essa decisão.

Pra descer a montanha eu preciso ter muito mais certeza do que estou fazendo. Pra descer, preciso de muito mais propriedade. Preciso estar muito mais preparado pra descer, porque todos sem exceção vão questionar essa decisão com mil argumentos. Você não consegue descer a montanha na onda, porque não tem onda. Você tem que saber pra onde está indo e estar certo de seus motivos.

Pra descer você precisa se acostumar ao fracasso. A andar com gente fracassada, a ser um fracassado. Dependendo do ponto de vista, claro. Sucesso e fracasso tem uma ligação muito forte com seus valores. Neste caso, quem sabe, eu possa estar na verdade subindo a montanha. A única diferença é que meus valores estão lá embaixo. No meio dos perdedores.

Não foi a decisão mais lucrativa que eu já tomei, mas sem dúvida, foi uma das mais rentáveis pra minha alma.

- Luiz Filipe