DESCONSTRUINDO DEUS
Anos atrás, após uma experiência profissional muito ruim, me surgiu essa ideia de escrever um livro sobre todos esses fatos pitorescos e inusitados vivenciados por mim, mas veja, o que eu tinha em mente era ir além de apontar as características de um mau profissional, não era bem isso, eu queria apresentar situações reais, ocorridas no dia a dia de trabalho, situações tão esdrúxulas e surreais que mais pareciam saídas de um filme de terror psicológico, e pode acreditar, eu presenciei cada coisa...
O título seria esse mesmo, "desconstruindo Deus". O que Deus tem à ver com isso? bem, é assim mesmo que eles se veem, como deuses, verdadeiros titãs vivendo entre nós. Os mais humildes se consideram apenas semi-deuses... é justo!
Esse livro será dividido não em capítulos, mas em figuras folclóricas. Eu não pretendo traçar nenhum perfil psicológico, não se trata disso, eu vou descrever as atitudes, as manias e os vícios ruins de cada um deles com quem tive a infelicidade de conviver. Aí você diz: ah... mas se eram chefes, alguma qualidade eles tinham... veja bem... muitas promoções acontecem não por meritocracia, mas por política, e esse é o X da questão. Com esse livro eu pretendo tratar de pessoas erradas, nos locais errados, fazendo coisas erradas. Aqui vai um exemplo, e como disse no início desse artigo, são fatos verídicos.
Uma figura folclórica chamada "BICHINHO"
"Bichinho" foi uma chefe que tive, e esse apelido carinhoso se deve ao fato de, primeiro, eu não querer citar nomes, e segundo, era assim mesmo que ela nos chamava, "bichinho" ou "bichinha", sem conotação homossexual.
Bichinho era uma mulher madura, vivida, e não era uma má pessoa, eu a conheci antes da fama e posso atestar: o poder corrompe! Mandos e desmandos, contradições, falta de ética, demonstrações públicas de poder, discursos desconexos, erros gramaticais imperdoáveis para um líder... sim, tudo isso junto e misturado criaram uma besta, não um demônio, mas uma besta quadrada mesmo. Tapada, ignorante, de visão limitada, defensora feroz da síndrome de Gabriela.
Certo dia, bichinho desceu, do alto da sua torre, e ordenou que a empresa parasse. Vale salientar que tratava-se de uma indústria, com máquinas pesadas, então... estamos falando de hora/máquina... com máquinas paradas... acredite! Enfim, mesmo assim, bichinho reuniu toda a equipe em uma sala, aproximadamente trinta pessoas, e disse o seguinte:
Gente, esse mês tivemos um gasto absurdo de R$ 60.000,00 com papel higiênico e copinhos descartáveis, assim não é possível. Vamos fazer o seguinte... quem tem a mania de enrolar o papel higiênico na mão, vai usar apenas um quadrinho daqueles... se tem a marca de destacar, é pra usar somente um quadrinho mesmo... tá lá, a marquinha...
Durante e após a reunião, ninguém conseguiu proferir uma palavra, ficamos todos em estado de choque, sem entender o propósito daquilo. Somente no dia seguinte conseguimos conversar à respeito, e todos concordávamos que ela havia parado a empresa, literalmente, para falar merda.
Assim como essa, existem diversas figuras folclóricas que passaram pela minha vida, sem falar nas situações bizarras que eu gostaria de compartilhar. Não quero expor ninguém ao ridículo, entretanto, quero mostrar como o ser humano pode ser ridículo quando lhe é dado o mínimo de poder. Outras figuras que me recordo agora são, por exemplo: "o lenhador", "o tabaréu", "a rainha e seus súditos", "o homem invisível", "a filha da dona", "o chef francês"... e tantos outros.