Desenhando em pequenas Startups

Desenhando em pequenas Startups

Lemos muitas histórias sobre UI/UX e design de produto em startups de sucesso, empresas de tecnologia e desenvolvedoras de produtos digitais. Porém, quem está neste meio há algum tempo conhece os percalços que passamos até conseguirmos realizar grandes projetos.

Por ser o tipo de pessoa apaixonada por novas ideias e pela oportunidade transformá-las em realidade, sempre procurei me envolver com projetos em que fosse possível desenvolver inovação, aprendizado e criatividade. E é aí que está a pegadinha. Normalmente empresas assim são aquelas que estão começando, pequenos negócios, startups em seu estado inicial.

O que quero abordar aqui são os desafios que nós designers e desenvolvedores temos em startups que realmente estão começando. Nem todas possuem aportes iniciais milionários, quando muito possuem algum investimento que não seja dos próprios fundadores, e a necessidade de se ter um produto escalável, rápido e eficiente se faz não apenas necessária, mas principalmente urgente. E “urgência” é a palavra que dita o ritmo de desenvolvimento em qualquer empresa que se encontra em seu estado inicial.

Nossas métricas são nossas experiências

O estado de urgência que envolve todas as áreas das pequenas empresas é ainda mais agressivo com os times de design e desenvolvimento. É a partir de nós que de fato nasce o produto que será entregue aos usuários. Sem produto não há venda, sem venda não há empresa.

Com a falta de tempo para planejar, desenhar e testar adequadamente, acabamos nos tornando reféns do que eu chamo de "splash and go", entregamos as tarefas e seguimos em frente. Com isso, as chances de entregarmos o melhor produto com eficiência e qualidade caem drasticamente.

Para conseguirmos agilidade e cumprir as datas necessárias, recorremos às nossas bagagens profissionais. Muitas vezes a experiência em trabalhos anteriores, pesquisas, livros, artigos e nossa habilidade de entender as necessidades de um projeto são as únicas ferramentas disponíveis. Sem recursos e sem todas as informações e dados ideais, a única coisa que temos de concreto é a ideia.

Com certeza todos já passamos por isso ou continuamos passando. Criamos com dados limitados, muita paixão e resultados que nos deixam com a dúvida "Será que poderia ser melhor?"

Sim, poderia, na maioria das vezes.

Testamos sem tempo para testar

Quando trabalhávamos com criação de sites e web-design (porque era assim que chamávamos) nos primórdios dos anos 2000, não tínhamos todas as metodologias atuais, métricas, dados, testes A, testes B, testes A/B, testes de usabilidade com usuários, e os processos em ambientes de extrema urgência são bem parecidos com a daquela época.

A troca de ideias e informações entre equipe e outros colegas acaba se tornando nossa principal fonte de resposta sobre o que desenvolvemos. Somos todos usuários, somos todos clientes, buscar e escutar cada pessoa é uma forma de, ao menos, saber o que não fazer. Se entre seus colegas ou circulo social há alguém com o perfil que se encaixa no target de seu produto, fale com esta pessoa. Provavelmente ela será uma das únicas fontes válidas de informação durante todo o processo de criação e desenvolvimento.

Longe de ser algo bom, esta é a realidade. Os testes são feitos durante a criação, a validação é feita ao mesmo tempo em que se desenvolve o sistema de funcionalidade e design. E o tempo continua correndo.

Nem toda informação será de fato utilizada, mas ela será extremamente útil para ao menos cobrir algumas lacunas.

Lançamos o produto e agora?

Aqui estamos com produto lançado e usuários ativos. Houve atrasos nas datas de entrega, foi preciso refazer alguns códigos, rever algumas funcionalidades, perdemos tempo onde poderíamos ter ganho se tivéssemos condições de planejar cada etapa com calma, mas o produto está na rua.

A fase de testes começa agora!

Quando desenvolvemos projetos de uso recorrente, sabemos que ele nunca estará pronto, mas neste caso o seu produto foi para a rua sem realmente estar.

A agilidade que tivemos com o desenvolvimento precisa ser ainda mais rápida quando começamos a identificar alguns bugs. É inevitável, eles vão acontecer, eles estão lá. Mas o maior desafio é começar o processo de análise de comportamento do usuário e se de fato a solução é eficiente. São poucas as semanas que temos para entender o que precisa ser melhorado, se teremos usuário suficientes para fornecer os dados que precisamos e se nossa equipe dará conta de fazer os ajustes e correções no tempo necessário. É uma corrida contra o tempo e se torna ainda pior quando lembramos de nossa equipe reduzida.

O segredo aqui é priorizar o que realmente impacta na experiência do usuário, o que traz percepção negativa e seu afastamento. Em produtos de recorrência, seus usuários são clientes, assim, a exigência por qualidade é ainda maior.

É preciso mapear de forma rápida os pontos críticos e iniciar ajustes o mais rápido possível. Normalmente o PO toma conta dessa identificação e mapeamento, quando não há um PO em sua equipe a própria liderança de design se encarrega dessa tarefa. Pode parecer inteligente um designer fazer o estudo e a análise, mas devido a equipe reduzida, é uma força de trabalho que se perde no processo. Além disso, o envolvimento de outras áreas também diminui, seus desenvolvedores apenas recebem as mudanças necessárias sem muito para pensar ou discutir sobre o tempo gasto ou soluções melhores para implementação dos ajustes.

A grande vantagem de se estar em uma startup pequena é que os usuários se iniciam em dezenas e não centenas. Mas ainda assim é o suficiente para ter o dado mínimo necessário para ação e o impacto das falhas é menor, o que possibilita reverter as más impressões e experiências com menos dificuldade.

Mais recursos, menos experiência

Com o tempo o produto vai se tornando o que deveria, os problemas vão se resolvendo e o processo de crescimento começa a acontecer. As coisas se alinham e a urgência começa a diminuir. Os males de estar envolvido em um processo tão conturbado e limitado como os que temos em pequenos negócios são enormes não somente profissionalmente com a falta de tempo e de aprimoramento, mas também pessoalmente.

Apesar disso, a nossa curva de experiência e aprendizado é extremamente vertical. Digo sempre que aprendemos mais com tentativas e erros. Os acertos são importantes, claro, mas são os erros que nos ajudam em projetos futuros. O processo de adaptação a todas as falhas nos dá experiência suficiente para encontrarmos alguns atalhos no processo e evitar problemas que antes eram inevitáveis, uma vez que nem sempre é possível prevê-los. Assim, assumimos que quanto mais recursos temos menos ascendente é nossa curva de experiência, porém menos precisos e mais falhos somos.

Ao final, apesar de todo aprendizado, um ambiente mais controlado e com mais recursos ainda é mais eficiente, mais prazeroso, profissionalmente e pessoalmente. Há quem goste da pressão extrema, estado de urgência, mas se pudesse dar um conselho, quanto mais recursos, colegas experientes e um ambiente de aprendizado diário, melhor será sua qualidade e desenvolvimento profissional, além, claro, melhor será o produto entregue.


Nem sempre encontraremos o ambiente ideal e quase sempre começaremos em empresas pequenas, cheias de problemas, falhas de processo, mas que nos dão experiência e irão nos preparar até chegarmos às "grandes ligas".

Para mim este é um processo que precisamos viver para evoluirmos profissionalmente, como designers e termos conhecimento do que é bom ou ruim para nós. Como disse, sou uma pessoa que gosta de desafio, novidades e normalmente estarei envolvido em processos problemáticos, mas nem todos estão dispostos a abrir mão de qualidade no processo de criação. Não há um caminho certo ou errado, é algo que varia a cada um. O importante é acreditar e estarmos felizes com o que desenhamos, isto é uma das coisas que mais me motiva como designer.


Espero que tenha gostado! E se você se viu uma vez em algumas (ou todas) situações que descrevi e quiser compartilhar suas experiências também, comente aqui, vamos trocar ideias e tentar sofrer menos juntos.

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