Desinflação é dificultada com a alta das commodities estratégicas no mercado

Desinflação é dificultada com a alta das commodities estratégicas no mercado

Desinflação é o processo de redução da taxa de inflação, ou seja, é quando a taxa de aumento dos preços de bens e serviços na economia diminui ao longo do tempo. Ela geralmente é considerada positiva, pois indica uma desaceleração do nível de crescimento dos preços, que diminui o poder de compra da população, principalmente as de menor renda, que tem exposição direta ao aumento de preço dada a baixa capacidade de poupar recursos.

Commodities são produtos ou matérias-primas produzidas e comercializadas em escala global. Alguns exemplos incluem produtos agrícolas (como trigo, café, açúcar), metais (como ouro, prata, cobre) e energia (como petróleo, gás natural). As commodities são utilizadas em diversos setores, e seus preços são influenciados por uma série de fatores, incluindo oferta/demanda, clima, geopolítica e flutuações cambiais.

Mas nesse atual momento, o que dificulta esse processo de desinflação?

Um dos principais motivos para essa dificuldade é o aumento dos preços das commodities estratégicas (petróleo, minério de ferro e alimentos), que pode se refletir em diversos setores da economia, elevando os custos de produção e, consequentemente, os preços dos produtos. Isso pode criar pressões inflacionárias, dificultando a manutenção de uma trajetória de desinflação.

Um exemplo dessa relação é o mercado de combustíveis. O aumento do preço do petróleo no mercado internacional pode impactar diretamente o preço da gasolina e do diesel, o que, por sua vez, pode gerar um efeito cascata nos preços de diversos produtos e serviços.

Abaixo, listamos alguns dados que explicam essa alternância entre juros e preços, que afetam as economias mundialmente.

1.Atividade nos EUA mais forte que o esperado

Fonte: https://portalibre.fgv.br/sites/default/files/2024-03/202403boletimmacro.pdf - acesso em 9/4/2024.

Os dados recentes de atividade e inflação nos EUA superaram as expectativas, lançando dúvidas sobre o processo de desinflação.

O índice de preços de gastos com consumo (PCE) acelerou para 0,8% em fevereiro. O CPI de março subiu 0,6% e o núcleo, 0,5%. O índice de preços ao produtor (PPI) também teve aumentos significativos.

Isso levou o FED a adotar uma postura mais cautelosa em relação aos cortes de juros, com possíveis impactos na liquidez global. O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, destacou que o dado de inflação de março nos EUA foi "bastante ruim", o que pode limitar a perspectiva de cortes de juros na economia americana.

Os ganhos médios por hora de todos os trabalhadores (US$ 34,69) continuam crescendo acima do dobro da meta de inflação, resistente no patamar acima de 4% ao ano.

Fonte:

A geração de emprego está acelerando novamente e puxará a renda para cima

Os dados de emprego nos EUA no 1º trimestre de 2024 surpreenderam, com a geração de mais de 830 mil novas vagas, quase igualando o ritmo do mesmo período em 2023, que viu a criação de 915 mil vagas. Em março, foram criadas 303 mil vagas, em comparação com 146 mil no mesmo mês de 2023. Desde 2021, foram geradas 15,88 milhões de vagas.

Fonte:

A diminuição do ritmo de redução da liquidez e a expectativa de queda mais acelerada dos juros nos EUA, levaram os preços dos ativos a patamares recordes nos últimos meses.

Fonte: Yardeni balance sheets monthly- acesso em 12/4/2024 – Gráfico elaborado pelo autor

Os preços dos imóveis dobraram desde 2014. Retomaram alta em 2024 e aceleraram.

S&P CoreLogic Case-Shiller U.S. National Home Price Index (até Janeiro de 2024)

Fonte:Fred Economic Data St. Louis Fed - acesso em 10/4/2024.

A dívida pública acima do PIB dede 2016 e o déficit anual, acima de 1,6 US$ trilhões e crescendo.

PIB X dívida pública (2008 - abril 2024)

Fonte: White House Budget of the U.S. Government Fiscal Year 2024 - acesso em 16/4/2024 - Gráficos elaborados pelo autor


Défict fiscal e dívida pública em % do PIB (2008 - abril 2024)

Fonte: White House Budget of the U.S. Government Fiscal Year 2024 - acesso em 16/4/2024 - Gráficos elaborados pelo autor


2. Comportamento das Commodities no primeiro trimestre

A volatilidade dos preços está elevada.

The World Bank - acesso em 10-04-2024 – Gráfico elaborado pelo autor.

As commodities, após ligeiro recuo, estão em alta desde o final de 2023, mas o ritmo acelerou no início do ano.

Índice de Commodities Brasil – código 27574 (2011 a fev de 2024)

Fonte: Banco Central - acesso em 12-04-2024 – Gráfico elaborado pelo autor.

As commodities, após ligeiro recuo, estão em alta desde o final de 2023, mas o ritmo acelerou em março. O destaque é a alta do grupo de metais preciosos.

Índice de preços de commodities do Banco Mundial (2010 a março de 2024)

The World Bank - acesso em 10-04-2024 – Gráfico elaborado pelo autor.

Índice de preços de metais preciosos do Banco Mundial (2010 a março de 2024)

The World Bank - acesso em 10-04-2024 – Gráfico elaborado pelo autor.

O Federal Reserve (FED) enfrenta desafios na condução da política monetária devido à aceleração nos preços do ouro entre março e abril, que atingiram recordes. O ouro é considerado um indicador estratégico importante.

Preços do Ouro (2011 a 10 de abril de 2024)

The World Bank - acesso em 10-04-2024 – Gráfico elaborado pelo autor.

O petróleo vem subindo desde dezembro de 2023, mas a alta se acelerou no início de abril e deve impactar a inflação.

Preços do petróleo Brent (2011 a 10 de abril de 2024)

The World Bank - acesso em 10-04-2024 – Gráfico elaborado pelo autor.

A recente retomada de preços de algumas commodities poderia favorecer as exportações brasileiras.

Preços da carne bovina (2011 a março de 2024)

The World Bank - acesso em 10-04-2024 – Gráfico elaborado pelo autor.

Preços do óleo de soja (2011 a março de 2024)

The World Bank - acesso em 10-04-2024 – Gráfico elaborado pelo autor.

A queda de preços de algumas commodities poderia reduzir as receitas das exportações brasileiras.

Preços do minério de ferro (2011 a março de 2024)

The World Bank - acesso em 10-04-2024 – Gráfico elaborado pelo autor.

A queda de preços de algumas commodities poderia reduzir as receitas das exportações brasileiras e a renda da agricultura.

Preços do milho (2011 a março de 2024)

The World Bank - acesso em 10-04-2024 – Gráfico elaborado pelo autor.

Na soja, a queda de preços é compensada, em parte, pela alta no volume.


Preços da soja (2011 a março de 2024)

The World Bank - acesso em 10-04-2024 – Gráfico elaborado pelo autor.

As exportações cresceram 3,2% no 1º trimestre de 2024 sobre o mesmo período de 2023. Significativa alta de volume em alguns itens compensaram a queda de preços em outros.

Fonte: Comex Stat- acesso em 10-04-2024 – Tabela elaborada pelo autor.

As importações caíram 1,8% no 1º trimestre de 2024 sobre o mesmo período de 2023. Queda de volume e/ou de preços em alguns itens, com destaque em eletrônicos e adubos.

Fonte: Comex Stat- acesso em 10-04-2024 – Tabela elaborada pelo autor.

A previsão de queda da safra 2023-24 está se estabilizando perto de 8%.

Fonte: Conab - acesso em 11-04-2024 – Tabela e gráfico elaborados pelo autor.

CONAB - Evolução das estimativas de Safra (Milhões de toneladas)

Fonte: Conab - acesso em 11-04-2024 – Tabela e gráfico elaborados pelo autor.

A flutuação nos preços das commodities nos últimos meses teve um impacto positivo nas contas externas brasileiras no primeiro trimestre de 2024:

• O superávit da balança comercial alcançou US$ 19,07 bilhões, um recorde na série histórica e um aumento de 22,2% em relação ao primeiro trimestre de 2023.

• O valor das exportações teve um aumento de 3,2%, enquanto as importações caíram 1,8%.

• Queda nos preços em ambos os fluxos de comércio, a redução nas importações foi mais acentuada, atingindo 8,3%, em comparação com a queda de 3,5% nas exportações. É importante notar que as importações estão diminuindo mesmo com o crescimento econômico.

• Até o momento, a variação nos preços das commodities e nos fluxos de comércio tem sido benéfica para o Brasil. Dependendo das ações do Federal Reserve (FED), esse cenário favorável pode continuar.

Fonte: Balança Econômica- acesso em 10-04-2024


3. Conflito Israel x Irã: possíveis impactos

Canal de Suez: anualmente, cerca de 19.000 navios atravessam o canal, com uma média de 50 navios por dia, correspondendo a aproximadamente 14% do comércio mundial.

Estreito de Bab El-Mandeb: é utilizado por petroleiros da Arábia Saudita, dos Emirados Árabes Unidos, e do Kuwait, destinados à Europa e outras partes do mundo através do Canal do Suez.

Estreito de Ormuz: é uma via marítima estratégica e uma das principais rotas de comércio, por onde passam aproximadamente 20% do transporte marítimo mundial e mais de 33% do petróleo global.

Qualquer evento que ocorra nessas regiões tem reflexos diretos no preço da gasolina e na economia global.

4. Mudança da meta de superávit fiscal

A mudança da meta de superávit primário para 2025 e 2026, anunciada pelo Ministério do Planejamento e Orçamento, que passa agora a zero e 0,25% do PIB, respectivamente reforça a desconfiança sobre a intenção do governo em trabalhar pela consolidação fiscal e estabilidade da dívida.

Isso pode resultar em depreciação cambial, inflação, aumento dos juros e menor crescimento econômico.

Fonte: FGV - Lívio Ribeiro e Braulio Borges, pesquisador do Centro de Política Fiscal e Orçamento (CPFO) do IBRE - acesso em 10-04-2024.

5. O que esperar do Brasil?

Por um lado, as exportações brasileiras podem se beneficiar com a alta das commodities, aumentando o saldo da balança comercial de bens.

Por outro lado, a alta dos preços das commodities poderia pressionar a inflação, porém, no caso da queda da safra 2033-24 devido a condições climáticas desfavoráveis, especialmente em soja e milho, os mercados internacionais estão abastecidos e estocados e estes preços no mercado interno não devem subir, beneficiando, então, a produção de aves, ovos e a suinocultura.

Outro benefício à balança comercial brasileira viria de produtos estratégicos, como petróleo e derivados, produtos que o Brasil é superavitário, porém, como suas cotações se dão no mercado internacional, haveria pressão nos preços internos e na inflação.

No final, a relação entre a desinflação e a alta das commodities estratégicas será um desafio para nossa economia. Precisamos lidar com os impactos desses movimentos no mercado internacional em ambiente de incertezas e adotar estratégias para reduzir os feitos negativos e aproveitar as oportunidades que esse cenário pode oferecer.

Ficaremos atentos!


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Johnny Pinheiro Lima

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