Gerações e Desafios: Por Que os Rótulos Nos Enganam?"

Gerações e Desafios: Por Que os Rótulos Nos Enganam?"

A análise de comportamentos geracionais tornou-se uma ferramenta amplamente utilizada para compreender as dinâmicas sociais e profissionais modernas. No entanto, essa prática frequentemente cai em armadilhas perigosas, como generalizações excessivas e desconsideração das influências culturais e sociais. Em um mundo que está em plena transição tecnológica, confundir a habilidade de manipular dispositivos touch com estar verdadeiramente preparado para o mundo digital é um erro comum. Essa confusão reflete um problema maior: a superficialidade com que rotulamos gerações inteiras sem considerar a complexidade de seus contextos.

A crescente crítica sobre esses rótulos geracionais, exemplificada pela carta aberta de 170 cientistas sociais ao Pew Research Center, pede cautela ao aplicar esses conceitos de forma indiscriminada. Essa discussão é particularmente relevante quando observamos a entrada da Geração Z no mercado de trabalho e as críticas dirigidas aos Millennials. Ambos os grupos têm seus comportamentos, necessidades e impactos amplamente discutidos, muitas vezes de forma negativa e simplista, como se fossem os únicos a enfrentar desafios e exibir comportamentos inadequados.

Neste artigo, vamos explorar esses vieses e a necessidade urgente de uma análise mais precisa e contextualizada, utilizando dados demográficos atualizados para revelar uma visão mais clara e menos distorcida da realidade geracional no Brasil.

A Geração Z no Mercado de Trabalho e as Críticas aos Millennials

Atualmente, a maior discussão gira em torno da entrada da Geração Z no mercado de trabalho e das frequentes críticas aos Millennials. Esses grupos são frequentemente alvo de comentários negativos quanto aos seus comportamentos, necessidades, desejos e impactos na sociedade, como se as gerações anteriores fossem isentas de problemas ou comportamentos inadequados.

Números Sobre o Brasil e Suas Gerações

Para realizar uma análise demográfica menos tendenciosa, utilizei dados do Censo Brasil 2022, que apontam uma população de 203 milhões de brasileiros. Ressalto que as datas exatas das gerações podem variar, mas, de acordo com os dados, temos aproximadamente 43,5 milhões de pessoas pertencentes à Geração Z, 47,1 milhões à Geração Y, e 53,8 milhões à Geração X. Confira os números na tabela abaixo:

Informações obtidas IBGE-2023

Para facilitar minha análise, utilizei dados de 2023 do IBGE, devido à indisponibilidade de dados exatos de 2022. Os números encontrados foram:

  • 7,9% da população entre 20 e 64 anos, aptos a trabalhar, estão desempregados, totalizando 9,9 milhões de pessoas;
  • 6,9% da população acima de 15 anos é analfabeta, ou seja, 9,1 milhões de pessoas;
  • 8,0% da população vive em comunidades, representando 16,2 milhões de pessoas;
  • 22,4 milhões de pessoas são excluídas da internet, sendo os motivos mais comuns: falta de conhecimento para usar os serviços, alto custo ou ausência de necessidade percebida.

Quanto aos analfabetos digitais, ainda não há um estudo que quantifique com precisão, mas estimativas indicam que esse número pode estar próximo de 60 milhões, considerando o uso limitado da internet apenas para entretenimento e mensagens via celular.

Mitos Divulgados nas Redes Sociais

  • As gerações nascidas a partir de 1990, rotuladas como "100% digitais", não possuem, na verdade, pleno domínio das tecnologias. Estudos mostram que essa geração tem aptidão limitada para utilizar computadores e softwares corporativos como ERPs, planilhas e editores de texto.
  • A ideia de que as novas gerações irão transformar processos e softwares é verdadeira, mas o tempo necessário para essas mudanças é incerto. Fatores como legislação, compliance, contabilidade, fraudes e a necessidade de adaptação global podem prolongar essa transição por décadas.
  • É equivocado supor que indivíduos da mesma faixa etária, mas de diferentes classes, culturas e contextos educacionais, compartilhem as mesmas experiências e comportamentos. As diferenças regionais são evidentes ao comparar, por exemplo, pessoas que vivem em São Paulo, Correntina, Nova York, Cidade do México, Nakuru, Cantão ou Seul.

Pontos de Atenção

  • A partir de 2030, o Brasil terá a 5ª maior população de idosos do mundo, com mais pessoas acima de 60 anos do que crianças. Isso trará desafios complexos, especialmente considerando que o mercado de trabalho já considera pessoas acima de 50 anos como velhas, e a idade mínima para aposentadoria foi estendida para 65 anos.
  • Desde 2000, o Brasil tem se mantido abaixo do regular/aceitável no ranking do PISA em matemática, ciência e literatura, com uma regressão observada após 2003. Atualmente, o Brasil é a 11ª maior economia mundial, mas esteve na 7ª posição entre 2010 e 2014.

 

Informações obtidas MEC - Ranqueamento Brasil PISA

CONCLUSÃO

Os desafios que se apresentam à população, independentemente da geração ou idade, nos próximos anos são preocupantes e sem precedentes. As ações necessárias estão desalinhadas com as necessidades reais da população. Contudo, é imperativo começar a agir, com foco em:

  • Educação: O Brasil, como 11ª economia mundial, tem investido mais em educação a cada década, mas a qualidade de ensino permanece estagnada há pelo menos três décadas. Planos de longo, médio e curto prazo deve ser implementado com o apoio da iniciativa privada e auditorias independentes, com punições rígidas para o desvio de verbas.
  • Inclusão Digital: A ideia de que todos os indivíduos das gerações X e Millennials e outras são plenamente capacitados digitalmente é uma falácia. Um investimento bilionário será necessário para treinar essa força de trabalho para a realidade corporativa.
  • Envelhecimento Populacional: A elevação da idade mínima para aposentadoria impactará drasticamente o mercado de trabalho. Sem empregos suficientes para absorver essa população, o desemprego, os gastos públicos e a pobreza vão aumentar significativamente.

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