Dez temas para a economia e mercados em 2022
Como fazemos todo início de ano, elencamos dez temas ou riscos que têm potencial de alterar a dinâmica dos preços dos ativos financeiros.
Iniciamos a lista com os temas internacionais:
1- O surgimento de novas cepas do Sars-Cov-2, como a atual variante Ômicron, é um risco que não deve ser minimizado. Afinal, vivemos dois anos extremamente atípicos por conta da pandemia. Uma hipotética nova variante resistente às atuais vacinas disponíveis poderia impactar negativamente a economia global tal como ocorreu em 2020 – porém, o avanço tecnológico na pesquisa, desenvolvimento e produção das vacinas minimizam esse risco. Acreditamos que o cenário mais provável é de que a atual disponibilidade de vacinas e o aprendizado adquirido em como tratar dos surtos reduzem bastante o risco econômico da Covid.
"A atual variante Ômicron provavelmente será a última a provocar cautela em âmbito global."
2- Assim, acreditamos que o vírus ao longo do tempo deixará de ser a preocupação número 1 dos mercados, que se voltará para dois velhos conhecidos: a inflação e/ou a atividade econômica. Nos EUA, recentes indicadores deixaram claro que há um processo inflacionário a ser combatido ao longo dos próximos anos com aperto da política monetária. Nosso cenário base contempla pelo menos 12 altas trimestrais consecutivas de 0,25 p.p na Fed Fund Rate a partir de março de 2022 até dezembro de 2024. Por outro lado, na China, vemos potencial de desaceleração da atividade econômica além daquela induzida pelo governo (pelo menos no 1S22) e por isso esperamos afrouxamento adicional da política monetária no início do ano.
3- O mercado global também estará atento às eleições no legislativo norte-americano em novembro. Há quase consenso de que os democratas devem perder o controle da Câmara, já que a midterm election é uma espécie de teste da popularidade do presidente no meio de seu mandato e Biden tem registrado baixa popularidade quando comparado a outros presidentes no mesmo período (a percepção de inflação alta é um agravante para esse prognóstico). A expectativa é que os democratas mantenham o controle do Senado.
4- No 20° Congresso do Partido Comunista Chinês em novembro, o atual Secretário-Geral do partido e Presidente da República, Xi-Jinping, deverá mais uma vez demonstrar força e renovar seu mandato (Xi é reeleito desde 2013). Obviamente, a geopolítica global e as relações da China com os EUA e países do bloco europeu são bastante afetadas pelas diretrizes apontadas pelo Politiburo.
5- A continuidade da “Cold War” entre EUA e China. O cenário mais provável parece ser de redução das fricções entre os dois países nos próximos meses, sem, contudo, resolver as animosidades entre as duas principais potências. A disputa pela supremacia tecnológica, militar e da corrida espacial deverá ganhar novos capítulos em 2022. Porém, no curto prazo, não temos expectativa de “decoupling” entre as duas economias – dado seu forte grau de interligação. Vemos alguma fragmentação nos setores de tecnologia e de comunicação, mas não econômica.
6- Em 21 de Novembro terá início a Copa do Mundo de Futebol, no Quatar – aliás, o primeiro país do Oriente Médio a sediar o campeonato da Fifa. É, eu sei, esse evento não se enquadra dentre aqueles “que têm potencial de alterar a dinâmica de formação de preços de ativos financeiros”, mas resolvi incluí-lo na lista de eventos “importantes” do ano – afinal de contas, serão 32 seleções que deverão atrair até dia 18 de dezembro a atenção de bilhões de pessoas ao redor do mundo. Qual seleção vencerá o torneio? O Brasil terá alguma chance? Note que o campeonato começa após o país ter ido às urnas.
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Agora a lista com os temas domésticos:
7- As eleições de outubro são o principal evento do ano no Brasil. Aliás, para muitos o único evento que importa (não é o que pensamos). É claro que o resultado da eleição presidencial ainda está indefinido, mas as pesquisas divulgadas no final de 2021 e início de janeiro, indicam que o cenário mais provável é de polarização entre o atual presidente da República e o ex-presidente Lula. Assim, em nossa visão, o maior risco para a sociedade é a armadilha da escolha entre dois populismos: um pretensamente de “direita” e outro pretensamente de “esquerda”. O mercado ainda espera o aparecimento daquilo que se convencionou chamar de “terceira via”. Até o momento alguns nomes já se apresentaram, mas nenhum se viabilizou junto ao eleitorado (Moro, Dória, Ciro e outros). Vale lembrar que 2022 marca 200 anos da independência do Brasil de Portugal.
"O mercado ainda espera o aparecimento daquilo que se convencionou chamar de 'terceira via'. Até o momento alguns nomes já se apresentaram, mas nenhum se viabilizou junto ao eleitorado (Moro, Dória, Ciro e outros)".
8- Estimamos crescimento nulo para a economia brasileira em 2022, mas o viés é claramente baixista. Nossa mais recente estimativa aberta para a evolução da atividade neste ano é de crescimento apenas para o PIB agropecuário, de cerca de 2,5%. Entretanto, recentes eventos climáticos adversos causaram perda de safra e redução de área plantada, reduzindo a produção (PIB) do setor – aumentando a probabilidade de o PIB brasileiro registrar retração em 2022. Os outros componentes do PIB, serviços e indústria, devem mostrar retração por conta da política monetária restritiva, erros da condução da política econômica (em especial os questionamentos quanto às regras fiscais e a falta de reformas de estruturais), gestão deficiente da crise da Covid etc. Esperamos crescimento nulo ou negativo em 3 dos 4 trimestres do ano (2T ao 4T). Em nossa visão, a absorção doméstica deve crescer cerca de 1/2 ponto percentual a menos que o PIB (produto) em 2022 com pelo menos duas consequências: i) menor pressão inflacionária dos preços livres e ii) risco de crédito para o sistema com provável aumento da inadimplência.
9- A questão ambiental é fundamental na agenda de qualquer sociedade que avançou no processo civilizatório. Não é um debate ideológico de direita ou esquerda. Neste ponto, o Brasil continuará sendo cobrado a tomar ações contra o desmatamento e as empresas brasileiras obviamente terão que arcar com custos maiores para mostrar ao mundo que não compartilham do negacionismo ambiental atualmente instalado no país. Em novembro, ocorre no Egito a Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP27) que deverá discutir, entre outros assuntos de interesse do Brasil, o mercado de crédito de carbono.
10- O risco eleitoral (risco dos “populismos”), a falta de reformas e a normalização da taxa de juros nos EUA são alguns fatores que podem contribuir com a elevação da taxa de juros real neutra (ou estrutural) da economia brasileira. Por ser uma variável não-observável e dinâmica, sua estimativa é incerta, mas é importante na condução da política monetária. Modelos robustos atualmente apontam para estimativas entre 3,5% e 4,0% para esta taxa. O maior risco que vemos para os preços dos diversos ativos (renda fixa, renda variável e outros) é uma elevação significativa da taxa de juros neutra por conta de questionamento de natureza fiscal ou questionamentos sobre a necessidade de reformas (ou até o risco de revisão de reformas já realizadas em governos anteriores).
Enfim, o ano de 2022 está cheio de desafios e oportunidades. A sociedade brasileira, neste 200°. da independência, terá que olhar para o futuro e fazer escolhas. Espero que tais escolhas coloquem o país na rota do crescimento de longo prazo com aumento de produtividade e redução de desigualdade social. E aí possamos ter um feliz e próspero 2023 em diante!
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Por Cristiano Oliveira, economista-chefe do Banco Fibra
Diretor de Originação na Intrabank Asset com expertise em Finanças e Gestão
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