Revista Miolo: um corpo partilhado // Experiência de edição/editorial
A revista Miolo é pensada e produzida coletivamente por designers e artistas que integram o projeto de pesquisa e extensão da Escola de Belas Artes da UFBA, Tiragem: Laboratório de Livros, com o desejo de fazer circular experimentações poéticas por meio de publicações periódicas. Dessa maneira, a Miolo apresenta processos artísticos de diferentes linguagens, através de trabalhos de pesquisadores, poetas, designers e artistas do Brasil inteiro.
Quanto a mim, entrei para a equipe da revista no final de 2017, e em 2018 publicamos o primeiro número da revista. No início, a revista ainda fazia experimentos para seu projeto gráfico, e, igualmente tentava modelar seu conteúdo e formato. Foi então, em 2019, com a equipe renovada, novas propostas e ideias, que a revista conseguiu firmar suas diretrizes. Em primeiro lugar, os trabalhos foram selecionados por meio de uma chamada aberta pela internet com a temática de "Um corpo partilhado", na busca por novas estratégias de diálogos que permitissem uma reconfiguração das relações entre pessoas, cidade, trabalho, produção e consumo. (o texto completo da chamada aberta pode ser acessado no seguinte link: www.tiragem.ufba.br/miolo-2-aberta-chamada-publica/).
Com o tema “UM CORPO PARTILHADO”, o segundo número da revista MIOLO quer se aprofundar nas relações entre o que se vê e o que se diz, entre o que se faz e o que se pode fazer politicamente no campo das artes, do design, dos fazeres artesanais: temos o desejo de conhecer novas estratégias de diálogos que permitam uma reconfiguração das relações entre pessoas, cidade, trabalho, produção e consumo.
Em segundo lugar, o projeto gráfico deste volume foi desenvolvido em paralelo as experimentações e vivências da equipe em processos, como tipografia, serigrafia, corte à laser, risogravura e encadernação manual. Para mim, a experiência me tirou da zona de conforto. Estou acostumada a fazer projetos gráficos, a diagramar utilizando o meio digital, mas, nessa revista, usamos tipografias artesanais, para, em vários momentos, planejamos nosso grid na mão; pensamos a encadernação também a partir da nossa própria experiência. Foi incrível! Eu, por exemplo, não conhecia o processo de impressão de risogravura, e, em Salvador, só existe uma máquina que trabalha com esse processo no Ativa Atelier Livre. A equipe esteve fazendo muitos testes, desde conhecer os princípios da impressão, a máquina, suas sutilezas e combinações de cor. Utilizamos esses processos do início ao fim. Foram essas interferências manuais e técnicas artesanais de impressão na revista que conferiu a ela um carácter singular, aliando o conceito dos trabalhos em cada uma dessas etapas com a estrutura da revista.
Tanto a diagramação dos textos, quanto a escolha das imagens foram pensadas em parceria entre a equipe da revista e as pessoas que enviaram suas obras, numa espécie de curadoria colaborativa. A abertura para esse diálogo com os autores das obras selecionadas permitiu interferências em diferentes níveis na configuração dos trabalhos, seja esteticamente ou nas questões relacionadas à edição de conteúdo, depender da abertura e disponibilidade de cada parte envolvida.
A revista se estrutura a partir de quatro seções intercambiáveis: Entrevista, Perfil, Respiro e Ensaio. A proposta, apresentada por Laura Castro para este volume, revelou que a seção de entrevistas poderia ser um espaço promissor para a realização de exercícios de linguagem e forma. Os "ensaios" agrupam tanto conjuntos de imagens fotográficas organizadas em torno de um conceito, quanto textos de opinião, baseado em referências, sobre um assunto específico. Os "respiros" são obras que cumprem um papel organizacional dentro da estrutura da revista, que funcionam como intervalos entre uma obra e outra.
Compreendemos a prática editorial como experiência de ensino-aprendizagem. Através da elaboração de vivências, procuramos experimentar as técnicas gráficas incorporadas ao projeto da revista, abrindo, deste modo, clareiras para que as estudantes cultivassem suas poéticas além do espaço da publicação. São frutos destes processos a exposição Respiros Poéticos, de Zulmira Correia — orientada por Laura Castro e Evandro Sybine —, e os perfis de Gabriela Correia compostos, respectivamente, a partir de uma visita a uma antiga tipografia no centro histórico da cidade e através de saídas fotográficas com poetas que colaboraram com o pojeto desde os momentos iniciais.
É válido mencionar ainda, que dentro desse processo de experimentação coletiva, nasceu o projeto artístico que deu origem a minha primeira exposição individual enquanto artista, em setembro de 2019, com o projeto, Respiros Poéticos: percursos, poesia e materialidade, a qual já foi apresentado em outro artigo aqui no LinkedIn. Com esse mesmo projeto, fui incentivada a escrever um artigo para a revista. Tal experiência formativa dentro da Tiragem me permitiu conhecer processos, descobrir mais sobre design editorial, e até descobrir minha linguagem artística.
Parte da equipe Miolo 2019: Larissa Monteiro | Lia Cunha | Maria Carolina | Rebecca Cerqueira | Zulmira Correia | Gabriella Correia | Taygoara Aguiar
- Edição: Tiragem: Laboratório de Livros (tiragem.ufba.br)
- Coordenação: Flávia Goulart e Taygoara Aguiar
- Editor-chefe: Taygoara Aguiar
- Curadoria e direção de arte: Lia Cunha
- Produção gráfica: Larissa Monteiro, Lia Cunha, Taygoara Aguiar
- Diagramação e projeto gráfico: Larissa Monteiro, Lia Cunha, Maria Carolina Barbosa, Rebecca Cerqueira, Taygoara Aguiar e Zulmira Correia
- Tratamento de Imagens: Gabriella Correia
- Revisão: Bernardo Machado e Laura Castro
- Comunicação e redes sociais: Gabriella Correia, Larissa Monteiro, Maria Carolina Barbosa, Rebecca Cerqueira e Zulmira Correia
Mais informações em: http://www.tiragem.ufba.br/
Motion Designer | Illustrator
4 aRevista com um editorial incrível! Parabéns a equipe 👏🏻