Dia da Consciência Negra – Resgate da história de um dos mais importantes brasileiros e abolicionistas

“Esquecer, jamais... não relembrar o Holocausto significa assassinar as vítimas pela segunda vez; tornar-se cúmplice do inimigo. Por outro lado, relembrar significa sentir compaixão pelas vítimas de todas as perseguições” Elie Wiesel, prêmio Nobel da Paz de 1986.

Se entendermos que o holocausto do povo judeu se iniciou com a ascensão de Hitler, na Alemanha, e foi até o final da segunda guerra mundial, isto é, durou cerca de 15 anos e dizimou cerca de 6 milhões de pessoas. Sem tentar diminuir essa mácula da história, a escravidão, no Brasil, durou cerca de 400 anos e não há dados, sequer por estimativa, de quantos morreram.

A memória da escravidão no Brasil foi proibida e literalmente queimada na primeira República (decreto de 14/12/1890), por ordem do então Ministro e Secretário de Estado e Negócios da Fazenda e Presidente do Tesouro Nacional, Ruy Barbosa. Inicialmente, ao ler que nosso Águia de Haia “teria” ordenado que os documentos referentes à escravidão fossem queimados; não acreditei! Fui pesquisar na Fundação Ruy Barbosa, no Rio de Janeiro, e descobrir que é verdade! Documentos sobre a escravidão no Brasil foram queimados...

Tenho cópia do documento e posso compartilhar com os interessados (e-mail: aasp1821@terra.com.br).

Parafraseando Elie Wiesel, “não podemos esquecer a escravidão no Brasil, sob pena de nos tornarmos cúmplices desta prática nefasta”.

Muito menos, não podemos deixar de dar o devido lugar na história às pessoas que fizeram a diferença para acabar com o genocídio/holocausto de seres humanos no nosso País.

Houve um homem que ousou lutar, valeu-se de sua eloquência, perspicácia e determinação à causa abolicionista.

Esse homem sintetiza a própria escravidão - que sentiu na própria pele.

Resgatar a história desse brasileiro é não esquecer a escravidão, e lutar para que não volte sob qualquer forma, é ter compaixão pelos que pereceram e sofreram cativos.

Esse homem:

  • nasceu livre em 21 de junho 1830, em Salvador;
  • sua mãe, Luiza Mahin, negra e de religião muçulmana, se envolveu nas Revoltas dos Malês e posteriormente Sabinada, teve que fugir para o Rio de Janeiro para não ser presa e abandonou o filho;
  • seu pai, fidalgo de origem portuguesa, em 10 de novembro de 1840, o vendeu como escravo para saldar dívidas;
  • na adolescência aprendeu a ler e escrever com o estudante Antônio Rodrigues do Prado Junior, hóspede na casa de seu “dono”;
  • com cerca de 18 anos fugiu da casa onde era escravo e, com astúcia, provou que não poderia ser escravo e voltou a ser livre;
  • alistou-se na Guarda Municipal de São Paulo e logo passa a ser ordenança do Conselheiro Francisco Maia de Souza Furtado de Mendonça, seu chefe e catedrático da Faculdade de Direito, do Largo de São Francisco;
  • cerca de 6 anos após alistar-se na Guarda Municipal abandona a carreira militar em decorrência de atos tidos como de insubordinação;
  • tentou cursar a faculdade de direito do Largo de São Francisco, mas sofreu resistência dos alunos e professores, persistiu como ouvinte e passou a atuar como rábula na defesa da liberdade dos escravos - estima-se que libertou mais de 500 escravos;
  • em 1856 foi nomeado amanuense (copista/escrevente) da Secretaria de Polícia de São Paulo, aproveitando para ler todos os livros disponíveis na biblioteca daquela instituição;
  • destacou-se como jornalista e colaborador de diversos periódicos, projetou-se como poeta e assinava sátiras contra a classe escravocrata - dominante na época;
  • foi reconhecido como um dos grandes representantes da segunda geração de romancistas;
  • com a ajuda de Ângelo Agostini fundou o semanário “Diabo Coxo”, primeiro jornal ilustrado da província de São Paulo;
  • publicou o poema “Meus Amores”, o primeiro a exaltar a sensualidade e beleza da mulher negra;
  • fundou em 1860, juntamente com Ruy Barbosa, o Jornal  O Radical Paulistano;
  • sua frase celebre foi imortalizada “é um ato de legítima defesa um escravo matar o senhor”;
  • sobre seu enterro, que comoveu a cidade toda, relatou Raul Pompéia “mais de 3.000 pessoas participaram, numa cidade que estimava 40.000 habitantes. Antônio Bento durante o sepultamento no cemitério da Consolação em São Paulo, com a voz embargada, ergueu o braço direito e conduziu a multidão ao juramento de que  não deixariam morrer a causa abolicionista –  e a multidão, em uníssono, jurou que lutaria pela abolição”.

Esse homem quebrou as correntes com sua competência no uso das palavras, escrita e verbal, o Brasil deve, e deve muito, a ele que não foi só um abolicionista, foi um dos mais importantes deles.

Esse homem tem direito a todas as honras e ao resgate da sua história, para a história, sob pena de nos tornamos cúmplices destes quatro séculos de dor e desrespeito aos seres humanos.

Esse brasileiro se chama LUIZ GONZAGA PINTO GAMA ou LUIZ GAMA, o precursor do abolicionismo no Brasil.

A Luiz Gama, deixo minha homenagem.

Sugestão de bibliografia:

  • O precursor do Abolicionismo, Sud Mennucci, Companhia Editora Nacional – 1938 (haviam exemplares para venda no site Estante Virtual)
  • Luiz Gama, Luiz Carlos Santos, Selo Negro Edições
  • Com a Palavra, Luiz Gama, Ligia Fonseca Ferreira, Imprensa Oficial – SP (IMESP)


.'. Dirceu Lima

Sócio | Sempre Consultoria e Treinamentos

6 a

Valeu maninho!

Israel Cruz

Advogado Trabalhista Empresarial - Liderança de Equipe

6 a

.'. Dirceu Lima, parabéns profícuo texto. Ótima lembrança!

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