Dia do Escritor e o pão de queijo na casa de um amigo
John Williams escrevendo

Dia do Escritor e o pão de queijo na casa de um amigo

Eu comecei assim este texto: Hoje, 25 de julho de 2024, comemora-se o Dia Nacional do Escritor. Para celebrar este dia especial, vou citar passagens de livros que me ocorreram por agora e considero interessante, abrangendo autores diversos e leituras do nosso cotidiano.

Vocês perceberam que não consegui finalizá-lo no dia da festa, certo? E tudo bem também. Sem pressa, numa boa, sem as neuras da produtividade. Enfim, vamos às páginas.

O pão de queijo.

Outro dia, estava conversando com uns amigos sobre o comportamento dos avós em relação aos netos e dos avós em relação aos seus próprios filhos. É aquela panela de pressão já conhecida: os avós querem que os netos comam e façam tudo daquele jeito; os pais acham que para criar a nova geração precisa ser assim e assado. Raros são os consensos. E a harmonia e saúde mental, nesses momentos, vai parar onde?

Foi então que me lembrei do pão de queijo na casa de um amigo. Aqui em casa, fui programado a comer pão de queijo com requeijão, mostarda e afins. O ritual é: cortar o pão de queijo ao meio, passar o requeijão e comer. Mas na casa do meu amigo a coisa se deu diferente. Sem grande cerimônia, ele passou o requeijão por cima do pão de queijo e comeu. Simples assim. Rápido e prático. Na hora, foi como uma eureca: “como não tinha pensado nisso antes?”

Só que, quando alguém faz alguma coisa diferente daquilo que estamos habituados, tendemos a torcer o nariz e a mostrar como é que deve ser feito. Tudo que é diferente deve ser modificado segundo o nosso entendimento. Tudo que é diferente deve ser combatido, de modo que faremos o possível para deixar como estamos habituados a fazer. No entanto, raríssimas são as vezes que o diferente também pode ser bom, prático e rápido. Em outras palavras, como seria bom se admirássemos o que é diferente da gente.

A gente mira no amor e acerta na solidão.

Uma amiga me emprestou o livro “A gente mira no amor e acerta na solidão” com grande entusiasmo: “Esse livro é sensacional”, disse. Estou lendo, avançando as páginas, e para um estudante de Psicologia (e de Psicanálise) é realmente um banquete de insights e ideias. Mas não quero mirar no amor e nem na solidão. Vamos à página 55, em quem Ana Suy aponta a sagacidade de Clarice Lispector:

Olhar-se ao espelho e dizer-se deslumbrada: Como sou misteriosa. Sou tão delicada e forte. E a curva dos lábios manteve a inocência. Não há homem ou mulher que por acaso não se tenha olhado ao espelho e se surpreendido consigo próprio. Por uma fração de segundo a gente se vê como a um objeto a ser olhado. A isto se chamaria talvez de narcisismo, mas eu chamaria de: alegria de ser. Alegria de encontrar na figura exterior os ecos da figura interna: ah, então é verdade que eu não me imaginei, eu existo.

Mentiras no divã.

O psiquiatra Irvin Yalom tem um jeito de fazer terapia que muito me agrada. Suas ideias são fascinantes e cheias de elasticidade, preocupada mais em olhar para o paciente do que para a própria abordagem. Seu livro “Os desafios da terapia” é uma grata surpresa no mundo literário da psicologia. Sua experiência clínica é retratada não como um manual, mas com excelentes ideias e possibilidades para os profissionais e estudantes da área da saúde.

Em “Mentiras no divã”, outro livro dele, há um trecho que me chamou atenção. Ele escreveu: “Esqueça aquela bobagem sobre o paciente não estar pronto para a terapia! É a terapia que não está pronta para o paciente. [...] Você conhece a velha história: a operação foi um sucesso, mas o paciente morreu”.

Stoner.

Sempre que me perguntam de livros, um dos primeiros que me vem à mente é “Stoner”, de John Williams. A sua escrita é tão organizada, limpa e precisa, que acaba se tornando uma referência.

Na página 67, fiz uma marcação que exemplifica o que estou querendo dizer e coloca uma pitada de reflexão em todos aqueles que desfilam pelos corredores empresariais: “Como muitos homens que consideram seu sucesso incompleto, era extraordinariamente vaidoso e consumido pela noção de sua própria importância. A cada dez ou quinze minutos, tirava um grande relógio de ouro do bolso do colete [hoje seria o celular], olhava-o e assentia para si mesmo".

Cuidar desse aspecto é uma boa maneira de construir uma reputação de sucesso.

Carregando livros.

No Dia do Escritor, 25 de julho de 2024, quinta-feira, fui visitar a reforma do apartamento da minha tia. Em um dos quartos há uma belíssima coleção de livros – desde os mais técnicos da área da Fonoaudiologia até romances e crônicas de Machado de Assis. Um local eclético, que já foi palco de inspiração e motivação para as minhas leituras e escritas.

Mas, justamente no Dia do Escritor, lá estava eu carregando uma infinidade de livros de um quarto para o outro. Um trabalho de quase 30 minutos. Muito peso. Muito conhecimento. Ótimas referências. E dois pensamentos sobressaltaram enquanto desenvolvia o meu trabalho: 1) Mudança (ou reforma da casa) não é fácil. Dá trabalho. Exige esforço. Paciência. Flexibilidade. E então me veio uma boa metáfora para eu usar com meus futuros pacientes; 2) Carregar livros, no Dia do Escritor, dos mais diversos e geniais autores, me pareceu um ótimo convite a continuar carregando as minhas palavras por onde quer que eu vá – um dia, quem sabe, a gente chega lá?

Feliz Dia do Escritor atrasado!   

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