No dia dos publicitários, uma boa história de publicitário.
A profissão de publicitário sempre me trouxe grandes prazeres. Criar campanhas para grandes e pequenas marcas globais ou locais. Conhecer países com diferentes culturas em diferentes continentes. Conhecer também diversas celebridades de teatro, cinema, TV e moda. Tom Jobim, Tom Zé, Zé Rodrix, Fernanda Montenegro, Paulo Autran, Miguel Falabella, Pelé, Rai, Carolina Ferraz, Jô Soares, Tony Ramos, Paola Oliveira e muitas outras. Muitas vezes, me senti o próprio personagem de Tom Hanks no filme Forrest Gump. Mas um desses momentos me marcou bastante. Estava eu, com outra celebridade, essa da indústria da Comunicação, chefão da WMcCann, Washington Olivetto, indo para Vevey, na Suíça, apresentar uma campanhaimportante na Nestlé. Chegamos em Vevey e fomospara a reunião, que foi muito boa. Ao final dela, estávamos com muita fome. Então, um dos clientes da reunião, o Frank Pflaumer, deu uma dica: – Vocês merecem jantar no restaurante do Grand Hôtel du Lac.
Saímos do prédio da Nestlé, aliás, uma obra-prima da arquitetura, com obras de arte maravilhosas no saguão e em cada um dos andares, incluindo uma escultura do Calder que deixou o Olivetto absolutamente deslumbrado. Resolvemos ir a pé até o restaurante. Tínhamos a informação de que ele ficava a uns mil e quinhentos metros de onde estávamos. Caminhamos uns 50 metros e começou a chover muito.
Como a chuva era realmente forte, recorremos a um abrigo de ônibus. Claro que não passou nenhum táxi enquanto estávamos ali. Os táxis aguardam os passageiros nos pontos de táxi. Mas, em poucos minutos, parouum ônibus. Olivetto me olhou, não falamos nada e subimos no ônibus, com a esperança de que ele passasse por um ponto de táxi. Já no ônibus, percebemos que o motorista falava vários idiomas. Falou com um passageiro em francês, outro em alemão e outro ainda em inglês. Então, resolvemos perguntar se no caminho existia algum ponto de táxi, pois queríamos ir até o Grand Hôtel du Lac. O motorista respondeu: Vou passar na porta do Grand Hôtel du Lac. Chegamos na frente do hotel, o ônibus parou, descemos e entramos.
O restaurante era o Les Saisons, um Relais & Châteaux estilo slow food, espetacular. O chef tem uma culinária marcante que sempre traz alguma coisinha de berinjela no prato. Comemos de entrada um excepcional ravioli frito de leite de cabra, com uma espécie de purê de berinjela embaixo, delicioso. E, depois, uma carne maravilhosa, também com algo de berinjela do lado, e umas batatas suíças de tirar o chapéu. Tudo acompanhado de pães de azeitona e um vinho tinto suíço, que não ficou devendo nada para os melhores da Borgonha. Claro que, preparada com o melhor chocolate suíço, até a sobremesa surpreendeu.
Foi um jantar gourmet inesquecível desde o início, com nossa aventura procurando por um táxi, pegando um ônibus por conta da chuva e descendo bem na porta do restaurante. Isso é que eu chamo de situação Forrest Gump na qual muitas vezes minha profissão de publicitário me coloca. Numa noite chuvosa em que eu não imaginava nada de sensacional, acabei andando de ônibus com uma celebridade como o Washington Olivetto, ônibus esse guiado por um motorista poliglota, que também conhecia um dos melhores restaurantes da Suíça. Que país, que educação, que restaurante, que vinho.
Tudo para te dizer o seguinte: quando estiverem em Vevey, na Suíça, dêm um pulo no restaurante do Grand Hôtel du Lac, vocês não vão se arrepender.
Milton Cebola Mastrocessario