Dicas para cobrir mobilidade urbana no jornalismo

Dicas para cobrir mobilidade urbana no jornalismo

O jornalismo passa por diversas crises, que passam pelo modelo de negócios, pelas redações enxutas e pela prevalência das redes sociais. A cobertura da mobilidade urbana é só mais um dos campos afetados por essas múltiplas crises. Para repórteres experientes, o jornalismo ainda cede para a centralidade do carro no espaço urbano e tem dificuldades em promover uma mobilidade urbana sustentável.

O tema foi abordado na live “Como comunicar a mobilidade? Experiências do jornalismo no Brasil”, promovida pelo PBM (Painel Brasileiro da Mobilidade). Estiveram presentes a jornalista Roberta Soares, do Jornal do Commercio, e Rogério Viduedo, do Jornal da Bicicleta.

Um caso recente que expôs as falhas na cobertura foi o do sinistro do ator Kayky Brito. Roberta conta que aproveitou o ocorrido para falar sobre segurança viária em seus textos. Neles, ficou claro que nem o motorista, nem o ator tiveram culpa, mas sim, um sistema que permitiu trafegar a 70 km/h naquela via.

Matérias com olhar humano que questionam a centralidade dos automóveis ainda é um desafio no jornalismo brasileiro. “Na mobilidade urbana, esse impacto [da crise no jornalismo] é maior, porque falamos de uma área historicamente fundamentada na cultura do transporte individual. Mudar essa cultura é uma luta árdua e permanente”, diz Roberta.

No Jornal do Commercio, a repórter aborda temas sobre sinistros de trânsito e tarifa zero. “Minha política é a mobilidade urbana sustentável, são as cidades humanas, com menos velocidade e mais interação social. Precisamos entender isso”, ela pontua.

Crise no jornalismo de mobilidade urbana

Rogério Viduedo trouxe à discussão outra dificuldade enfrentada pelo jornalismo: a de financiamento. O projeto Jornal da Bicicleta, por exemplo, consegue se sustentar com dinheiro do Centro Internacional para Jornalistas e com o suporte da Meta e do Google.

Ele vê que veículos maiores dependem do financiamento via anúncio de grandes empresas, nem sempre comprometidas com a mobilidade urbana ativa e sustentável. “Falta financiamento para o jornalismo em geral e mais ainda para o tema da mobilidade urbana”, ele opina.

A “cultura carrocêntrica”, assim, ainda impera na cobertura jornalística hegemônica e também na agenda do poder público, que prioriza investimentos em transporte individual. Com isso, o debate público termina carecendo de soluções para redução do congestionamento e da emissão de poluentes.

O Jornal da Bicicleta foi criado em 2018 com o objetivo de abordar pautas relacionadas ao transporte por bicicletas. A cobertura é focada no setor público e pautas como a condição ruim das ciclovias da Prefeitura de São Paulo são recorrentes: “Conheço os meandros da construção de ciclovias e dos seus contratos. Isso acaba incomodando a prefeitura. O Jornal da Bicicleta é útil para as pessoas acompanharem a evolução da bicicleta”, diz Rogério.

Com matérias mais críticas, tanto Rogério quanto Roberta acreditam que o poder público também se fecha aos veículos de comunicação na hora de falar dos problemas da mobilidade urbana. Atrasos em respostas, por exemplo, obrigam jornalistas a apelar para a LAI (Lei de Acesso à Informação) cada vez mais. Nesse modelo, os repórteres fazem pedidos diretamente para secretarias, em um processo que dura pelo menos 20 dias.

Como melhorar o jornalismo de mobilidade urbana

A solução para melhorar o jornalismo de mobilidade urbana está na qualificação do trabalho jornalístico. Rogério, por exemplo, já conduziu treinamentos em diversas redações pelo Brasil, entre elas, a da Agência Mural, veículo voltado à cobertura da periferia. Com isso, os jornalistas ficam mais preparados para abordar a mobilidade urbana segura e sustentável.

Rogério apontou alguns temas desta área para se ter atenção na cobertura jornalística:

  • Tarifa zero e transporte público;
  • Privatizações do Metrô;
  • Eletrificação do transporte;
  • Carros autônomos ou voadores;
  • Segurança viária;
  • Mudanças climáticas.

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