AS DIMENSÕES HUMANAS - Suas Influências no Mundo Corporativo e no Processo de Facilitação de Grupos
Quando refletimos sobre qualquer processo de aprendizado, é essencial para o profissional que estiver auxiliando na condução do grupo ou indivíduo, que leve em consideração a forma como cada um em sua audiência assimila o aprendizado e como o grupo funciona no uso dessa diversidade.
Existem no mercado várias formas para identificar essas diferenças em um grupo ou em indivíduos. Aqui vamos tratar de um conceito de um desses muitos caminhos.
Durante um programa experiencial, ainda que o facilitador se apoie em informações anteriores à sua condução, tal como um diagnóstico ou briefing, que pode ser gerado com diferentes ferramentas, ele precisará ter seu olhar para os indivíduos e para o grupo durante a ação, seja ela de que natureza for.
Se quiser ter um trabalho que gere resultado positivo, deve buscar identificar quais características aparecem, com qual intensidade e por meio de quem.
Ao darmos um "zoom out", nos distanciando e procurando entender o propósito do nosso trabalho, iremos perceber que, o foco costuma ser, trazer mais luz para a auto percepção dos indivíduos, ajudando-os a crescer, compreender-se melhor, mudar.
Com diferentes olhares e estímulos específicos para cada momento que o grupo atravessa ao longo de um programa, o pano de fundo no qual estamos atuando sempre é a forma como as Dimensões Humanas são expressas pelos indivíduos no cotidiano.
Este é um arquétipo proposto por Rudolf Steiner, criador da Antroposofia, que norteia a forma como agimos e interagimos com outras pessoas e com o mundo que nos cerca. A Trimembração do Ser Humano, representada por suas 3 Dimensões: o PENSAR, o SENTIR e o QUERER. Aí reside a energia básica para se iniciar qualquer processo de aprendizado ou mudança.
O PENSAR: Está localizado no sistema neuro-sensorial, no cérebro, parte mais fria do nosso corpo. Sistema que fica suspenso em um líquido para receber a menor influência possível do externo. O Pensar “saudável" é caracterizado dentre outras qualidades, pela lógica, clareza, consistência, racionalidade, etc. Se identifica com o que não é material (gosto, som, imagens), guarda a essência das coisas.
O QUERER OU AGIR: Localizado no sistema metabólico locomotor. O Pensar é colocado em ação por meio dos músculos, mãos, braços, pernas, com a fala e outros movimentos. Nossa capacidade de transformação reside aí. Essas forças, do Querer ou do Agir, são complementares a força do Pensar.
O SENTIR: Fica no sistema rítmico do ser humano, formado pelo coração, pulmões e sistema circulatório. É a força que une o PENSAR e o QUERER e atua com as polaridades da simpatia e antipatia. Gosto ou não gosto. É uma energia mais volátil que impulsiona as demais.
Se pararmos para refletir um pouco sobre nosso ambiente de trabalho e vida pessoal, fica fácil perceber pessoas que são mais ligadas ao PENSAR, precisam saber mais dados para decidir, dominam conceitos mais facilmente, são bons de argumentação, têm excelentes ideias, mas em contrapartida podem ter dificuldade de fazer acontecer. Podem ser estrategistas fantásticos ou sonhadores que não saem do campo das ideias, prolixos e burocratas.
Há aqueles que são pessoas do AGIR, saem fazendo sem pensar e planejar, tem um QUERER fortíssimo e podem ser percebidos como fazedores. Pessoas que realizam, mas que muitas vezes pagam um preço mais alto por não PENSAR muito. Podem ser empreendedores corajosos, como podem ser percebidos como verdadeiros tratores, pessoas que não ouvem e saem fazendo do seu jeito.
Assim como há também os que têm mais energia no SENTIR. Estes podem ser percebidos como imaturos, choram com anuncio de margarina ou aqueles de pavio curto, explosivos. Podem ser também aqueles que se preocupam com a qualidade do ambiente, das relações e costumam ter uma presença natural para facilitar conflitos, inspirar, engajar e mobilizar pessoas.
Por meio de uma análise mais profunda é possível perceber inclusive o que norteia organizações inteiras. Assim como com as pessoas, as empresas também podem ter mais desenvolvidas uma das Dimensões.
Estes princípios permeiam as organizações o tempo todo e principalmente em processos de mudança.
A maneira como lidamos com essas forças e o nível de consciência que temos em relação a elas pode facilitar ou dificultar a vida dos indivíduos e equipes.
Essas energias são de igual importância e a sabedoria está em saber a hora de pender mais para um lado ou para outro, saber qual perfil de pessoa deve ocupar qual posição em qual momento.
Quando estão em equilíbrio aumentam a possibilidades das equipes atuarem com alta performance, criando ambientes harmônicos e equipes sinérgicas.
Dado o ritmo acelerado com que ocorrem mudanças e crises no mundo hoje, é comum vermos empresas muito focadas no AGIR, o que acaba por gerar um desequilíbrio neste sistema. O que acaba muitas vezes soterrando as outras duas e gerando apagadores de incêndio, especialistas em “fazejamento”, pessoas desmotivadas e/ou pouco comprometidas.
É preciso estar consciente do que sentimos quando algo dá errado ou algo dá certo, quando superamos um grande desafio ou quando nos frustramos, seja individualmente ou em equipe.
O PENSAR é mais presente, mas o ritmo acelerado do cotidiano nos permite pensar o mínimo necessário para seguir produzindo.
Retornando ao cenário de atuação do facilitador de grupos, é de extrema importância no processo de desenvolvimento de um grupo, que seu mediador domine as técnicas que permitam levar o grupo a tomar consciência do estágio em que se encontram. Nosso trabalho como facilitador de processos de desenvolvimento é voltado para tentar equilibrar essas forças, já que todas essas energias são vitais para o bom funcionamento das pessoas, grupos e organizações.
Bibliografia: O Espírito Transformador - Moggi, Jair & Burkhard, Daniel. Editora Antroposófica, 2005.