Direto de Paris: o que esperar das reuniões e os bastidores da COP21
A COP21 é a 21º "Conferência das Partes", ou simplesmente COP. É o principal órgão decisório da Convenção das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), adotada em 1992, após a Cúpula da Terra no Rio de Janeiro, que ficou mundialmente conhecida como ECO-92. Crédito: Carl Court / Staff/ Getty Images

Direto de Paris: o que esperar das reuniões e os bastidores da COP21

Paris continua abatida depois dos brutais ataques terroristas no ultimo dia 13 de novembro. No entanto, nesta semana, a Cidade-Luz permanece como destaque na mídia mundial por uma razão muito mais nobre: a 21ª Conferência do Clima (COP21), a reunião das Nações Unidas sobre mudanças climáticas. Com a presença de 152 chefes de estado e 40.000 participantes, este grande evento diplomático não pode passar despercebido. Ainda que seja comum mencionar a necessidade de agir contra as mudanças climáticas evocando as gerações futuras, é errôneo pensar que o tema do clima não é urgente.

Apesar da aparência excessivamente técnica do debate, a COP21 trata da vida de cada um de nós. Os efeitos negativos das mudanças climáticas não respeita fronteiras. A crise de refugiados na Europa, por exemplo, não nos deixa esquecer que a instabilidade de algumas regiões implica em desafios transnacionais agudos. A escassez de água, secas prolongadas, desastres naturais e ondas de calor irão agravar diversos problemas sociais, aumentando as chances de conflitos entre países ou regiões vizinhas. Desta maneira, seria igualmente errôneo imaginar que agir contra o terrorismo seja uma prioridade mais importante do que o clima.

Entre os dias 30 de novembro e 11 de dezembro, quase 200 países passarão dias e noites negociando um novo acordo internacional que seja capaz de reduzir a emissão de gases de efeito estufa – e, consequentemente, também seja capaz de evitar o aumento da temperatura global em ate 2ºC até 2100, limite considerado de “segurança”.

Dado a complexidade do assunto, o que se deve esperar deste grande evento diplomático? Três aspectos merecem destaque: metas de mitigação, compromissos financeiros e o tratamento do conceito de adaptação.

Expectativas
para a COP21

O maior objetivo da COP 21 é estabelecer um acordo que aponte de maneira clara e ambiciosa como os quase 200 países que compõem a Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC) irão reduzir suas emissões de gases de efeito estufa. Atualmente, um dos principais instrumentos utilizados para demonstrar estes compromissos é o que se chama, no jargão da ONU, de Contribuição Nacionalmente Determinada Pretendida,  ou INDC (na sigla em inglês).

Desde 2009 em Copenhagen durante a COP15, decidiu-se que, ao invés de a ONU pré-estabelecer uma meta de redução de gases de efeito estufa (seguindo o modelo do Protocolo de Kyoto), o mais apropriado seria que cada país decidisse internamente sobre os métodos de mitigação de gases de efeito estufa e os explicasse através da chamada INDC.

Até agora, 183 países apresentaram suas INDCs, o que corresponde a aproximadamente 95% das emissões globais. O problema é que estes compromissos ainda são insuficientes para nos colocar em uma rota segura, o de limitar o aquecimento global em 2 graus centígrados, e seriam capazes de garantir somente uma redução entre 2,7 e 3,5 graus Celsius. Ou seja, ações mais ambiciosas ainda são necessárias.

Seriedade e transparência são elementos cruciais para o bom andamento das negociações, repletas de complexidades técnicas e politicas. O que os países em desenvolvimento querem ver sobre a mesa são contribuições financeiras de países desenvolvidos, ainda vistos como os responsáveis históricos da crise climática. Desta forma, o que devemos observar nestas duas semanas de negociações é a meta de levantar 100 bilhões de dólares por ano até 2020 para ajudar países vulneráveis no combate às mudanças climáticas. Por enquanto, há sérias razões para nos preocupar, visto que esta meta ainda enfrenta um “gap” considerável. Sem recursos adequados, muitas nas INDCs ditas “condicionais” não poderão ser implementadas e o sentimento de desconfiança permanecerá, dificultando consideravelmente a concretização de um acordo ambicioso.

Enfim, sabemos hoje claramente que somente a redução de gases de efeito estufa não será suficiente para garantir um futuro seguro. Teremos que nos adaptar ao número cada vez maior de desastres naturais e ambientais, o que indica que lideranças políticas terão que focar cada  vez mais na construção de uma sociedade resiliente.

Isto quer dizer que investir cada vez mais em nossa capacidade de transcender obstáculos e mitigar tragédias climáticas com impactos sociais, ambientais e econômicos evidentes. Apesar de esforços nacionais, a COP21 pode ajudar no entendimento de ações de adaptação e, principalmente oferecer meios – sobretudos aos países mais vulneráveis – de capacitação humana e técnica, assim como fortalecer fundos internacionais destinados para dar suporte a esta causa.

COP 21 e a necessidade de um
novo paradigma de desenvolvimento

 A COP21 não deve, de forma alguma, ser interpretada como um fim em si mesmo. Ela tem a chance de consolidar, na realidade, um novo paradigma de desenvolvimento.

Neste novo modelo, segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), os países devem buscar zerar suas emissões de CO2 no setor de energia entre 2040 e 2070 e alcançar “emissões negativas” até o fim do século através da ajuda, por exemplo, de captação e armazenamento de dióxido de carbono (CAC).

Finalmente, apesar da evidente necessidade de mais entendimento sobre aspectos técnicos, a COP21 deve ser vista como um evento sobre solidariedade humana. Hoje, mais do que nunca, a ONU, junto com seus países-membros, precisa demostrar união e liderança.

O que acontece aqui em Paris estará longe de ser suficiente em termos científicos. Porém seu alcance político pode sim ser transformador e engendrar mudanças fundamentais na maneira pela qual concebemos políticas de desenvolvimento. A agenda do clima deve portanto andar de mãos dadas com a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, acordada em Dezembro 2015 pela ONU. Como bem lembrou Mary Robinson, a primeira mulher presidente da Irlanda e ex-Alta Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, durante o primeiro dia da COP 21, o acordo de Paris deve refletir nosso compromisso com a humanidade e com sociedades mais justas.

Vasconcelos, José

Vice President of OPEN | Brazil

9 a

"[Vamos pensar no Futuro das nossas Gerações Futuras do Século XXI]"!!!...

China só quer brincar a partir de 2030 e os EUA têm achado dificuldades em tudo quanto está sendo proposto para modificar o panorama. Desta forma, qual a importância das posições secundárias? Este é apenas mais um dos encontros onde os representantes das indústrias de seus respectivos países, naturalmente servindo-se da roupinha de políticos, se reúnem para socializar os problemas que eles causaram. As elites mineram, desmatam, poluem com suas fábricas e produtos, alteram os cursos das águas e chamam o povo para dividir as responsabilidades. Se só produzirem carros movidos à carvão, são estes que o povo irá utilizar. Por outro lado se passassem a produzir carros "ecológicos", seriam estes o objeto de consumo. O que quero dizer é que o povo age como soldado respondendo aos seus comandantes. Temos séculos de história para demonstrar isso. Na maior parte do tempo o povo é deixado e se aceita absolutamente passivo. Somente é chamado a se tornar ativo na iminência do caos, durante e após sua ocorrência. Precisam de alguém para carregar bandeiras, enterrar os mortos, limpar e reconstruir os efeitos da "festa. Dando um exemplo de como as coisas acontecem na prática, se enxergássemos a China atual como uma grande indústria envolta em uma névoa de poluição, poderíamos constatar que, de nada adiantaria o povo chinês se recusar a mover suas engrenagens. Os acionistas chamariam indianos, indonésios, latinos ou quaisquer outros trabalhadores para continuar o trabalho. Por analogia, a questão não é tática e muito menos operacional. Ela é puramente estratégica. Estão nos doutrinando a olharmos para a base da pirâmide, desviando assim o foco do topo. Essa cruz eu não carrego.

Maurílio Inácio Borges

Servidor Público Estadual - Goiás

9 a

Cara Nicole, gostei muito do seu texto e penso que agora, em Paris, os responsáveis pelo destino da humanidade tem tudo para fecharem "O ACORDO INDISPENSÁVEL". Desde o Tratado de Kyoto, os grandes poluidores - EUA, UE, Japão, China e Índia - vêm se abstendo de assumirem SUAS REAIS RESPONSABILIDADES, legando-nos RISCOS IMINENTES de EXTERMÍNIO: AUTODESTRUIÇÃO. Se não houver um engajamento VERDADEIRO, deste grupo de nações, o que veremos será MAIS UMA COP INÚTIL (não basta armar o circo das boas intenções e depois fazer de conta que tudo está bem, que continuará bem, e que tudo não passa de ECOTERRORISMO). Os políticos são bastante influenciáveis - PRINCIPALMENTE QUANDO SE TRATA DE DEFENDER OS INTERESSES DE SEUS FINANCIADORES DE CAMPANHAS - e isto se repete por todos os cantos do planeta, conforme estamos observando por aqui, no Brasil (Gente demais à serviço da indústria de armas e munições, atentando contra o Estatuto do Desarmamento; gente demais à serviço do "agribusiness", atentando contra nossas florestas e águas; gente demais à serviço de correntes religiosas, atentando contra o Estado Laico; gente demais à serviço das empreiteiras, atentando contra a "Livre Concorrência"; gente demais à serviço dos banqueiros, atentando contra a economia popular etc). As pessoas precisam entender que MEIO AMBIENTE não são apenas aqueles locais ainda ocupados por florestas, matas, savanas etc., meio ambiente é TODO O PLANETA, ou seja, somos parte disto - ao lado das demais formas de vida - E SOMOS OS PRINCIPAIS RESPONSÁVEIS PELO AQUECIMENTO GLOBAL, o que nos obriga a ASSUMIRMOS NOSSAS REAIS RESPONSABILIDADES. Todos - que lá estão - não são inocentes, ingênuos, despreparados etc., razão pela qual NÃO PODEMOS ACEITAR NADA MENOS QUE O NECESSÁRIO: "QUE ELES AJAM COM RESPONSABILIDADE".

UBIRATÃ SAVINO

CONSULTOR TÉCNICO E COMERCIAL na AUTÔNOMO

9 a

PARABENS, BELO TEXTO COM MUITO CONTEUDO, INDEPENDENTE DOS PAÍSES ,CADA PESSOA DEVE TER A CONCIENCIA DE QUE DEVE-SE EVITAR TODO O TIPO DE ERROS PARA NO FUTURO NÃO SERMOS MAIS PENALIZADOS.

Gabriel Fonte

Gerente de Projetos. Engenheiro Ambiental. Especialista em Análise Ambiental e Recursos Hídricos. Licenciamento Ambiental. Projetos Ambientais

9 a

Olá Nicole. Parabéns pelo texto. Acredito que o mundo todo espera que o novo paradigma de desenvolvimento leve em conta a multidisciplinaridade do meio ambiente. Não envolvendo somente a emissão de gases efeito estufa, mas sim todos os outros indicadores de sustentabilidade. Vamos torcer!

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