Discursos de ódio se intensificam na internet
O hábito de bloquear perfis ajuda a criar um fenômeno típico desta década: os filtros-bolha, que também se alimentam dos algoritmos dos sistemas de busca digitais. Quando alguém se cerca de conteúdo do próprio interesse, cada vez mais os sites mostram notícias, anúncios e páginas pessoais parecidas.
O resultado é que as pessoas deixam de conviver com a diferença e passam a acreditar que o mundo é formado apenas por gente da mesma ideologia. Essa sensação quebra a espiral do silêncio e abre espaço para textões emocionados e raivosos.
Por um lado, a rede permite que grupos antes marginalizados tenham voz para lutar por seus direitos. Coletivos feministas e de apoio à causa LGBT conquistaram uma visibilidade que, tempos atrás, era inimaginável.
No entanto, a proteção das bolhas virtuais também incita ao discurso de ódio. Recebendo likes de seus seguidores radicais, alguns usuários se sentem confortáveis para expor comportamentos preconceituosos e racistas. E, infelizmente, essas reações também causam barulho nas ruas.
Foi o que aconteceu em agosto deste ano, durante os protestos em Charlottesville, no estado da Virgínia (EUA). Manifestantes que defendiam a supremacia branca marcharam empunhando tochas e símbolos nazistas. Muitos gritavam palavras de ordem pela expulsão de negros, judeus, imigrantes e homossexuais.
A imprensa mundial tentou analisar o fato. Nos Estados Unidos, mesmo as opiniões mais extremas são amparadas pelo direito à livre expressão, garantido pela Constituição daquele país. Em outros lugares, como na Alemanha e no Brasil, a legislação proíbe apologia ao partido e às ideias de Adolf Hitler.
Acontece que grupos neonazistas não respeitam leis. Assim como organizações terroristas, eles planejam ataques para desestabilizar e gerar medo na população. Perseguem e espancam gays. Matam estrangeiros e afrodescendentes em nome da “purificação”.
Muitos atuam na clandestinidade, e tem sido assim desde a Segunda Guerra Mundial. Talvez, por temerem represálias, a maioria tenha buscado o anonimato. Ainda assim, o pensamento tirano sobreviveu ao tempo. Hoje, ganha novo fôlego — em parte, graças às tecnologias de comunicação.