Disputa da hora

  O tempo passa, o tempo voa, e o tempo político tem o seu ritmo próprio. Algumas vezes, apressa-se o passo, outras, diminui o andar. Em certas ocasiões, o correto é parar. Porém, fatal é o descompasso.

  Bolsonaro não lidera as pesquisas de intenção de votos, tampouco se afoba. Organiza suas tropas, atua incessantemente nas redes sociais, usa do poder da caneta para oferecer benesses aos eleitores e pinta a cara para a batalha final. Sua estratégia é a luta do bem contra o mal, que visa à radicalização para enfrentar Lula, fechando o espaço para o crescimento de uma opção moderada, de centro. Não gasta seu tempo em reuniões com políticos, porque entende que na eleição presidencial, o eleitor vota no candidato, sem considerar o partido. Assim, não enfrenta dissidências nas suas hostes.  Os candidatos em busca de voto, em geral, são fieis aos eleitores, não aos seus partidos. Sabe que, se estiver bem na reta final, candidatos a governador, senador e deputado correrão para o seu lado.

Oposição. As incertezas grassam na oposição. O ex-presidente Lula surgiu como o candidato com mais chances para barrar a reeleição de Bolsonaro. Há alguns meses, lidera as pesquisas de intenção de votos, mas tem consciência dos seus riscos no segundo turno.

  A escolha de Geraldo Alckmin para compor sua chapa é uma opção para tentar ampliar sua força em São Paulo e tentar eleger Haddad, pois no restante do país, o ex-tucano não adiciona nada de significativo. No entanto, com a cooptação de Alckmin, o PT sonha liderar uma Frente Ampla anti-Bolsonaro.

  Os inconformados com a polarização Bolsonaro-Lula tentam há tempos construir uma terceira via, que, hoje, reduzida a um improvável acordo entre União Brasil, PMDB, PSDB e Cidadania, tem até data marcada para o anúncio da candidatura única, 18 de maio. No início do ano, dizia-se que ainda era cedo para definir um candidato comum, agora, parece tarde. Ninguém mostrou musculatura eleitoral. O tempo foi perdido.

Tebet. Entrementes, para não perder tempo, a União Brasil já apresentou seu pré-candidato, Luciano Bivar; o PMBD mantem Simone Tebet, mas lideranças regionais expressivas preferem seguir com Lula; o PSDB, ah! O PSDB, dividido, escolheu Doria nas prévias; dividido continua sem definição, pois usou seu tempo antes da hora. O lançamento de candidatura única, se houver, será apenas uma formalidade. O desempenho dependerá da energia do(a) candidato(a), que terá pouco tempo de campanha e, a seu lado, migalhas de cada partido.

O embate da hora é a queda de braços na oposição entre os que optam por uma Frente Ampla anti-Bolsonaro já, liderada por Lula, e os que insistem na construção da Terceira Via, hoje, aparentemente possível na candidatura solo de Simone Tebet, que, por sua vez, viria a ser o contraponto e a resistência ao populismo. Depois de tantos descompassos, um passo no tempo certo, senão para já, na rota 2026.


Parabéns Paulo, pela contribuição lúcida e imparcial, muito útil neste momento de polarização e de efervescência…

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