A divergência da identidade virtual
Bauman, em entrevista a Benedetto Vecchi, descreve a identidade como sendo uma essência a ser criada e não algo que existe simples e visceralmente. A identidade, para o sociólogo, é tudo que buscamos mostrar para o outro em contraponto ao que escolhemos não mostrar(Bauman, 2005).
Isso pode ser observado na mídia a partir da construção de personas, desde grandes músicos famosos, ou atores mundialmente conhecidos, até você quando passa um bom tempo escolhendo qual foto postar no instagram, ou quando posta a foto cheia de filtors de um momento forjado, onde se arruma, escolhe um bom lugar, apenas para causar uma boa impressão. Há verdade nessa identidade construída? Somos o que mostramos? Somos o que o outro pensa sobre nós? A resposta, muitas das vezes nos meios digitais, é não!
Aplicando a teoria de Bauman sobre a identidade às redes sociais, ou a sociedade em rede na internet, vemos uma maior facilidade de se fingir uma identidade, de mostrar algo que não existe de fato. Dentro dessa premissa, podemos observar também um distanciamento, as vezes enorme, entre a pessoa que existe no mundo real e a persona que existe no mundo virtual. Esse descolamento se dá ao tentar sustentar uma persona forjada que muitas vezes é penosa para quem se dispõe a tentar.
Existem exemplos de que esse tentar forjar e ter reconhecimento por uma persona diferente da pessoa real é completamente desastroso como o caso da youtuber colombiana Rawvana que produzia conteúdo sobre veganismo e como emagracer comendo apenas vegetais, mas foi flagrada comendo carne animal em um vídeo publicado por uma amiga, o que causou uma perda enorme de seguidores e contratos com patrocinadores. Entre os influenciadores digitais é muito comum viver sob essa tensão de ser alguém em frente a câmera nos stories e vídeos, mas na realidade ser outra.
Muitos desses casos podem ser analisados a partir da teoria da Sociedade do Espetáculo de Guy Debord. Ele descreve o espetáculo como o conjunto das relações sociais mediadas pelas imagens e também deixa claro que é impossível desvincular essas relações imagéticas das relações de produção no sistema capitalista(Debord, 1967). Com isso em mente, podemos entender esses casos de divergência identitária observada em muitas personalidades midiáticas, como um reflexo da necessidade de apresentar uma imagem que gere identificação com um público específico e o capitalize para si.
Outro ponto dessa teoria que pode ser utilizado para analisar o comportamento de massa no mundo digital é que essa virutalização, em contraponto a outras mídias como o cinema, apresenta uma maior capacidade de imersão, causando uma maior confusão entre o que é real e o que é virtual.
Você já percebeu que está cada vez mais difícil manter a concentração em um texto que não tenha imagens, e que criamos a necessidade de acessar as redes sociais? Isso se dá devido a uma intensificação da dominação através da imagem, pois faz o espectador se sentir participante. Fazendo-o estar mais suscetível a dominação e ache que está agindo por conta própria e com autonomia, por participar e “escolhendo” o que ele quer ver.
É importante ressaltar que esse poder exercido através da imagem é perene na sociedade e está longe de ser utilizado com cautela. Porém ao utilizar as redes com consciência disso, é possível ter uma vida social virtual mais saudável e minimizar os impactos que esse descolamento do mundo virtual causa. Muitas vezes é preciso tomar um folego do turbilhão que se vive na internet e olhar diretamente para nós, lembrar que somos seres humanos e sermos honestos conosco. Entender que ninguém é feliz o tempo todo como as postagens no instagram mostram, ou acorda belo como vemos nos stories de influencers é fundamental para manter a sanidade mental em tempos virtuais.
Pedagogo em formação
4 aExcelente artigo!