Diversidade nas organizações
Vivemos numa época cuja dificuldade de estabelecer diálogos e pontes entre pensamentos diversos vigora na sociedade como um todo.
Cada um de nós, baseado em sua experiência de vida e valores pessoais, faz sua leitura de mundo acreditando ser a mais adequada e a melhor. Afinal, nossas opiniões e relacionamentos com o mundo buscam ser coerentes com nossos valores e convicções que levamos na vida.
Entretanto, nossas convicções são formadas a partir de experiências e valores individuais e, portanto, não são absolutas. Nas ocasiões em que este aspecto “relativista” não é considerado, nos tornamos pouco abertos para conhecermos outras perspectivas pois existe “uma verdade absoluta” e já conhecida gerando assim uma posição fechada ao diverso.
Ao mesmo tempo, a diversidade nas relações humanas é um valor cada vez mais apontado como primordial, capaz de fomentar a criatividade e inovação nas diferentes áreas de atuação. Para que ela se expresse, é fundamental abrirmos espaço para conhecer experiências e pensamentos de outros, ideias provenientes de diferentes origens culturais, multiplicidade de gêneros, idade, etc. A partir daí, temos a possibilidade de reavaliar, adaptar, confirmar ou modificar nossas posições individuais.
As empresas, guardadas as devidas proporções, espelham a sociedade em que vivemos. A partir das ultimas décadas, as corporações vêm expressando suas intenções de expandir e fomentar a diversidade entre seus funcionários, através da divulgação de suas missões e visões. Nesse contexto, a diversidade pode funcionar como grande catalisadora da inovação e criatividade, tão caras para as organizações num ambiente cada vez mais competitivo.
Políticas de contratação afirmativas e não discriminatórias em relação a gênero, raça, idade, nacionalidade, entre outras, buscam assegurar a muitas empresas um bom nível de diversidade entre seus funcionários. Como bônus dessa política, quando bem conduzida, a empresa terá sua imagem valorizada como empregador socialmente responsável.
Portanto, contar com uma força de trabalho em que a diversidade seja visível não é, em princípio, um objetivo tão desafiador e traz resultados quase que imediatos à imagem de uma empresa.
Por outro lado, extrair da diversidade todo o valor que ela pode agregar às organizações já não representa uma tarefa tão trivial e, por isso, nem todas as empresas estão preparadas bem executá-la. Para usufruir plenamente das vantagens de um ambiente corporativo de ampla diversidade, é fundamental a criação de espaços de expressão e de acolhimento para o “diverso”, o que implica necessariamente num comprometimento muito grande com o pensar, agir e ser diferente, dentro da organização.
Este espaço para expressão e acolhimento do diferente consiste na valorização do diálogo dentro das empresas. Sem a conscientização da importância do diálogo como fator fundamental para o desenvolvimento do conhecimento coletivo, o valor da diversidade será apenas estatístico em relação à força de trabalho.
Trabalhar com a diversidade de maneira produtiva exige que o espaço interno para o diálogo seja, no mínimo, tão valorizado quanto aquele dispendido em discussões destinadas à tomada de decisões
Para tanto, será necessário a liderança ter uma ampla capacidade de escuta que permita, dentro de um ambiente de respeito mútuo, questionar suas próprias ideias e eventualmente estabelecer novas maneiras de lidar com obstáculos, internos e externos, presentes no dia a dia das organizações. Através de seu exemplo, estimular ativamente o diálogo em suas equipes.
Para que as organizações possam usufruir plenamente das vantagens de estabelecer um ambiente diverso, é necessário que cada empresa tenha um bom nível de “autoconhecimento”. Isto significa entender como as relações são estabelecidas internamente (cultura), quais os valores internos realmente praticados, (não necessariamente os descritos como desejados) e quais objetivos da instituição são reconhecidos por todos os seus colaboradores.
Como vemos então, estabelecer uma força de trabalho diversa não representa uma dificuldade muito grande para a maior parte das organizações; gerar inovação e criatividade a partir de um ambiente de diversidade é, por outro lado, tarefa que exige grande comprometimento institucional e de suas lideranças para ser realizada.
A missão e visão que toda empresa apresenta ao público em geral revela uma síntese de como se vêm, o que valorizam, qual sua importância para a sociedade e, muitas vezes, como projetam seu futuro. O tema “diversidade” está presente na grande maioria das descrições de missões e visões de organizações, sejam elas locais ou multinacionais. Diversidade nestas declarações aparece consistentemente como um valor essencial para o desenvolvimento e futuro das organizações.
Esta clara uniformidade na maneira como as empresas enxergam o valor potencial da diversidade no mundo corporativo é, sem dúvida, uma importante demonstração de disponibilidade para abrir-se ao novo, deixando para trás preconceitos e “certezas absolutas”.
Resta à liderança das organizações atuar de maneira facilitadora para que essa disponibilidade seja refletida no dia a dia das empresas, permitindo que a diversidade seja uma constante geradora de inovação e criatividade que viabilize sempre um resultado futuro positivo e sustentável.
Gabriel Garcez Ghirardi
Sócio Diretor da AGHR Consultoria Empresarial
ghirardi@aghr.com.br
Pesquisadora e consultora sobre Inclusão de Pessoas com Deficiência | Terapeuta I Colunista da EA Magazine l Surda oralizada l Professora do ensino superior
2 mGostei muito do seu artigo. Em resumo: você tira a missão da moldura que orna uma parede, e coloca vida nela, de modo que ela "pulse" entre as pessoas da organização. Belíssima reflexão!
Analista Junguiano , Membro Analista da Sociedade Brasileira de Psicologia Analítica (SBPA), Membro Analista International Association for Analylical Psychology of Carl Gustav Jung
4 aGabriel, que texto sensível , lúcido, atual e baseado na realidade, muito além de idéias . Parabéns ! Abração. Mauricio
International Partner at CMOE
4 aGabriel, gostei muito. Você, ouvinte afinadíssimo, alertou sobre o compromisso institucional e o papel da liderança como condição "sine qua non" à consecução da tarefa. E me fez pensar - algo raro e custoso, mas às vezes consigo - que por conta de nos habituarmos ao formato das redes, do tempo curto e da efemeridade dos "trending topics" misturamos estereótipos com indivíduos. Acho que no fundo, o cérebro ainda é louco por uma pasteurizada. E ai é que perdemos nossa boa e velha humanidade, quando não celebramos que é a diferença que faz com que os que resistem melhor à gripe possam cuidar dos gripados. Se conseguirmos melhorar nossos anticorpos às "verdades absolutas" com a vacina do "relativismo".podemos contribuir para que se tenha mais Yin e Yang do que só preto e branco.
Diretor Industrial | Gerente Industrial | Gerente de Fábrica | Consultoria Empresarial
4 aEm tempos em que a inovação apresenta-se como uma importante alternativa para o crescimento e até para a sobrevivência das organizações, fomentar a verdadeira diversidade é uma estratégia acertada. Parabéns pelo texto, Gabriel Ghirardi!