Dividir para conquistar
Nossa ideia inicial ao começar a escrever este artigo era fazer uma introdução sobre o tema aludido no título, mas decidimos simplesmente emprestar o que a Wikipédia nos esclarece a respeito desse conceito:
“Em política e sociologia, dividir para conquistar (ou dividir para reinar), consiste em ganhar o controle de um lugar através da fragmentação das maiores concentrações de poder, impedindo que se mantenham individualmente. O conceito refere-se a uma estratégia que tenta romper as estruturas de poder existentes e não deixar que grupos menores se juntem.
Esse conceito foi utilizado pelo governante romano César (divide et impera), Filipe II da Macedônia e pelo imperador francês Napoleão (divide ut regnes). Também há o exemplo de Aulo Gabínio, que repartiu a nação judaica em cinco convenções, conforme relatado no livro I de A Guerra dos Judeus (De bello Judaico), do historiador Flávio Josefo.”
Há uma série de outros exemplos a respeito na história da humanidade e, em que pese a obviedade da estratégia, ela continua a ser usada ad nauseam e o povo continua a cair nesse “conto do vigário”. A esse respeito, vejamos o que está ocorrendo no Brasil atualmente: há uma notória polarização no país, que vem crescendo exponencialmente nos últimos dez anos, entre as forças à esquerda e à direita do espectro político nacional. Defensores de ambos os lados desse espectro se esforçam por demonizar o outro lado, em arroubos de sectarismo que beiram a insanidade. Coxinhas contra mortadelas, bolsomínions contra petralhas, fascistas contra comunistas etc., são as “cores” com as quais tais polos opostos são pintados, e a sensação que fica no momento é de que estamos na Alemanha de 1933.
O mais interessante, entretanto, é o fato de que, enquanto seres humanos, independentemente de ideologia, aspiramos, todos, praticamente às mesmas coisas: redução da pobreza, progresso e bem estar para todos, justiça social, liberdade para empreender, melhor retorno dos nossos impostos, mais segurança, melhor distribuição de renda, educação universal de qualidade, saúde para todos etc. Sem medo de errar, podemos afirmar que concordamos em 99,9%! Os 0,1% de discordância são sobre a forma como desejamos que os pontos elencados acima sejam implementados. Alguns preferem que o Estado assuma uma porção maior dessa responsabilidade, outros preferem que se dê mais espaço para que a iniciativa privada seja responsável pelo fornecimento desses serviços. Assim, se todos desejamos as mesmas coisas, por que razão assumimos posições extremistas em torno daquele milésimo de discordância que não nos deixa avançar enquanto sociedade? Da forma como está, não somos capazes de cobrar o nosso poder político de maneira organizada! Isso é interessante para quem?
Os movimentos de junho 2013 mostraram do que o povo é capaz quando há união. Quando há uma causa comum — e, àquela época, essa causa foi simplesmente um aumento de R$ 0,20 no preço das passagens de ônibus em São Paulo —, movimentos populares organizados são simplesmente invencíveis. Não seria o momento de deixar essas diferenças de lado e finalmente colocar nossos representantes sob pressão, saindo às ruas juntos e mostrando do que somos capazes? Ou vamos continuar nos comportando como crianças de quatro anos de idade e ficar discutindo sobre o sexo dos anjos enquanto a banda passa e o país afunda? Ser um extremista pode até ser gratificante, como pode ser visto no vídeo a seguir:
Assim, pode até ser gostoso “lacrar” naquele comentário nas redes sociais, mas isso dificilmente vai resolver nossos problemas. Temos que emparedar nossos políticos e mostrar que, se eles não fizerem algo, nós vamos fazer. Projetos de lei oriundos de iniciativas populares como a Lei da Ficha Limpa já mostraram que isso é possível. E agora ficou ainda mais fácil torná-los realidade, pois até aplicativos para isso já estão disponíveis, como o Mudamos. Além disso, iniciativas fiscalizadoras, como o Observatório Social do Brasil, que realiza monitoramento das compras públicas em nível municipal, desde a publicação do edital de licitação até o acompanhamento da entrega do produto ou serviço, são ferramentas imprescindíveis para agir preventivamente no controle social dos gastos públicos.
União, não dissensão!
Prezado Rafael, os políticos deveriam ser funcionários daqueles que votam neles, e não servir a si mesmos e a outros patrões.
Cir. Dentista
5 aExcelente artigo. Muito lúcida suas observações sobre o momento em que vive o país. Um abraço