Do babaçu ao basalto: o Brasil no Living Places 2024

Do babaçu ao basalto: o Brasil no Living Places 2024

A arquitetura brasileira brilhou mais uma vez em solo internacional. Em novembro, em Barcelona, o Centro de Referência Quebradeiras de Babaçu, do Estúdio Flume, conquistou o 5º Living Places – Simon Architecture Prize 2024 na categoria Collective Places. Compartilhando o protagonismo com o projeto mexicano Kontigo, na categoria Personal Places, ambos os vencedores traduzem, cada um à sua maneira, os valores que a arquitetura contemporânea busca alcançar: pertinência, empatia e impacto.

O Centro de Referência Quebradeiras de Babaçu não é apenas um edifício; é um manifesto. Nascido das demandas das mulheres que há gerações vivem do babaçu, o projeto extrapola a estética. Ele é sobre acolher e amplificar vozes, proteger saberes ancestrais e fomentar a economia local. Um espaço onde arquitetura e ativismo se encontram, provando que paredes podem contar histórias e tetos podem ser escudos para comunidades vulneráveis.

Por outro lado, o cenário em Barcelona, com o troféu de basalto em mãos, é um lembrete das nuances globais desse reconhecimento. Enquanto o Centro de Referência brota do chão fértil do Maranhão, o troféu é talhado em rocha vulcânica espanhola, simbolizando raízes e permanências. Essa conexão entre o local e o universal é, talvez, o grande mérito da premiação, que celebra a arquitetura como um ato de pertencimento.

Com projetos vindos de 25 países, o prêmio reafirma que a arquitetura contemporânea não é apenas sobre formas inovadoras ou materiais ousados. É sobre criar espaços que respondam a desafios urgentes – das mudanças climáticas à justiça social, do bem-estar à preservação cultural. Nesse cenário, o reconhecimento ao projeto do Estúdio Flume transcende o título de vencedor. Ele coloca o Brasil no centro das discussões globais, não como um observador, mas como um protagonista.

O que diferencia o Centro de Referência Quebradeiras de Babaçu é a simplicidade que acolhe complexidades. É arquitetura que não intimida, mas convida; que não impõe, mas escuta. Sua vitória no Living Places é um lembrete de que, na arquitetura, grandeza não está no tamanho, mas na capacidade de transformar.

E assim, o babaçu do Maranhão viaja até Barcelona, onde encontra o basalto espanhol. Duas pedras, dois mundos, unidos por uma premiação que, mais do que distinguir edifícios, celebra a essência do que significa criar espaços para serem vividos – coletivamente, pessoalmente e com propósito.

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