Do prove ao hobby: como seus passatempos podem melhorar diversas áreas da vida.
A proposta dos artigos que escrevo sempre é introduzir o pensamento filosófico ao leitor através de temas comum a todos. Com este artigo não é diferente, pelas atividades que gostamos de fazer em nossas horas vagas é possível identificar a motivação e benefícios de manter um hobby. No primeiro artigo direcionamos todo o pensamento ao ambiente corporativo, neste seremos orientados a ter uma visão extra corporativa e quem sabe fazer o caminho de volta aplicando melhorias ao ambiente de trabalho.
KANT e HUME
Aqui juntamos novamente dois filósofos que coexistiram na Europa do século XVIII: Immanuel KANT (Prússia, 1724 - 1804) e David HUME (Reino Unido, 1711 - 1776). A filosofia de Hume era perturbadora para os valores cristãos da Igreja da época pois tratava com ceticismo e principalmente ironia os diversos estudos que realizava. Um deles, quem sabe o principal, trata da filosofia galante, termo que sintetiza o encontro e diálogo do mundo acadêmico com a sociedade comum (filosofia tratada como um gentleman que desce de seu posto e conversa com a sociedade sobre temas que os afligem).
Ao tratar de temas menores que se referem a vida individual e social como: suicídio, divórcio, problemas financeiros, etc., Hume encontra Kant em semelhança, pois Kant também admirava os problemas banais tentando o contato de maneira simples e refinada com a sociedade da época. Das observações dos dois filósofos observa-se o apego do ser humano às ocupações como objetos e fatos que não existem fora da mente de quem lhes atribui valor.
O HOBBY
A essas ocupações atribuímos o nome de hobby, atividades que ocupam o tempo ocioso. Há quem teime em julgar como excentricidades mesmo quando Kant define hobby como "um ócio atarefado, uma paixão em se entreter cuidadosamente com objetos da imaginação, com os quais o entendimento simplesmente brinca por distração, como se fosse um negócio" - trecho retirado do livro Antropologia de um Ponto de Vista Pragmático.
COMO O HOBBY É BOM PARA O TRABALHO?
Hume tentar evitar a fixação do ser humano pelo trabalho propondo o uso de uma distração (hobby) para buscar relaxamento. Em "Investigação sobre o Entendimento Humano" ele apontou que, se o filósofo se dedica tempo demais a dissertar um problema, será acometido por opressiva melancolia que só poderá ser curada pela natureza. Não existe pensamento mais atual que esse num mundo onde há uma epidemia de depressão afastando as pessoas de seus ambientes laborais.
Buscando outro benefício, um hobby pode trazer novidades para o ambiente de trabalho, através de descobertas ou invenções que mudarão os caminhos do indivíduo que o pratica. Apesar de afirmar que invenção e descobertas são muito diferentes entre si, Kant também afirma que para elas existirem deve haver mudança de pensamento ou atividade, diversão em busca do retorno revigorado as atividades outrora deixadas.
MONETIZAR OU NÃO O HOBBY?
A ocupação da mente em atividades de diversão, lúdicas ou distrativas podem culminar em racionalização dos resultados atingidos. Se o hobby apresentar um resultado satisfatório ou destacado de outras pessoas que realizam o mesmo passatempo, o indivíduo será tomado pelo desejo de monetização da atividade, pois este é o pensamento comum aos ambientes corporativos acirrados atuais.
Portanto é necessária a filosofia para o encaixe das peças. Ao estabelecer relação de trabalho com o hobby muitas vezes o prazer será perdido, sendo importante uma fase de experimentação. Estabelecida essa nova relação, o quão relevante é o lucro para o indivíduo e quão relevante é o produto para o novo consumidor? Encontradas essas respostas é possível afirmar se a monetização do hobby é válida.
CONCLUSÃO POR EXPERIMENTAÇÃO
O título do artigo propõe a experiência e a evolução dela para tornar-se atividade prazerosa. Kant e Hume enfatizam a importância de não julgar ou censurar a busca de lazer e diversão de alguém. O hobby possui valor terapêutico e heurístico (valores de experimentação e investigação) pois propõe rompimento com o ambiente atual sem maiores riscos, constrói novas relações (pessoas com interesses em comum) e aumenta os níveis de satisfação (mesmo que seja uma atividade que cause cansaço).
Ao não julgar os hábitos de lazer de outras pessoas, construímos uma sociedade com diferentes ideias e abrimos espaço para milhares de possibilidades de soluções para problemas que estão e surgirão no mundo. Afinal como disse Kant "Porque cada um tem sua dose de doidice, é preciso que tenha paciência com as doidices dos outros".
Marcelo Martins - 01/03/2020
RMS Technical Specialist Latam at Roche
4 aBoa Marcelo Martins! Hoje mesmo pela manhã estive conversando com um amigo sobre este assunto... Valeu a reflexão, parabéns!
Bióloga | Mestrado | Doutorado | Consultora de Serviços na Shift Consultoria e Sistemas
4 aParabéns, ótimo texto!
Gestão de Projetos | Liderança | Comunicação | Customer Success
4 aÓtima reflexão. Parabéns Marcelo.
Muito bom!