A doce invasão
A doce invasão
Percorrer o interior do Estado de São Paulo através de uma ótica minimalista pode converter os cansativos kilômetros de estrada e de sua invariável paisagem à uma reflexão bastante curiosa e digna de ser compartilhada.
A verde e uniforme paisagem observada, mais precisamente a oeste do Estado, não remete à vegetação natural do ambiente, mas à plantação da cana-de-açúcar. Historicamente, desde o Brasil Colônia, a cultura da cana e a produção do açúcar surgiram com o rareamento da madeira Pau-Brasil e com monopólio deste produto, impondo-se assim, a nova lavoura.
De acordo com dados divulgados pelo IEA (Instituto de Economia Agrícola), órgão vinculado à Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento, a cultura da cana tem avançado significativamente em São Paulo e, somente em um ano, passou a ser cultivada em mais 237 mil hectares.
O avanço da doce cultura pode também trazer reflexos amargos à sociedade, principalmente por se expandir sobre áreas de pastagens e em menor escala, sob pomares de laranja e de outras culturas, além de introduzir a monocultura que causa grandes problemas relacionados ao empobrecimento do solo e do afastamento de espécies animais.
A cidade de Limeira no interior do Estado é um exemplo da situação, que apesar de carregar o nome do fruto da Laranjeira hoje tem grande parte de suas terras arrendadas para usinas canavieiras, descaracterizando sua identidade agrícola e cultural. O avanço da cana sobre pomares de citros pode afetar a economia dos municípios do interior de São Paulo, pois ao contrário da cana-de-açúcar, a citricultura é uma atividade.
A falta de planejamento estratégico na questão pode culminar no déficit da produção de alimentos, bens essenciais ao desenvolvimento humano e desiquilíbrio ecológico do ambiente.
Enfim, mais uma vez, me parece que a questão prioriza os interesses econômicos antes dos sociais e ambientais. É como diz o ditado: A rapadura é doce, mas não é mole!
Luciana de Carvalho Martins - Tecnóloga Sanitarista e Engenheira Ambiental