Douglas Costa e o hábito do retorno
Agora, é uma realidade: Douglas Costa agora é atleta do Grêmio. Ainda não tem data para estrear, por conta de força de contrato com a Juventus, mas deve começar em Julho (isso se não for convocado para a Copa América - e pesando ainda o fato de se a Copa América realmente acontecer, depois do cancelamento da Colômbia e da alta taxa de Covid na Argentina).
Essa contratação, sem dúvidas, é a mais bombástica da temporada 2021 no futebol brasileiro. Douglas tem 30 anos - está longe de estar em uma fase em queda na carreira - e, além disso, tinha muito mercado no futebol europeu.
Ele já havia demonstrado várias vezes que iria retornar ao Grêmio, como em 2017, quando afirmara que voltaria ao clube daqui a cinco anos; ele apenas se antecipou em um ano, e acho que o torcedor gremista não está reclamando nada desta antecipação. Além disso, demonstra uma coisa que, muitas vezes o próprio torcedor questiona - e por vezes, com razão - se o atleta tem realmente PALAVRA, de dizer que retornaria ao clube em determinado período.
O torcedor gremista, por exemplo, já havia ouvido isso de Ronaldinho Gaúcho, tanto que prometeu uma festa pra ele, mas ele foi para o Flamengo, causando a ira dos torcedores, que relembraram dele com a chegada de Douglas.
Mas o negócio deste texto é outro. Não é muito comum termos retornos de atletas que marcaram em um determinado clube no Brasil. Esse hábito está mais vinculado a outros países, como na Argentina, onde inúmeros atletas, já em fase final de carreira - ou até um pouco antes - retornam aos clubes que os revelaram. Tevez no Boca, Maxi Rodríguez no Newell's foram alguns dos exemplos mais latentes.
O Uruguai também tem muito isso, tanto que existem até atletas indo jogar na Segunda Divisão do País - que era praticamente uma divisão semi-profissional alguns anos atrás, e isso anima as coisas por lá. Até marca recomeços na carreira, como é o caso de Diego Forlán, fora demitido do Peñarol e que agora é técnico do Atenas de San Carlos.
Nas últimas temporadas, não tivemos tantos retornos de atletas de alto calibre para seus clubes de origem. O retorno ao futebol local sempre era em outro clube e por outros motivos - são os casos de Daniel Alves, que é torcedor confesso do São Paulo, e de Filipe Luis no Flamengo; eles foram criados nas categorias de base de Bahia e Figueirense, respectivamente.
Óbvio que também tem a questão financeira, temos que colocar isso na balança do Esporte de Alto Rendimento - tanto que a chegada de Douglas ao time gremista intimamente, mesmo que indiretamente, ligada a saída de Pepê ao Porto, que rendeu mais de R$ 65 milhões ao clube (mais de 10% do total de receita adquirida pelo clube em 2020, para se ter uma ideia), e que deu uma liberdade econômica para o clube bancar a chegada dele - mas sempre me dá a impressão que idas que nem a de Douglas Costa ao Grêmio são bem raras no futebol brasileiro.
Prefiro ser um otimista, em pensar que vindas como a dele para o Grêmio possam se tornar mais frequentes - seja para clubes que tem suas histórias ligadas à vida dele, seja para outros que ele tenha afinidade - e que, principalmente este tipo de chegada não seja em pontos mais ligados ao término de suas carreiras. Como disse, Douglas Costa tem 30 anos, e possuía muito mercado, seja na Itália mas, principalmente, fora dela.
Isso alimenta o futebol brasileiro, faz com que ele ganhe uma sobrevida, e isso, não só para o futebol, mas para a indústria do esporte como um todo, é um ótimo sinal de crescimento. E qualquer crescimento, em um momento como esse que vivemos, é lucro.
Douglas Costa ao lado do presidente do Grêmio, Romildo Bolzan, em sua primeira ida a Arena Grêmio como atleta do clube (Crédito da foto: Jessica Maldonado/Grêmio FBPA)