E ai? Raiz ou Nutella?
Tem sido extremamente complicada a arte da convivência, pois os extremos são cada vez mais distantes e incomunicáveis. Vivemos um período de direita x esquerda, brinquedos antigos x brinquedos novos, copyright x copyleft, android x iOS, Jaspion x Ben 10. São batalhas intermináveis para "provar" qual é o melhor.
Nessa toada, um meme que tem me chamado muito a atenção é o tal: 'Raiz x Nutella" Ess brincadeira aparece geralmente mostrando algo antigo supostamente melhor e associado à raiz, comparado com algo novo supostamente "pior" e associado ao conhecido creme de avelã.
Será que tudo o que é antigo é, de fato, melhor?
Sou de uma geração mista, meio tecnológica meio artesanal. Nasci em 1983, no interior de São Paulo, não tive nenhum brinquedo muito tecnológico na primeira infância, no máximo algum carrinho com motorzinho DC movido a pilha que eu desmontava para brincar com os imãs. Ouvi alguns LPs do meu pai, mas ainda gravava muitas fitas cassete, quando já comecei a ver o grande "boom" que seriam os CDs nos anos 2000.
Quando comecei no mercado formal de trabalho, exatamente no ano 2000, ouvia muitos comentários dos veteranos trabalhadores das gerações anteriores vangloriando-se de como tiveram uma melhor escola, carros mais robustos, e viviam e aproveitavam a vida melhor que nossa geração. Pois bem, o tempo passou e hoje tenho vivido a mesma tentação de cutucar novos colegas de trabalho das gerações mais jovens com as mesmas críticas as quais outrora fui recebido, mudando apenas o rótulo, todavia com a mesma essência.
Um antigo texto hebraico cita que não é bom dizer que os dias passados foram melhores que os dias atuais*. O autor tinha razão, pois essa é uma tendência destrutiva. Cada geração teve suas falhas e suas virtudes. É o conhecimento dessas características que nos faz andar para frente. Ficar preso no tempo é totalmente nonsense. Tínhamos Cobol, hoje temos Python, tínhamos LPs hoje temos MP3s. O computador que ainda é binário logo será quântico. As coisas têm melhorado mas os relacionamentos não têm seguido a mesma tendência. Como seres humanos, vivemos os mesmos problemas geração após geração: falta de respeito, indiferenças, egoísmo.
Essas características deveriam ser combatidas, mas preferimos gastar nossa energia em embates fúteis sobre quem ou o que é melhor que algo. A não ser que seja algo apenas lúdico, essas brigas são destrutivas se levadas muito a sério.
Acredite, essas brigas têm sido levadas a sério por muita gente!
O Desafio enfrentado nas empresas hoje para combater todo tipo de extremismo tem sido grande, desde os extremos combates de geração, até os combates de classe, cada qual com seu linguajar e universo a parte.
Programadores com dificuldade de entender os usuários, usuários com dificuldade de conversar com engenheiros, engenheiros com dificuldades com técnicos...
A tentação de se enclausurar o universo dos seus semelhantes é muito grande e fácil, não a toa o sucesso do falecido Orkut nos anos 2000 com seus grupos, porém o desafio de conhecer outro universo, mesmo que por pura curiosidade e respeito, é algo que tem sido uma característica fundamental nos novos postos de trabalho. Embora pareça um conceito novo, não passa da boa e velha empatia.
Adoro mostrar Jaspion para meu filho de 4 anos, e digo que ele era tão forte quanto o Ben 10. Curta o velho, aproveite o novo, mas não deixe sua paixão dominar seu bom senso de enxergar o valor das coisas.
Por um mundo menos extremista e mais humanizado em todas as facetas do relacionamento humano.
*o texto hebraico citado é Eclesiastes 7:10, escrito por Salomão.
CEO Uprise | CMO DiverCidade | Marketing e Estratégia | Neurociência | Especialista em Gênero | Gestor de Diversidade e Inclusão | ESG
3 aEu observo que essa disputa vem de uma ENORME insegurança, que por muitos anos foi (e ainda é) alimentada pelo mundo corporativo. O melhor ganha, o segundo lugar é demitido e substituído. Isso cria um processo de separatividade imenso, onde todos são inimigos, e pra provar minha suposta superioridade ferida, basta entrar nesse jogo do Raiz X Nutella, no "Na minha época". É o medo gritando em nome de um ego ferido. Quando a gente insere uma abordagem de soma dos conhecimentos, nos passamos a ter o conhecimento da geração X e da Y e passamos a costurar os saberes criando uma rede de conhecimento muito mais inclusiva e muito mais eficiente. Já nessa pegada, deixo aqui meus parabéns e meu obrigado por trazer esse debate para a rede! 😁