E quando seu concorrente não precisa dar lucro, hoje?

Todas as empresas tem competidores. Há muitos anos lutamos contra eles de forma a entregar os melhores produtos e serviços aos nossos clientes. Mas a quantidade de novas empresas no mercado tem nos desafiado cada vez mais.

Plataformas de desenvolvimento mais simples, acesso a capital abundante, banda larga (fixa e móvel) mais rápida, smartphones amigáveis, aplicativos que resolvem todos os problemas. Tudo isso tem facilitado a criação de novas empresas, que tem transformado diversos mercados (financeiro, varejo, saúde, mídia) e mudado a forma como as “empresas tradicionais” têm de operar. Mas, e quando somado a isso tudo, esses novos entrantes não precisam dar lucro?

As taxas de juros globais estão perto de zero nos países desenvolvidos (negativas, em alguns casos) e o Brasil caminha para as menores taxas de sua história. Isso significa que os investidores buscam alternativas de ganhos mais altos em outros locais que não apenas os seus bancos e permite um fluxo maior de captação das empresas de venture capital e private equity (fundos de capital de risco).

Esses fundos identificam empresas com enorme potencial de crescimento em diferentes estágios de maturação e criam seus portfólios com expectativa de crescimento. Ninguém imagina que todas as empresas prevaleçam (apesar de esse ser o desejo dos fundos, claro!), mas a combinação de resultados dessas empresas certamente tem potencial de retorno maior do que deixar o dinheiro parado em contas com juros baixos. E é isso que o capital de risco busca.

Mas investir nessas empresas exige expectativa de retorno de longo prazo, o que permite que não tenham lucro agora. Muitas delas estão mudando mercados, criando novas culturas de consumo e precisam ganhar escala para se tornarem relevantes. Fato é que, por serem novas, não possuem o legado de infraestrutura, processos e pessoas em organizações existentes há muitas décadas.

Muitas vezes vemos os incentivos que elas dão aos seus clientes e nos perguntamos: como fazem isso? Quando vão parar de “queimar caixa”? Não existe uma resposta única. Certamente seus planos de negócios apontam para retornos no médio prazo e só o tempo dirá quem prevalece.

O problema é que para você vender seu produto ou serviço hoje para seu cliente final talvez haja alguém oferecendo algo melhor, mais rápido, menos burocrático e que não é obrigado a dar lucro porque tem um plano de negócios que permite a ausência do lucro agora. E aí você perdeu seu cliente. Bancos vs fintechs, operadoras de TV vs streaming, varejo/alimentação vs “super aplicativos”, tudo isso tem se intensificado nos últimos anos.

Por outro lado, todas as tecnologias citadas acima também ajudam as “empresas tradicionais” a se tornarem mais eficientes e criarem novos produtos. Vimos recentemente grandes bancos brasileiros anunciando PDVs antes inimagináveis. Mas isso é por problemas deles ou porque o mundo de fintechs os tornou mais rápidos e eficientes e permite que tenham menos agências e funções sobrepostas? Parece-me razoável acreditar que a segunda opção faça muito sentido. Operadoras de telecom criaram seus aplicativos nos últimos anos, com o objetivo de trazer mais facilidades a seus usuários. Por outro lado, a redução de chamados para suas centrais de atendimento deu a elas um ganho operacional enorme. Exemplos assim existem em vários setores e serão cada vez mais comuns.

No fim do dia, no entanto, a competição sempre existirá e nos forçará a ser mais criativos e eficientes. Mas o que a sua empresa está fazendo (em processos, produtos/serviços, cultura) enquanto seus novos competidores ainda não precisam dar lucro? E como você está se preparando para todas as mudanças que ela precisa fazer?

Camilla Lapa Hala

Executive Search • Head Hunter • Mentoria de Carreira • Marca Empregadora • Diversidade & Inclusão

5 a

Interessante. Parabéns pelo artigo.

Excelente reflexão, especialmente impactante no mercado de serviços B2C, que exigem menor capital empregado, já na outra ponta, no mercado de produtos B2B de capital intensivo, a fusão de produtos e serviços em uma solução única , é a maior proteção contra novos entrantes.

Humberto Cagno

General Manager na AInnovation Tecnologia

5 a

Caro Rodrigo, Seu artigo reflete fielmente o mundo em que estamos vivendo hoje. Eu acrescentaria que também implica nos clientes assumirem riscos maiores quando apostam em soluções ainda não totalmente maduras principalmente para os seus processos "core". Será que os executivos estão adaptados ao esses níveis de risco crescentes? No fundo vale uma verdade antiga: a mudança é constante, só está acelerando o passo com o passar do tempo! Grande abraço

As empresas citadas normalmente estão atrás de grandes números e crescimento exponencial. A  saída que adoto é evitar a arena grande e sangrenta e escolher uma outra, mais complexa, onde você saiba manobrar como ninguém e tamanho não seja documento.

Rodrigo Byrro de fato o mundo se transforma de maneira rápida e exige uma atitude de constante atenção, inquietude e flexibilidade. Esta "nova" lógica de investimentos, escala global, crescimento acelerado, clientes únicos (não mais mass market) requer a revisão constante das competências instaladas nas organizações e o mapeamento contínuo do capital humano (dentro ou fora dos limites da empresa e segmento) necessário para o que está por vir. Challenging times! 

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