...”E SE NÃO AGORA, QUANDO?”

O líder Hillel nasceu no ano 110 BC, e suas perguntas filosóficas soam excelentes para nosso tempo:

“Se eu não for por mim, quem será por mim? E se eu for somente por mim, quem sou eu? E se não agora, quando?” Para hoje, quero refletir sobre as urgentes aplicações desse tema, no pós quarentena imediato.

...” E se não agora, quando?

1-    Global versus Local e Individual, paradoxo na pandemia, a globalização causa danos em velocidade desproporcional às soluções, mesmo com a orquestração de instituições universais. Ao mesmo tempo em que temos que ser 100% responsáveis pela poluição que causamos, o lixo que descartamos, o entorno que destruimos, de alguma forma devemos estar atentos às economias internacionais que alimentamos com hábitos de consumo. Por exemplo, ficamos dependentes da importação de incontáveis produtos básicos (luvas, máscaras), que poderiam ser facilmente fabricados localmente. Mesmo insumos mais sofisticados como reagentes, testes, respiradores, com o devido investimento e priorização, a auto-suficiência é viável. Embora benvinda a parceria global, plataformas de desenvolvimento abertas, alta tecnologia compartilhada, agora é hora dos líderes locais públicos e privados tomarem a responsabilidade. Priorizar a proteção da vida, em detrimento ao que é mais lucrativo.

2-    Brasil desigual: o Covid-19 entrou no Brasil pela classe média alta e como somos uma sociedade “unida”, já permeou toda a terrível pirâmide da desigualdade nacional. Será que agora que os entregadores, empregados domésticos, cuidadores, e todos os profissionais informais que performam invisíveis nosso cotidiano aparecem de repente em sua humanidade? Já passou muito da hora de incluir. Aliado ao Covid-19, faz estrago de grande impacto a nossa má distribuição de oportunidades, educação e consequentemente renda. Está mais fácil entender que somos uma comunidade única, vulnerável aos maus tratos ao meio ambiente, iguais na nossa arquitetura humana onde para um RNA viral, cor, gênero, religião, ideologia, formação, conta bancária são totalmente irrelevantes. Urgente incluir!   

3-    Menção especial para os Profissionais de Saúde, linha de frente: o que houve conosco? como chegamos nessa situação de trabalhar em más condições, arriscando a própria vida sem auto-cuidado? a compaixão da sociedade, palmas, reconhecimento, bate panelas na janela são gestos que emocionam. E que ações tomaremos no final desse túnel? O SUS destaca-se como modêlo de sistema de saúde entre os países mais afetados, vide o caos Americano e outros. SUS é teoricamente inclusivo, desenho ótimo e... falta recheio (infra-estrutura, gestão, recursos, eficiência). Entendo o amor ao SUS. Com as vultosas manifestações públicas e privadas de doação repentina nesta pandemia, esta é a hora, a oportunidade de parar com o mais ou menos e o SUS definitivamente performar como manda sua própria bem escrita cartilha. Responsabilidade de todos!

4-    Tecnologia-Padrões-Customização-Competência: Para tratar Covid-19, os protocolos lineares são desafiados e a customização absoluta é necessária. A pandemia nos mostra que, enquanto a tecnologia de ponta, assim como a renda e educação, não permeiam todas as camadas da sociedade, a única coisa que dará conforto ao se chegar no pronto socorro com Covid-19 será encontrar profissionais de saúde bem cuidados, alertas, bem formados e treinados para customizar meu “caso”num algoritmo que ele discutirá comigo antes de me mandar para a casa ou para a internação. Se não agora, quando vamos valorizar a formação e qualidade do trabalho de profissionais da saúde?

5-   O planeta se desintoxica: vimos que estávamos viajando, consumindo, descartando, lucrando demais. Urgente valorizar as pessoas ao redor, os recursos disponíveis, repartir os excessos, respirar e deixar respirar. E você? Se não agora... quando, ... o que?             

Maria Angela Loguercio Bouskela – Médica, MSc, MBA