E se a Terra for um Planeta Prisão? - Arthur Schopenhauer - Sobre o Sofrimento do Mundo - Ensaio sobre as Mazelas da Existência

E se a Terra for um Planeta Prisão? - Arthur Schopenhauer - Sobre o Sofrimento do Mundo - Ensaio sobre as Mazelas da Existência

E se este mundo for na verdade uma prisão gigante? Quando o filósofo do século XIX Arthur Schopenhauer observou a quantidade de dor que experimentamos durante nossas vidas ele concluiu que não é felicidade e prazer que buscamos, mas sim uma redução do sofrimento contínuo que é uma parte inerente da existência.

Quando comparamos este mundo com a prisão, mais especificamente uma penitenciária, olhando pelas lentes sombrias da filosofia de Schopenhauer veremos que a semelhança são surpreendentes.

Então como acontece com a prisão ninguém em geral escolhe estar aqui, não podemos sair até que a nossa pena termine ou quando nos acabamos, estamos limitados pelas paredes do sempre fugaz momento presente e dentro dos limites de nossas limitações.

Geralmente experimentamos uma corrente constante de sofrimento, tragédia, preocupação e miséria. Passamos desesperadamente de um prazer a outro apenas para experimentar um alívio temporário da dor.

No processo os organismos que habitam a Terra movidos pelo que Schopenhauer chamou de "vontade de viver" alimentam-se uns dos outros na tentativa de sobreviver apenas para que possam prolongar um pouco mais suas vidas miseráveis.

Como gangues de prisioneiros as espécies do mundo estão envolvidas em uma guerra continua pelo domínio. Comer ou ser comido parece ser a ordem da natureza, quando observamos como as plantas assim como certos animais servem apenas de alimento para outros animais, que por sua vez sucumbem a presença destrutiva dos seres humanos, e a humanidade por sua vez enquanto explora seus próprios membros e drena seu habitat natural de recursos, é vítima em uma hora ou outra, de algum tipo de doença ou desastre.

A visão de mundo de Schopenhauer é de agonia desprovida da Graça Divina pois tem muito mais em comum com uma colônia penal do que com a criação de uma divindade benevolente.

Agora ver o mundo como uma prisão soa como uma receita para miséria pessoal, porque não adotar uma perspectiva mais positiva e esperançosa porque olhar para isso com tanto pessimismo? Bem a ideia de Schopenhauer vem com uma reviravolta dentro de sua visão de mundo pessimista, e aqui está o segredo que pode ser muito benéfico para a humanidade.

Baseado em seu ensaio sobre os sofrimentos do mundo este vídeo explora a visão pessimista de Schopenhauer sobre a vida e revela seu segredo.

Schopenhauer afirmou que ao contrário do que muitos pensam não prazer mas a dor é o elemento positivo da existência, ele argumentou que é o mal que faz sua existência ser sentida e é portanto positivo, mas por outro lado é negativo.

O estado de felicidade e contentamento nada mais é do que um desejo realizado, ou o fim de algum estado de dor, assim a experiência da dor é a fonte de nossos desejos e necessidades.

A fome por exemplo é um estado de desconforto que tem o poder de se tornar muito doloroso, o que nos leva a desejar o alimento, assim comer não é uma experiência positiva pois só é considerado prazeroso porque satisfaz um desejo derivado da dor, ou seja uma sensação de carência.

De acordo com o Schopenhauer a dor supera em muito o prazer neste mundo e o prazer que sentimos costuma ser menos prazeroso do que esperávamos ao passo que a dor é muito mais poderosa.

Schopenhauer não apenas chama a vida de decepção, mas também de trapaça. A vida em geral torna-se mais dolorosa quando envelhecemos, pois experimentamos tragédia após tragédia, enquanto nos tornamos cada vez mais propensos as doenças e a morte.

E mesmo que a vida se desenrole numa miriade de infortúnios, quando ainda somos jovens idealistas o mundo parece tão promissor, mas eventualmente nossas grandes esperanças se desgastam, e acabamos desapontados e infelizes pelas dificuldades que caíram sobre nós.

Nos deparamos com a insegurança, perda, traição, dor física e possivelmente até a mutilação, então percebemos que a vida não é só arco-íris e sol, e que felizes para sempre são poucos e distantes entre si.

E que a casa dos sonhos, a grande e gorda conta poupança ou o círculo social interessante não é consolo para dor imensurável que vem de estar preso nessa rocha desolada da destruição chamada Terra.

Na verdade a realização de tudo o que desejamos e a continua supressão do desejo por meio do prazer leva ao tédio, que é apenas outra forma de insatisfação, a visão de mundo de Schopenhauer não deixa espaço para otimismo, a vida é um fardo, o resultado de algum passo em falso, algum pecado do qual estamos pagando a pena.

Schopenhauer nos compara a cordeiros em um campo sob o olhar de um açougueiro, que decide quem será a próxima presa, impotente perante o nosso destino podemos apenas esperar aprisionados pela própria vida pelo momento em que o próximo infortúnio nos atingirá.

Alguns optam por escapar desse ciclo de miséria fazendo checkout antecipado (se suicidando). Outros continuam fazendo o que sempre fizeram que é consolar-se pelo engajamento no prazer e assim bebemos para esquecer as mágoas do passado e nos entregamos as distrações para não nos deixarmos consumir pela preocupação com os infortúnios que ainda virão.

Como prisioneiros deixamos de lado nossa penitência e a tornamos suportável no máximo minimizando a dor. Mesmo que pareça sombrio é essa a realidade que Schopenhauer quer que abracemos.

Se você quer uma bússola segura para guiá-lo pela vida e banir todas as dúvidas sobre a maneira correta de encara-la, não pode fazer melhor do que acostumar-se a considerar este mundo como uma penitenciária, uma espécie de colônia penal.

Na visão de Schopenhauer é a própria compreensão e aceitação da situação humana não importa com sombria seja que contém a chave para o mundo de uma vida mais compassiva.

Quando olhamos ao nosso redor vemos competição, falta de tolerância, e até ódio contra indivíduos e grupos, então a vida já sendo difícil suficiente não nos impede de torná-la ainda mais difícil um para o outro.

Nós nos tornamos fonte de miséria um dos outros em vez de apoio, somos implacáveis com as más ações de outras pessoas, odiamos nossos inimigos por nos infringir dor, somos excessivamente críticos com aqueles que cometem erros.

Mas essa animosidade não é equivocada se no final das contas o mesmo destino trágico no subjuga a todos? Estar vivo e ser humano é fazer parte de um mundo que está contra nós, e tem muito em comum com uma prisão, são as deficiências da humanidade a qual pertencemos cujas, uma e todas nós compartilhamos mesmo aquelas mesmas falhas com as quais agora ficamos tão indignados?

Simplesmente porque ainda não apareceram em nós mesmos são falhas que não estão na superfície, mas eles existem lá no fundo da nossa natureza e se algo chamar eles virão, e se mostrarão assim como agora os vemos em outros.

Se aceitarmos essa visão da vida e reconhecemos que todos compartilhamos as mesmas ansiedades, inseguranças, sofrimentos, dor física, e inquietação, porque fazemos parte da mesma existência miserável podemos regular nossa expectativa de acordo com acontecimentos que costumam ser vistos como ruins não são incomuns ou inesperados mas sim consequências lógicas de uma existência baseada no infortúnio.

Por exemplo quando as pessoas estão sendo rudes conosco podemos imaginar como a vida tem sido atormentadora para essas pessoas até agora e que sua grosseria é de se esperar e que não devemos levar isso para o lado pessoal eles são prisioneiros assim como nós, esperando a próxima surra dos guardas e eventualmente a sua execução.

Portanto a menos que tenham conseguido transcender o sofrimento que vem com a vida é compreensível que as pessoas nem sempre se comportam da melhor maneira possível.

Juntamente com aceitação Schopenhauer aponta que sua perspectiva pessimista criou uma oportunidade para compaixão, e este é o segredo compaixão é a capacidade de reunir simpatia e preocupação com sofrimentos ou infortúnios de outras pessoas levando em consideração a quantidade de infortúnios que a vida traz e o fato de que ninguém jamais escolheu estar aqui. Podemos dizer com segurança que a compaixão é a resposta para quem dela participa.

Além disso Schopenhauer pensou que devemos ter compaixão para com nossos semelhantes pois é tão essencial para o nosso bem-estar da compaixão flui a nossa vontade de ajudar uns aos outros a nossa capacidade de aceitar as imperfeições do outro a nossa inclinação para tornar mais suportável essa prisão coletiva porque escolhemos mudar a forma como nos vemos não como inimigos mas como Schopenhauer chamou, “companheiros(as) de sofrimento” ou “companheiros de cela”.

Isso pode soar estranho mas está de acordo com os fatos, coloca os outros sobre uma luz correta e nos lembra daquilo que é afinal a coisa mais necessária na vida, a tolerância, a paciência, a consideração e o amor ao próximo dos quais todos precisam e que portanto todo homem deve ao próximo.

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