E se todo dia fosse véspera de feriado...

Inusitado abordar a chegada de um feriado justamente na ressaca de uma quarta-feira de cinzas.

Ou não, visto a saudade do frescor de um Carnaval que está prestes a começar. A ansiedade, os planos de descanso, bloquinho e tudo mais que nos deixa distantes do escritório.

Esse enredo todos nós conhecemos, não precisa de escola de samba para contar. Mas por que ele se repete a cada feriado - ou final de semana? E a inércia para encarar o começo de um ciclo, seja a quarta-feira de cinzas - ou a chegada inevitável da segundas-feira, anunciada pelo terror à música do Fantástico?

Os feriados e a sua magia

Embora eu esteja realizado na minha profissão e, atualmente, goste do ambiente onde trabalho, não posso negar. Existe uma relação mágica com a proximidade dos feriados.

A desaceleração corporativa, o almoço tranquilo em um restaurante pouco habitado. O frio na barriga de quem vai desbravar e o olhar sereno de quem vai descansar ou curtir a família. Tudo isso são detalhes que coletei ao longo dos anos.

Existem datas com potencial para reações particulares. A euforia popular do carnaval (nossa maior expressão cultural), o senso de comunidade do Natal, as reflexões da Páscoa. Até mesmo o imediatismo das promessas do Ano Novo são notáveis.

Há ainda quem viva a vida nos feriados e finais de semana - e se torna, de segunda sexta, um zumbi de gravata e bem domesticado. Eu sei, já passei por isso.

No entanto, hoje eu não me culpo por aguardar os feriados prolongados. Eles são fundametais para reservar um tempo para olhar em volta, respirar e pensar. Inovação e crescimento exigem esse nível de clareza.

Raro, para ser especial

Certa vez, quando criança, eu aproveitei o final da semana na casa de um primo rico - com piscina e outros mimos. Chegada a segunda-feira, eu chorava para ir à escola. Queria retornar ao conforto da casa do meu primo, e deixar de lado a minha realidade e todas as minhas responsabilidades.

Hoje percebo que aquele final de semana foi especial por ser raro. Se a minha rotina fosse piscina + luxo, uma hora ou outra eu ficaria entediado e procuraria outras coisas para fazer - ou desafios, como diz o jargão corporativo.

Seja no exemplo acima, ou nos feriados que se repetem ao longo do ano, a labuta diária é que torna a véspera do feriado um momento esperado por todos.

Se todo dia fosse véspera de feriado, logo feriados não existiriam mais

Elementar meu caro, Watson! Mas essa é grande sacada, apesar do paradoxo. Vivemos de expectativa. Seu feriado pode ter sido monótono. Não viajou, assistiu novamente aquela série da Netflix, procrastinou os trabalhos da escola.

Mas você, e mais da metade da população ansiaram por aquele momento. Fizeram planos (tímidos ou não). E aí que mora a beleza da véspera de um feriado.

A melhor parte de uma viagem é o caminho, e não o destino.

Feliz Ano Novo

Se você pulou Carnaval no bloquinho ou se tornou um bicho preguiça no sofá, não importa. Como diz o bordão popular, o ano começa depois do Carnaval - embora já tenha se passado 64 dias de 2019.

Eu não sou nenhum guru motivacional para te ensinar como sair da inércia depois de um feriadão. Mas posso te garantir que a motivação deve partir de você, independentemente da sua condição.

A sua correria e, a maneira como você a encara e lidera suas expectativas, é que vai tornar a sua véspera de feriado algo especial e tão aguardado.

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Sobre o autor: Marido da Camila, pai de 4 filhos (de quatro patas), engenheiro e apaixonado pelo Carnaval de São Luiz do Paraitinga (dá um Google). Gostaria de desfrutar seus dias numa mansão com piscina, mas sabe que existem outras prioridades na vida e que o galo canta cedo todas as manhãs.