E tal da Faculdade de primeira linha?
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E tal da Faculdade de primeira linha?

O ano é 2010, estou no 8º período da faculdade de Direito e no estágio minha chefe pede ajuda para montar um anúncio de vagas para novos estagiários. Sem experiência no tema, recorro ao Google para ver alguns modelos e me inspirar, até que me deparo com o seguinte requisito: Apenas alunos de faculdade de 1ª linha.  

Lembro que na hora achei o requisito um absurdo, porque a essa altura da vida eu já acreditava que o que faz um bom aluno não é apenas a faculdade que ela cursa, mas, sobretudo, seu empenho e dedicação. Felizmente, minha chefe não achou prudente usar tal requisito no anúncio, mas lembro que este assunto rendeu uma boa discussão jurídica e moral sobre o tema.

O ano é 2020. Já tenho 09 anos de advocacia, e agora, num outro cenário, em busca de uma recolocação no mercado, me debruço diariamente sobre anúncios de vagas para advogado e eis que reencontro o bendito do requisito:  Apenas candidatos formados em universidades de 1ª linha!

Sinceramente, jamais pensei que tal requisito ainda fosse usado como uma excludente. Antes para vaga de estágio, agora para vaga de emprego.  Que decepção! E não porquê eu não cumpra o tal requisito (pois sim, eu fiz uma chamada faculdade de 1ª linha!), mas é porque  o considero excludente, perverso, e incompatível com o princípio constitucional da igualdade. 

Fico pensando no que seria faculdade de 1ª linha? Aquela mais cara? As públicas? Todas essas alternativas, creio eu! Mas por que excluir de vagas aqueles profissionais que não conseguiram ou não puderam cursar estas universidades?

Não é segredo que o  acesso à educação superior nas últimas décadas deu saltos magníficos e que por causa disso  tantas pessoas, principalmente as menos abastadas, puderam ascender por meio da educação, no entanto, com poucas universidades públicas, as particulares se transformaram em um negócio altamente lucrativo, dando espaço para o surgimento de cursos com valores acessíveis em todos as áreas do conhecimento.  E com tanta quantidade, começou-se a temer pela qualidade do ensino.

Por isso, de alguma forma, as empresas construíram a ideia de que estes estudantes, por pagarem menos, também saberiam menos, e que, portanto, não seriam dignos de ocupar os cargos em suas companhias. Aliás, não seriam dignos sequer, de fazer uma simples entrevista!

Que mito senhores, que mito! O mito não é achar que as universidades públicas ou as mais caras tem os melhores candidatos, o mito é achar que fora delas não existem profissionais excelentes, que mesmo pagando parcelinhas mais baratas nas universidade particulares, são competentes e altamente capacitados para o emprego.

Ao incluir como requisito a faculdade de 1ª linha, as empresas reproduzem um discurso que  prestigia um número pequeno de faculdades e sua camada social que teve acesso a elas,  como também consolida o discurso da exclusão, que comporta um número infinitamente maior de rejeitados, que sequer tiveram a chance de fazer uma simples entrevista. Ou seja, pessoas que foram impedidas de demonstrar suas verdadeiras competências.

Depois de 10 anos ainda acredito que o requisito da faculdade de 1ª linha para candidatura de vagas é perverso e mantém um ciclo social que não integra pessoas de origens acadêmicas e socais diferentes.

O nome da Instituição no diploma de um profissional não diz quase nada sobre o profissional que ele é. Este diploma poderá abrir portas, mas jamais será capaz de nos fazer o melhor dos profissionais, porque estes não se fazem nas academias, mas na vida real. E só dá para saber a vida profissional e as competências de alguém, ouvindo-o, dando-lhe uma chance, uma oportunidade que muitos acabam perdendo por causa de requisitos excludentes, como a tal da faculdade de 1ª linha.

No final, creio que quem perde ao não entrevistar um candidatado sem a faculdade de 1ª linha é a empresa que perdeu talvez a chance de conhecer o seu melhor funcionário. E quem ganha é o candidato que não atende ao requisito, porque se já na entrevista se inventam critérios excludentes que julgam o local que você estudou, optando por não ouvir  suas competências, logo se vê que ali é um ambiente que nunca vai perceber os valores que você possui para além do diploma que você apresentou.

Até a próxima!


Elizabeth Monteiro de Sousa

Sócia Monteiro de Sousa Adv / Família/Sucessões/cível/ contencioso

4 a

Perfeita colocação!

Jackelynne Laís de Melo Andrade Pereira

Agente de Qualidade Digital Personnalité no Itaú Unibanco. Atendimento ao cliente.

4 a

Execelente reflexão! São empresas contraditórias. Preconceituosas. Pois, dizem defender a ética, diversidade, e responsabilidade social, mas na prática agem de maneira diferentes.

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