Economia Não é um Quebra-Cabeças: Conceitos Gerais
Economia não é um quebra-cabeças, algo difícil de ser entendido. O que leva muita gente a pensar que economia é difícil de ser aprendida é a forma como ela é colocada para as pessoas em sala de aula, pela televisão, jornais, revistas e outros meios de comunicação. Normalmente, a economia é apresentada aos pedaços, por partes, desconectada da realidade e desconsiderada em sua complexidade.
Existe uma falsa ideia de que economia é uma ciência exata e que, para entendê-la, é necessário ser um profundo conhecedor de matemática. Isso não é verdade.
Pode-se dizer que existe um excesso de matematização da economia. Talvez porque muitos economistas, ou grupos de economistas, entendam que o rigor matemático seja necessário para criar e validar as teorias econômicas no campo científico.
Economia é uma ciência social construída através do tempo, tendo como objeto de estudo a ação e o comportamento do homem, a fim de garantir sua existência utilizando os recursos econômicos disponíveis em seu tempo e espaço, considerando os aspectos psicológicos, sociais e morais. A ciência econômica exerce uma influência complexa ao mesmo tempo em que sofre influência de outras ciências como a Psicologia, Matemática, Direito, Filosofia, Sociologia, Ciência Política, História, Geografia, Estatística, Antropologia.
Escassez
Para entender o conceito de escassez de recursos, faça as seguintes experiências:
A - Respire profundamente; encha seus pulmões de ar; abra suas narinas e respire mais e mais. Repita essa ação, indefinidamente, quantas vezes desejar. Depois, olhe a sua volta, faltou ar para você? Alguém reclamou que você usou muito ar, pediram algum dinheiro como pagamento?
B - Vá à praia; procure obter o melhor bronzeado; fique de manhã até o final da tarde, até a luz do sol desaparecer. Você usou a luz do sol para se bronzear, além de você, todas as pessoas que estavam a sua volta e milhões de outras no mundo inteiro também usaram. Faltou luz para você? E para as outras pessoas? Alguém apresentou alguma conta pelo uso da luz?
Veja, nos exemplos colocados, fica claro que necessitamos de ar e luz. São extremamente úteis e necessários, sem eles morreríamos, porém, podemos utilizá-los sem limitação e não pagamos nada por isso. Tais bens são abundantes e são chamados de bens livres. Agora, se todos os bens fossem livres, não haveria necessidade de se estudar economia.
A maioria dos bens de que necessitamos não são abundantes, ou seja, existe uma quantidade menor de bens em relação às necessidades das pessoas. Esses são escassos e, se são escassos, são chamados de bens econômicos. Os bens econômicos ou escassos são objetos de estudo da ciência econômica.
Microeconomia e Macroeconomia
A microeconomia tem por objetivo estudar as relações econômicas entre os indivíduos ou grupos de indivíduos de forma particularizada, específica e individualizada. Esse indivíduo pode ser uma empresa ou uma pessoa física. A relação econômica objetivada na microeconomia pode ser a quantidade comprada ou vendida de um produto específico em um mercado específico. No campo da microeconomia, estudamos a formação dos preços de todos os bens e os serviços produzidos e consumidos no sistema econômico. No sistema capitalista, os preços são responsáveis pela alocação do recurso escasso e pela determinação do que se produzir.
A macroeconomia, ao contrario, estuda os agregados econômicos, como eles são formados. Os principais agregados são: Produto Interno Bruto, o PIB, emprego e desemprego, renda nacional, demanda e oferta agregada, balanço de pagamentos e outros. O enfoque agregado mostra uma visão global do objeto de estudo. Por exemplo, quando estudamos a demanda agregada, não interessa entender como se comporta a demanda de carros, mas, sim, todas as demandas somadas (de carros, de sorvete, televisão e de inúmeros outros produtos e serviços da economia).
A divisão da ciência econômica entre macro e microeconomia não significa que a economia funciona de forma estanque, separada. As duas áreas são complementares e interdependentes. As ações implementadas na área da micro afetam a área da macro. Tomemos, como exemplo, as inovações tecnológicas ocorridas nas empresas no campo da microeconomia e que tenham, como efeito, o aumento de produtividade, que poderá afetar de forma positiva a oferta agregada e, portanto, criar condições para atender o crescimento da demanda agregada e promover o crescimento econômico. Um aumento da taxa de juro, campo de ação da macroeconomia, pode afetar os indivíduos, pessoas físicas ou empresas, reduzindo o consumo individual. Juros mais altos encarecem as compras a prazo para as famílias e o investimento empresarial.
Podemos dizer que a macroeconomia é a parte da ciência econômica que oferece as ferramentas de gestão do governo e a microeconomia fornece os mecanismos para a ação dos indivíduos e grupos de indivíduos, pessoas físicas e empresas.
Preço
Os excessos e as carências de oferta e demanda de um produto são os responsáveis pela formação de seu preço. Um excesso de oferta de tomates provoca uma queda de preços, enquanto que um excesso de demanda provoca um aumento de preços. A carência de oferta provoca um aumento de preço, enquanto que uma carência de demanda provoca uma queda de preços.
Para entender melhor os efeitos de excessos e carências na formação de preços, pense nos preços de produtos agrícolas. Nos períodos da safra, os preços são menores, enquanto que no período de entressafra os preços são maiores. O preço da laranja no período de maio/agosto (safra) é menor do que no período de novembro/dezembro (entressafra). No período da safra, as laranjas são mais doces e mais bonitas, são de melhor qualidade; na entressafra, as laranjas são feias, não tão doces, de qualidade inferior e, mesmo assim, são mais caras do que no período da safra.
Estruturas de Mercado
É uma situação de mercado considerada ideal para a sociedade. Nesse tipo de mercado, existe um grande número de pequenos compradores e de pequenos vendedores que inviabiliza distorções no processo de formação de preços. Cada participante é considerado um átomo, sem poder suficiente para interferir na formação dos preços. As hipóteses necessárias, além de grande número de vendedores e compradores para a existência de concorrência perfeita são:
- Produtos homogêneos e divisíveis: o termo homogêneo é o melhor para definir igualdade. Eles são absolutamente iguais, o que coloca todos os vendedores em condições iguais de competição. A divisibilidade facilita o processo de compra e venda. Farinha de trigo é divisível, pode-se vender cem gramas ou dez quilos. Já, um carro não pode ser vendido em partes (até poderia, mas o preço seria muito alto).
- Total transparência: significa total acessibilidade às informações de mercado para todos os participantes. Informações privilegiadas sobre produtos, consumidores, custos ou fonte de fornecimentos coloca quem as possuir em uma posição vantajosa sobre os demais participantes.
- Inexistência de barreiras à entrada de novos concorrentes: a existência de muitos vendedores, produtos homogêneos, total transparência e um nível de investimento muito pequeno (pequenos negócios) facilita a entrada de novos concorrentes.
- Ausência de capacidade para formar ou controlar preços: as empresas em concorrência perfeita são tomadoras de preços. Trata-se de mercado pulverizado com muitos participantes. O vendedor que atua nesse mercado não tem força suficiente para determinar preços e impor seu preço aos consumidores.
É o oposto da concorrência perfeita. Caracteriza-se pela existência de um único e grande vendedor, é o máximo de imperfeição de mercado. O monopolista, contrariamente à empresa que age em concorrência perfeita, tira do consumidor a possibilidade de escolha.
O monopólio discrimina preço, pode praticar preços diferentes para atender seu interesse. Esse poder pode ser prejudicial à sociedade. Para esclarecer melhor, imagine uma situação para o fornecimento de energia elétrica, essencial em nossos dias. A empresa monopolista poderia cobrar preços mais altos para os moradores de bairros pobres, distantes de sua base de fornecimento. Poderia, também, se recusar a fornecer energia para esses bairros, sem diminuir seu faturamento, apenas aumentando o preço para os outros consumidores. Exemplo de monopólios: SABESP, Eletropaulo (ENEL).
As principais características do monopólio são:
- Único e grande vendedor
- Muitos e pequenos compradores
- Produto único
- Controle total sobre os preços
- Todas as barreiras possíveis à entrada de novos concorrentes
- Nenhuma transparência
É uma estrutura de mercado análoga ao monopólio. A diferença é que sua ação se dá do lado da compra, ou seja, um único comprador para muitos e pequenos vendedores, todas as demais características são as do monopólio.
É a situação de mercado na qual existe um pequeno número de grandes vendedores/produtores que dominam a oferta de um determinado produto, enquanto que os compradores são muitos e pequenos. As hipóteses para a existência de oligopólios são:
- Semelhança de produtos
- Barreira de entrada de novos concorrentes
- Pouca transparência
- Um grande poder de formar e controlar preço
Exemplos de oligopólios: montadoras de veículos, empresas de telefonia móvel, empresas de aviação, empresas fabricantes de cervejas e refrigerantes. Os exemplos são válidos para o mercado brasileiro, mas podemos inferir que em outros países tais empresas sejam, também, monopolistas, por tratar-se de grandes empresas com ação mundial.
É uma estrutura análoga ao oligopólio, a diferença se dá pela ação de comprador, ou seja, poucos e grandes compradores para muitos e pequenos vendedores.
Exemplo de oligopsônio: montadoras.
É uma estrutura muito semelhante à concorrência perfeita na qual existe um grande número de vendedores e compradores. Os elementos que definem a concorrência monopolística são:
- Produto diferenciado
- Poucas barreiras à entrada de novos concorrentes
- Muita transparência
- Exerce algum controle sobre preços, devido à diferenciação de produtos
- Fideliza o cliente com uso de marca
A marca é um elemento muito importante no sistema capitalista, ela tira a homogeneidade do produto, que é algo essencial para a concorrência perfeita, e coloca seu produto como diferente dos outros substitutos existentes no mercado. Dessa forma, cria um vínculo de confiança, destacando o cliente por meio da criação de valor (valor é igual preço) entre seus consumidores, monopolizando-os.
Distribuição socialmente justa da renda
Do ponto de vista da ética e da moral, a distribuição da renda de um país é defendida pela maioria das pessoas. Em tese, todos defendem uma distribuição de renda justa. A teoria econômica deixa evidente que a distribuição de renda é uma medida racional e inteligente, que traz consigo muitos benefícios para a economia. Uma renda bem distribuída aumenta e diversifica a demanda agregada de um país, dando poder de compra para a maior parte das famílias. Se as famílias, como agente econômico, têm seu poder de compra aumentado e diversificado, elas vão contribuir para um aumento da produção de bens e serviços, igualmente diversificados.
Para melhor ilustrar a afirmação anterior, vamos imaginar um país composto por apenas dez pessoas com renda total de R$ 100,00 e com a seguinte distribuição de renda:
- Apenas uma única pessoa recebe a renda total de R$ 100,00 (não existe). Supondo que esta pessoa comesse somente chocolate (ou qualquer outro produto) e sua capacidade de comer chocolate até se fartar consumisse apenas R$ 20,00. A demanda agregada desse país seria somente de chocolate e, como consequência, só existiriam fábricas de chocolate. A concentração da renda nas mãos de uma pessoa deixou R$80,00 ociosos e produziu empregos somente na fábrica de chocolate, o que provavelmente reduziria a possibilidade de crescimento da economia, não se tornando uma economia dinâmica, mas, sim, atrasada e pobre.
- A renda seria distribuída de forma igualitária entre as pessoas, uma perfeita distribuição da renda (não existe). Supondo que cada uma das pessoas gostem de dez produtos diferentes e que gastariam toda sua renda na compra desses produtos, o resultado para a economia seria fantástico, pois a demanda agregada seria bastante diversificada e, em contrapartida, a produção seria também muito diversificada. O mais importante é a não existência de recursos ociosos na economia. Se a concentração fosse total como na primeira situação, R$80,00 estariam sem utilidade para o sistema econômico. Como podem ver, a distribuição de renda é mais do que um fator de justiça, sendo uma das formas mais inteligentes de promover o crescimento e principalmente o desenvolvimento econômico.
Impostos
Quem deve pagar mais impostos? Quem tem maior capacidade de pagamento ou quem recebe os benefícios dos gastos do governo?
Essa pergunta nos leva a uma reflexão importante: é justo uma pessoa da classe E, com renda familiar por volta de R$700,00, pagar pela manutenção de estradas ou pela construção de grandes avenidas para atender às necessidades de proprietários de veículos, se eles não têm carros? O mais correto seria que aqueles que recebem os benefícios dos serviços prestados pelo Estado pagassem impostos referentes ao uso.
Então, os cidadãos que usarem os serviços que os demais não usam deveriam pagar por esses serviços e não sobrecarregar aqueles que não recebem tais benefícios.
Isso significaria justiça tributária, um dos princípios mais importantes, o princípio dos benefícios, contido nas principais teorias de tributação.
Lembre-se de que, no Brasil, a maior parte da receita do governo tem origem na cobrança de impostos indiretos regressivos. Nesse sistema, os pobres pagam mais do que os ricos, mas na distribuição dessa receita os governos privilegiam as classes mais ricas.
Advogada | Consultora de Desenvolvimento de Negócios | Incorporação Imobiliária | Direito Imobiliário
4 aAdorei o texto ..... Didático, sucinto e esclarecedor! Parabéns Eduardo Gadens !
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