A educação é prioridade?
Será que a sociedade brasileira efetivamente acredita que a educação é uma
prioridade? O questionamento feito pelo professor e superintendente do Instituto Itaú,
Ricardo Henriques, no painel Desigualdade Social, Educação e Democracia, no Seminário
Novo Rumo*, esta semana, num debate com o economista Ricardo Paes de Barros e o
ex-ministro Cristovam Buarque, é forte e inquietante. A pergunta forte e em tom de
desânimo expressa um grito de alerta. O diagnóstico educacional é trágico e as
perspectivas efetivas de soluções apontam: para o Brasil virar a chave e não ficar para
trás na sociedade do conhecimento é preciso um pacto social pela educação.
Apesar dos avanços, nossa educação continua enredada numa agenda do século
passado. Ainda não resolvemos creche para todos, mais de 50% das crianças concluem o
terceiro ano do fundamental com alfabetização inadequada - no Nordeste atinge o
vergonhoso patamar de 70%. Destaco, ainda, a reflexão de Cristovam Buarque sobre o
“analfabetismo contemporâneo” gerado pela brecha entre o que a escola ensina e o que
as pessoas precisam saber numa sociedade disruptiva, que vive uma transformação
radical no mundo do trabalho. Não basta saber ler e escrever.
Enquanto isso, países que pactuaram pela educação como vetor de desenvolvimento,
navegam em pautas da sociedade do conhecimento, incluindo seus jovens como
protagonistas da quarta revolução industrial. O Brasil não conseguiu pactuar
minimamente uma agenda social, especialmente da educação. Minha geração conviveu
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por décadas com a inflação que puniu os brasileiros, principalmente os mais pobres.
Vencemos a guerra da inflação com o Real, um plano econômico revolucionário. A
educação precisa de um “plano real”. Diferente da inflação, que dependia de política de
governo, a educação depende do conjunto da sociedade, independente de coloração
partidária e de visão de mundo.
A defesa de um pacto social pela educação não é nova. Diante da velocidade com que
outros países caminham, em contraponto ao nosso ritmo, essa pactuação da sociedade
brasileira está atrasada. Contrariando Nelson Rodrigues, é uma unanimidade sábia, que
o pacto social pela educação é para hoje! O professor Ricardo Henriques destacou que
na Educação o Brasil está longe da fronteira com outros países. Como a fronteira se move em velocidade maior do que a nossa, o fosso tende a se abrir.
“Se a educação não se transformar numa prioridade, estaremos assinando o
passaporte para estar fora da primeira liga mundial”, alertou, ao defender um acordo
social focado num projeto de educação pública de qualidade para todos de excelência
com equidade. Insisto nesse ponto. A educação só dará um salto de qualidade for agenda
prioritária do país, dividindo em pé de igualdade espaço com a economia e a política.
• O Seminário Novo Rumo foi promovido pelos institutos e fundações partidárias do Democratas, MDB, PSDB e Cidadania para debater temas de interesse do Brasil e está disponível no Youtube. Novo Rumo Brasil
Mendonça Filho é ex-ministro da Educação e consultor da Fundação Lemann.
* Artigo publicado no Jornal do Commercio /PE. Será que a sociedade efetivamente acredita que a educação é prioridade?