Educação Inclusiva vs. Educação Integrativa: Identidade e Diferença
Em 2023, de acordo com dados do Ministério da Saúde e da universidade americana de Stanford, entre 10% e 20% da população global é formada por neurodivergentes. No Brasil, esse número é de, aproximadamente, 2 milhões de pessoas. Esses dados expressam a urgência quanto à nossa adaptação em relação às novas demandas personalizadas de compreensão, construção e relacionamentos tanto no mundo dos negócios, nas relações sociais e no ambiente escolar.
A educação é um direito de todos, mas a equidade do acesso à educação é fruto da desigualdade social e varia de forma significativa entre os indivíduos. Esse artigo lança luz à diferenciação dos conceitos de educação inclusiva e integrativa, principalmente para que avencemos em práticas que atendam às necessidades de todos os alunos.
A educação inclusiva visa um ambiente em que todos os alunos, independentemente de suas habilidades ou condições, participem ativamente do processo educativo, tendo as suas necessidades particulares atendidas de maneira adequada. Ou seja, ela vai muito além da presença física de alunos com deficiência ou PCDs em salas de aula. Com esse intuito, é fundamental a adaptação de currículos, metodologias e avaliações, mirando no aprendizado colaborativo.
Recentemente, tive contato com o projeto ‘Ecossistema Humanitas’ do CEPRA – Centro Educacional Professor Reinaldo Anderlini, em Botucatu (SP). Esse conjunto de ações pedagógicas voltadas para assistir de forma mais assertiva os 70 alunos de inclusão da escola conta com suporte 360º para os alunos: do currículo flexível, assando pelo acompanhamento de equipe multidisciplinar, laudos médicos, PEI, até as salas de aulas e material didático adaptados. Essa escola demonstra que a inclusão não é só uma política, mas uma prática responsável pela transformação da vida da sua comunidade escolar.
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Infelizmente, a educação inclusiva ainda é incipiente. Como diz Maria Theresa Eglér Moantoan (2003): “... a inclusão é produto de uma educação plural, democrática e transgressora. Ela provoca uma crise escolar, ou melhor, uma crise de identidade institucional, que, por sua vez, abala a identidade dos professores e faz com que seja ressignificada a identidade do aluno. O aluno da escola inclusiva é outro sujeito, que não tem uma identidade fixada em modelos ideais, permanentes, essenciais”.
Antecessora à inclusão, a educação integrativa refere-se à inserção de alunos com necessidades especiais em classes regulares, mas com menos profundidade em relação à adaptação curricular. É como se, no que diz respeito às políticas e práticas educacionais, o modelo integrativo é baseado na “normalização”, negando a questão da diferença, mas admitindo exceções. Essa prática resulta em um ambiente onde os alunos não se sentem incluídos, mas integrados fisicamente, já que não recebem o suporte necessário para um aprendizado efetivo.
Muitas instituições brasileiras, como algumas escolas de educação básica que adotam o modelo de salas de recursos, oferecem apoio pedagógico aos alunos com necessidades especiais, mas ainda assim os mantém separados dos demais alunos, o que limita o desenvolvimento de habilidades sociais e emocionais indispensáveis para se conviver em sociedade.
Apesar das claras distinções entre educação inclusiva e integrativa, isso ainda gera uma confusão tanto para educadores quanto para responsáveis, que muitas vezes acreditam que a mera presença de alunos com deficiência em sala de aula já é suficiente para garantir uma educação de qualidade.
Por que as instituições de ensino brasileiras tendem a ser mais integrativas do que inclusivas? É preciso refletir sobre as barreiras culturais, estruturais e de formação que perpetuam essa abordagem. A falta de formação específica para docentes, a escassez de recursos pedagógicos e tecnológicos, a má gestão de recursos financeiros, o desconhecimento sobre as reais necessidades dos discentes e responsáveis são fatores que contribuem no fortalecimento dessa realidade.
Após nove anos da Lei Brasileira de Inclusão (LBI) nº 13.146/2015, também chamada de Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei nº 13.146/2015), a sociedade está diante de uma comunidade escolar que desconhece verdadeiramente a inclusão. É preciso cobrar que as instituições de ensino não apenas recebam, mas acolham, valorizem e cresçam com essa diversidade. É preciso adequar à realidade de que a educação inclusiva não é, único e simplesmente, um fator gerador de custos, mas de investimento na própria sociedade.
Jornalista, Gestão de MKT Digital e Produção Executiva
2 mInteressante. Parabéns pela escolha do tema.