Educação para a mobilização

Educação para a mobilização

Os ecos das ocupações em São Paulo certamente serão ouvidos ainda por muito tempo. Na verdade, tenho utilizado a palavra libertação.

Grandes movimentos e transformações não começam com um grande número de pessoas, e o espírito guerreiro de alguns foi capaz de gerar o quase inimaginável em um processo de rede orgânico, organizado e fundado nos sentimentos de justiça e solidariedade.

Para mim, um dos muitos ganhos dessa revolução pacífica ainda virá em um âmbito mais privado, porém não menos significativo: a sala de aula.

Ficam as perguntas aos educadores: como começar 2016 pensando em ensinar Matemática, Biologia, Química, Geografia, etc., da mesma forma, considerando que a escola ganhou para alunos e comunidade um novo significado político e social? Como aproveitar de forma plena esse momento para mudar também a forma de ensinar e se relacionar com os estudantes? Enfim, como resignificar a escola do ponto de vista de participação, ensino e aprendizagem?

Vejo que muitas das lições que aprendi graças às “libertações” podem servir de inspiração para uma nova prática em 2016, pois são, de alguma forma, trazem consigo valores a serem cultivados no trabalho da sala de aula e da escola como um todo. Entre elas, compartilho três:

  • Contexto e reconhecimento: as alterações propostas na rede afetam diretamente milhares de alunos, professores, gestores e famílias. O reconhecimento dessa situação como insustentável dentro de um contexto social e político garantiram o envolvimento de muitos. Ou seja, a reação desejada só acontece verdadeiramente se faz sentido para a maioria, ou seja, se há contexto.
  • Comunicação e mobilização: a formação de uma rede organizada e mobilizada se sustenta na boa comunicação e na coerência entre os atores envolvidos. O diálogo consistente reforça crenças, mobiliza e reforça consensos e contextos.
  • Participação e perseverança: insistir naquilo que acreditamos ser correto e bom para a maioria, mesmo com todas as barreiras e resistências. A perseverança só é possível se ambos os itens anteriores estiverem verdadeiramente presentes.

A oportunidade de fazer diferente bate à porta e as mudanças possíveis não devem recair unicamente sobre os educadores. É fundamental que todo apoio recebido pelos alunos durante as “libertações” continue e se estabeleça dentro de um formato de parcerias. Para isso, é importante que os gestores escolares e públicos reconheçam a importância desse momento histórico de renascimento e que colaborem com o florescimento de um novo processo educacional, com mais contexto, mais comunicação, mais participação e, acima de tudo, perseverança.

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