Educação patrimonial: resguardando o passado para construir um futuro sustentável

Por Renata Chagas *

Em uma nação de tamanha diversidade cultural como a nossa, é fundamental tratar o tema da salvaguarda do patrimônio com grande responsabilidade. Não somente do ponto de vista material, mas também no âmbito imaterial, a valorização de saberes e tradições locais contribui para a construção de um legado precioso.

Para se ter ideia, somos o país da América do Sul com o maior número de Patrimônios Mundiais reconhecidos pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO). O Patrimônio Cultural Brasileiro é rico e nos permite viajar no tempo para revisitar o passado, estabelecendo conexões que orientam a maneira como projetamos o futuro das próximas gerações.

Primordial para a transformação social, a educação deve ser uma aliada do compromisso de conservação e preservação da nossa história. E para tal, é necessário incorporarmos ao processo de salvaguarda de bens de natureza material e imaterial a difusão de conhecimentos que resgatam a memória local, fortalecem os laços comunitários e incentivam a reflexão acerca da importância da valorização do Patrimônio Cultural Brasileiro.

Com o investimento social privado (ISP), empresas, institutos e fundações podem colaborar diretamente com essa frente, especialmente no cenário em que 71% das organizações que destinam recursos a iniciativas de impacto por meio do ISP tratam a educação como uma área de atuação. Além disso, segundo dados do Benchmarking do Investimento Social Corporativo (BISC), a temática ocupa a segunda posição na lista de assuntos que mais recebem aportes financeiros.

Em meio a um mês marcado por datas simbólicas como o Dia das Crianças e o Dia do Professor, é imperativo refletirmos sobre a necessidade da inserção da educação patrimonial nos fluxos de troca de conhecimento das instituições de ensino. E como nós, do setor privado ou terceiro setor, podemos construir parcerias com atores locais para apoiar o desenvolvimento dessas iniciativas de forma colaborativa e com uma respeitosa escuta ativa.

As escolas são espaços importantes para a socialização e aprendizagem dos mais jovens e podem integrar atividades educativas sobre a salvaguarda do Patrimônio Cultural Brasileiro para contribuir com a formação cidadã das crianças e adolescentes. Ao conscientizar a nova geração acerca da importância da conservação e preservação dos saberes e tradições de suas comunidades, assim como dos equipamentos culturais de seus territórios, desfrutaremos de uma realidade em que os adultos do futuro serão verdadeiros guardiões da nossa história.

É o que nós, do Instituto Neoenergia, vislumbramos com o Programa de Iluminação Cultural. A iniciativa apoia a salvaguarda de edificações e monumentos emblemáticos do país por meio da instalação de um novo projeto luminotécnico ecoeficiente, mas também com práticas de pesquisa, intervenções culturais e atividades educativas dirigidas a estudantes de instituições da rede pública de ensino dos municípios contemplados.

Neste ano, estamos atuando em prol da conservação e preservação do Convento Nossa Senhora da Conceição de Itanhaém, em São Paulo. Em parceria com a prefeitura do município e a Diocese de Santos, estamos promovendo uma ação de educação patrimonial para cerca de 300 estudantes das escolas da região. As oficinas são conduzidas por arte-educadores locais e acompanhadas por professores, garantindo o protagonismo da comunidade na produção do conhecimento. 

Encerro com um trecho do livro Educação e Mudança, de Paulo Freire, que sintetiza muito bem as reflexões trazidas ao longo deste texto quanto ao papel da educação no âmbito da salvaguarda do Patrimônio Cultural Brasileiro:

“Todo amanhã se cria num ontem, através de um hoje. De modo que o nosso futuro baseia-se no passado e se corporifica no presente”.

Resguardando o passado, construiremos um futuro mais sustentável.

Iluminando saberes, fortaleceremos raízes.

* Renata Chagas é jornalista de formação e passou por empresas multinacionais como Airbus e Prudential. Ingressou na Iberdrola Brasil em 2005, atuando inicialmente na área de comunicação e depois migrando para a sustentabilidade. Participou da criação do Instituto Iberdrola Brasil, gerindo os projetos sociais da companhia. Em 2018, após a Iberdrola assumir o controle da Neoenergia, liderou a transformação do Instituto Iberdrola Brasil em Instituto Neoenergia, onde atualmente é diretora-presidente.

Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do GIFE e de seus associados.