Educador na Sociedade

Educador na Sociedade

EDUCAR é um desafio. Não existe o "instinto". Este já foi extinto há tempos ao decidirmos que trabalhar é muito importante. Terceirizamos cada vez mais a criação de um ser humano. Explicar para as crianças como se comportar socialmente em um mundo regido por diversas regrinhas sociais (que às vezes nem fazem sentido) é um trabalho contínuo e árduo. Você terá que falar muitas vezes o mesmo assunto até a criança começar compreender. Por isso que muitos escolhem não ser mãe ou pai. Pensando, apenas nesse pequeno recorte, surge a questão:

POR QUE NÃO HÁ VALORIZAÇÃO DO TRABALHO DE UM EDUCADOR NA SOCIEDADE ATUAL?

Por que este profissional, principalmente do ensino Infantil, não recebe o prestígio e a importância devida?

Nem todo mundo nessa vida vai passar pela formação de um coach, mas quase todas as pessoas do mundo passa por um educador e mesmo assim, a valorização desse profissional, principalmente financeira, é ignorada.

Eu já presenciei comentários do tipo "Eu estou estudando para não virar professor de ensino básico" em tom bem pejorativo. O ensino básico é considerado de extrema importância pela nossa sociedade, mas ela mesma não valoriza os profissionais desta área.

Ser educador não é simples. Se aprofunda em filosofias e psicologias de como realizar o seu trabalho de forma humana assertiva, através de teorias de aprendizagem e mesmo assim não há desafios, pois cada pessoa é única. Respeitar a individualidade em uma sala com mais de vinte indivíduos que ainda não possuem maturidade e estão aprendendo a lidar com os sentimentos é um desafio talvez maior que orientar um colaborador de mais de trinta anos da sua equipe não atrasar para reunião. Além disso, educação básica é direito de qualquer ser humano, assim como a saúde é. Mas ainda achamos que médicos são mais importantes do que educadores. Por quê?

Muitos acreditam que ter uma formação é importante e estarão dispostos a pagar altas mensalidades para formação superior (ou até para personal trainer), mas não possui o mesmo pensamento quando falamos de educação básica ou em educadores especialistas. Por quê? Creio que esses tipos de questionamentos devem ser levantados com frequência.

A remuneração do educador comprova nossa falta de consideração com estes profissionais. Hoje a média salarial em São Paulo, para educadores de educação fundamental I, é de R$ 2.500,00, enquanto para um analista contábil (que possui estabilidade e benefícios no mundo corporativo) é de R$ 3.345,00 (fonte: Vagas.com). Vejam, a comparação realizada por mim não é sobre baixar o valor de outros profissionais, mas questiono justamente a falta de valorização do educador. Por que um analista financeiro júnior vale mais que um educador? Quem definiu esse valor? Por que lidar com crianças e adolescentes possui menos prestígio que falar de economia com adultos? Esse juízo de valor, a meu ver, deve ser questionado. Não imaginamos nossa vida sem a educação básica, mas mesmo assim, desvalorizamos os educadores. Controverso, não acham?

Educadores que passam horas com 35 estudantes dentro da sala estão exaustos. Na grande maioria das vezes sozinhos, não possuem um auxiliar se quer na sala de aula ou um suporte de coordenação. Quantas vezes ouvi amigos do corporativo falando que tem um estagiário ou uma equipe de cinco pessoas adultas. Mas os educadores precisam dar conta de tudo sozinhos: estudar, acompanhar e analisar a aprendizagem de cada aluno, preparar aula, corrigir trabalhos e avaliações, montar a escola para mostras… isso é humanamente impossível. Não há saúde mental que consiga realizar um bom trabalho e ser uma pessoa saudável.

Outro fator que eu acredito que precariza o educador é como nosso modelo de avaliação e educação básica é antiquado. A grande maioria das escolas ensinam como ensinavam para nossos bisavós. Evoluímos tanto quanto a tecnologia e até como trabalhamos, mas a forma que ensinamos pouco avançamos. O modelo de carteiras, as avaliações e os vestibulares não deveriam mais caber em nossa sociedade, pelo menos não sendo a única forma. É como se a educação, sempre que interessada em avançar, é barrada por um grande fantasma burocrático e muito conservador. Algumas escolas até tentam se distanciar deste dogma, mas no fim, todos querem que os filhos sejam aprovados nas melhores faculdades e a forma de admissão ainda é arcaico, portanto, o treino para o vestibular é tão arcaico quanto. Infelizmente, se nós como sociedade não nos organizarmos demandando uma nova forma de educação, não tem como mudar. Afinal de contas, muitos pais e responsáveis acreditam que um ser humano, principalmente durante a adolescência, deve-se ser educado para ser uma boa mão de obra qualificada. Uma ferramenta para uma grande empresa. Eu acredito que deveríamos auxiliá-los em vivências socais, ou seja, como viver em sociedade, entender cidadania e empatia. O indivíduo deveria ser levado em consideração, com toda certeza, porém a verdade é que a humanidade só existe porque vivemos em sociedade.

Então eu te pergunto: PARA QUE SERVE UM EDUCADOR? QUANTO ELE VALE PARA VOCÊ?

E acho que podemos fechar com uma pergunta sobre o futuro do coletivo: COMO VOCÊ IMAGINA A EDUCAÇÃO DAQUI A 10 ANOS?

Questionamentos como esse, que beiram a filosofia, deveriam ser cada vez mais incentivados para a manutenção sadia de uma vida em sociedade.

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